Emigrantes enfim emplacam na seleção, mas ainda sofrem preconceito

Gustavo Franceschini

Do UOL, em Brasília

  • Wander Roberto/VIPCOMM

    Hulk em ação contra a Inglaterra; desconhecido no Brasil, atacante é titular, mas sofre com críticas

    Hulk em ação contra a Inglaterra; desconhecido no Brasil, atacante é titular, mas sofre com críticas

Pela primeira vez, um número expressivo de atletas que passou a maior parte de sua formação profissional fora do país está com espaço na seleção brasileira em uma competição importante. Jogadores como David Luiz, Luiz Gustavo e Hulk ganharam a confiança da comissão técnica e têm espaço no time, mas ainda sofrem para convencer os críticos que não os acompanharam em um grande clube do país.

Além dos três, Daniel Alves, Dante e Filipe Luís também vivem a mesma situação. Os seis saíram do país antes dos 20 anos e as histórias variam entre rejeição na base de grandes clubes, pouco espaço no profissional ou desejo de brilhar em um centro europeu de forma precoce.

O roteiro não é novo. Atletas como Élber e Sonny Anderson já fizeram caminho parecido nos anos 1990 e brilharam na Europa. Eles e outros emigrantes, no entanto, nunca tiveram o devido espaço na seleção brasileira, e sempre sofreram com o preconceito de público e crítica.

Não raro, convocações com esse perfil eram vistas com desdém, como aconteceu com Afonso Alves na era Dunga. Sem espaço na seleção, os brasileiros muitas vezes se viam obrigados a trocar de nacionalidade.

Deco é o maior exemplo. Revelado pelo Corinthians, ele teve pouco espaço, foi logo para Portugal e passou a se destacar no Porto. Antes de 2002, Felipão chegou a cogitar chamá-lo a caminho da Copa daquele ano, mas nunca o fez. No ano seguinte, já por Portugal, ele incentivou a naturalização do meia, que seria importante para a seleção e consolidaria sua carreira na Europa em clubes como Barcelona.

Hoje, nomes inusitados para a torcida verde-amarela, como Filipe Luís, já conseguem transformar suas carreiras de sucesso na Europa em espaço na seleção. "Eu realmente saí muito cedo. Se fosse fazer minha carreira de novo, esperaria dois anos a mais", disse o lateral que, no entanto, não fala em arrependimento.

"Não busco reconhecimento. O pessoal que convive com futebol me conhece, sabe o que realizei no clube e na seleção", completa Filipe, convocado por Dunga, Mano Menezes e Luiz Felipe Scolari.

Só que nem sempre o reconhecimento dentro de campo basta. Para Hulk, por exemplo, a vaga de titular ainda pesa na relação com a torcida. Diante da Inglaterra, sobraram vaias para o atacante parrudo e desconhecido. "Isso tem muito a ver com o fato de eu nunca ter jogado aqui. Disputei apenas uma partida de Campeonato Brasileiro, há muito tempo, e construí minha carreira toda fora do país. É normal voltar com a seleção e escutar essas vaias, se eu fosse uma figura mais conhecida no Brasil, ficaria bem triste, mas não é o caso", disse ele.

A situação afeta até o trabalho em torno dos jogadores. Assessores de imprensa sugerem pautas criativas que humanizem os atletas e empresários trabalham nos bastidores para que seus clientes sejam mais respeitados.

"Tem de matar um leão por dia. Ele tem futebol para ser titular, mas a imprensa pega muito no pé dele, porque vem quem atua no futebol brasileiro muito mais vezes", disse Estavros Teodoro, empresário de Hulk.

A sensação que os estafes têm é de que, em geral, os emigrantes são os primeiros a serem cobrados em caso de fase negativa. "Não tenho dúvida disso. Pesa bastante. Torcedor é passional, então ele vai dentro do dia a dia. Ele vê aqueles nomes consagrados e o cara que não criou uma raiz tem, com certeza, um caminho mais longo, mais árduo", disse Marcel Moreira, que cuida da imagem de Filipe Luís. 

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