Mandachuva da seleção italiana diz que Milan não digeriu derrota para o São Paulo

José Ricardo Leite

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • José Ricardo Leite/UOL

    Demetrio Albertini, vice-campeão em 94 com a Itália e hoje cartola da federação

    Demetrio Albertini, vice-campeão em 94 com a Itália e hoje cartola da federação

Enquanto os jogadores usam as tradicionais roupas azuis nos treinamentos, ele usa trajes escuros, na maioria das vezes terno preto e sapato de couro. Apenas observa Balotelli, Buffon, Pirlo e demais da esquadra treinarem enquanto dá as ordens do lado de fora.

A foto oficial da equipe para a Copa das Confederações não poderia não tê-lo. Atrasa um pouco, mas logo chega Demetrio Albertini para se posicionar bem no centro no "ponto negro" cercado pelos azuis da seleção.

O ex-jogador do Milan e da seleção italiana nas Copas do Mundo de 1994 e 1998 é o verdadeiro mandachuva da delegação que está no Brasil para a disputa da Copa das Confederações.

É um incomum caso de ex-jogador que conseguiu ocupar cargo de alto escalação em uma entidade nacional esportiva dentro do futebol. Atua como vice presidente de FIGC (Confederação Italiana de Futebol).

Pouco depois de encerrar a carreira no Barcelona em 2005, foi para o lado cartola ao fazer parte do sindicato de jogadores italianos.

Um ano depois, foi convidado para fazer parte da federação italiana como uma maneira de a entidade ter um elo de ligação com a classe que entra em campo. O ex-meia não se aprofunda no porquê desejar ser cartola, apenas usa a vontade de tentar melhoras em sua ex-profissão. E afirma que agora o desgaste é bem maior.

"É uma trajetória diferente, uma caminho um pouco mais complicado. É preciso muita paciência para executar esse trabalho, que é bem diferente. Primeiro você tem que aprender a lidar com os cartolas veteranos e depois a se relacionar com os jogadores veteranos. Tem que entender a carreira de cada um", falou, em entrevista ao UOL Esporte.

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    Albertini, vice-presidente da Federação Italiana de Futebol, com tradicionais trajes negros

Apesar de entre suas funções estar também fazer um meio-campo entre atletas e dirigentes, diz que jamais interfere em qualquer decisão ou atitude da comissão técnica.

"Quem tem que fazer esse tipo de trabalho mais próximo é a comissão técnica. Minha função é ser dirigente. Tenho que consertar coisas e fazer o trabalho andar para que os jogadores tenham as melhores condições a seu dispor em uma competição como essa."

Albertini esteve presente, e perdeu, históricos embates em entre brasileiros e italianos no futebol internacional. Fez parte da seleção italiana que foi vice-campeã do mundo em 1994 ao perder para o Brasil, nos pênaltis.

O cartola foi até um dos jogadores escalados para cobrar as penalidades. Cobrou e converteu. Relembra os momentos de tensão e a tristeza da derrota.

"Foram duas situações: antes e depois (do pênalti). Antes, era meu primeiro pênalti por uma competição oficial pela seleção, com apenas 22 anos. Mas eu estava muito tranquilo. E depois, anotando o pênalti, saiu toda aquela tensão", falou. "Final é sempre dolorido. Quem vive do esporte, sabe como dói uma derrota", continuou.

Mas a decisão que Albertini demonstra mais resignação é na final do Mundial Interclubes de 1993. Seu Milan tinha status de o maior time da época. Faturou três Ligas dos Campeões na década de 90, uma delas com goleada de 4 a 0 sobre o Barcelona de Romário na final.

A equipe rubro-negra de 93 era a base da seleção italiana que jogou a Copa do Mundo de 1994 e tinha estrangeiros de renome, como os franceses Desailly e Papin e o sérvio Savicevic.

Só que o badalado Milan perdeu para o São Paulo de Telê Santana por 3 a 2 em um dos mais memoráveis jogos entre sul-americanos e europeus pelo torneio intercontinental. Questionado se tem recordações desse jogo, Albertini respondeu de imediato. "Não, não. Não me recordo de nada. Não quero me lembrar disso", brincou. "Mas eram duas grandes equipes, dois timaços", continuou.

O ex-jogador do Milan se recorda de que seu time sempre controlava o jogo e levava poucos gols, o que fez com que o os atletas ficassem perplexos com o fato de terem levado três gols.

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    Albertini marca Romário na final da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos

"Nós chegamos para aquele jogo no melhor da forma física. Fizemos um jogo só contra uma equipe muito boa e aí você conta um pouco com a sorte ou azar. Era uma final, e tudo poderia acontecer", falou.

"Foi um jogaço, 3 a 2, e marcar aquele time do Milan era muito complicado. E ainda assim levamos três gols. Aquilo tudo saiu muito estranho para nós depois da partida" contou.

Ao explicar que a derrota não foi digerida, Albertini foi enfático ao ressaltar que em nenhum momento faltou foco ou concentração do time para a final. Afirma que os europeus levam mais em conta considerar a Liga dos Campeões do que o Mundial, mas que levantar a taça no Japão seria uma "cereja no bolo" que não conseguiram.

"Para nós a competição mais importante é a Champions League. Mas sempre tivemos em mente que o caminho de uma equipe termina com essa partida no Japão ou em Abu Dabi, como foi em outras oportunidades. E ganhar esse jogo é sim muito importante para nós", finalizou.

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