Velho obstáculo para a CBF, Bayern já vetou Élber e Lúcio na seleção

Do UOL, em São Paulo*

  • Juca Varella/Folhapress

    Lúcio e Élber em 2001, quando eles chegaram depois do prazo e acabaram no banco de reservas

    Lúcio e Élber em 2001, quando eles chegaram depois do prazo e acabaram no banco de reservas

O Bayern de Munique, que viveu uma queda de braço com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) por conta de Luiz Gustavo e Dante, é uma velha dor de cabeça para a CBF. Na última década, o gigante alemão já entrou em atrito com a entidade em diversas oportunidades, atrapalhando a vida de jogadores como Zé Roberto, Lúcio e Élber.

Em 2004, a seleção se reuniu para visitar o Haiti em uma missão diplomática. O amistoso, que ficou conhecido como Jogo da Paz, serviu para ajudar no esforço de paz brasileiro que tentava reconstruir o país caribenho, duramente abalado por uma guerra civil.

Na época técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira tentou levar sua força máxima para a missão humanitária. A viagem ao Caribe, no entanto, contrariava um acordo entre o G-14 (grupo que reunia os principais clubes do Velho Continente) e a Fifa, que dizia que atletas que atuassem na Europa jogariam por suas seleções fora do continente somente com a autorização dos clubes. O acerto datava de 2003, mas, na época, ainda não era uma regra oficial da Fifa (Federação Internacional de Futebol).

Com base nesse impasse, o Bayern de Munique proibiu Lúcio e Zé Roberto, à época titulares da seleção, de viajarem. Os alemães ainda foram acompanhados pelo Milan, que não cedeu Dida, Cafu e Kaká. Parreira não gostou, e em retaliação sacou o quinteto de um jogo contra a Bolívia, pelas eliminatórias, e de um amistoso contra a Alemanha, que ocorreram em seguida.

A mágoa, porém, não durou. "Não vai haver mais desdobramentos desse episódio. Se esses jogadores interessarem tecnicamente, e é claro que vão interessar, eles voltarão", disse Parreira à época. Os cinco, de fato, retornaram à seleção e ficaram até a Copa do Mundo de 2006, quando foram titulares na queda diante da França nas quartas.

Em 2001, na primeira era Felipão, a história foi um pouco diferente. Logo nos primeiros meses do técnico na seleção, o Bayern deu trabalho na Copa América que seria disputada na Colômbia. Os alemães alegaram que o país sul-americano, então marcado por uma onda de violência, era perigoso demais para o atacante Élber, uma das estrelas do time, que havia sido selecionado pelo treinador.

O atacante estava de férias no Brasil e chegou a se apresentar à seleção em São Paulo, mas foi obrigado pelo Bayern a viajar para a Alemanha, onde ficou, apesar dos protestos da comissão técnica. "O clube tem outros planos para Élber e Pizarro [peruano que também foi vetado], e o mais importante é a segurança dos dois, algo que na Colômbia não está garantido", disse Karl-Heinz Rummenigge, então vice-presidente do clube.

Meses depois, mais um atrito. Antes do jogo decisivo contra o Paraguai, em Porto Alegre, Élber foi obrigado a se apresentar depois do prazo desejado por Felipão, que fez uma preparação especial. O Bayern queria que ele atuasse pela terceira rodada do Alemão e bateu o pé contra a sua liberação. O técnico da seleção não gostou e deixou o atacante e o zagueiro Lúcio, que vivia o mesmo problema com o Bayer Leverkusen, no banco de reservas.

A gota d'água foi a rodada das eliminatórias que reuniu os jogos contra Bolívia e Venezuela, os dois últimos em uma briga apertada por uma vaga na Copa do Mundo. Felipão chamou Élber, que lesionou-se e não pôde atuar nos confrontos. Não contente com a avaliação médica do Bayern de Munique, o técnico exigiu a presença do jogador no país, para que ele fosse avaliado pelos seus colegas de comissão técnica da seleção.

"Ele não vai sair daqui. Os médicos do clube já disseram que ele está vetado para os próximos jogos e, por causa disso, não precisará viajar ao Brasil. Esses senhores, porém, ainda não entenderam que o mundo mudou e que eles já não dominam mais a Fifa", disse Uli Hoeness, então supervisor de futebol do Bayern. Depois disso, Élber não voltou a ser chamado e perdeu a chance de participar da Copa de 2002.

Hoje, os mesmos personagens se reuniram em outra disputa. Felipão e Parreira hoje são técnico e coordenador da seleção brasileira, respectivamente. Hoeness é presidente do Conselho do Bayern de Munique, enquanto Rummenigge é o executivo-chefe.

Este último, inclusive, foi "escalado" para ter uma última conversa com a CBF nesta quinta-feira. Além do cargo no Bayern de Munique, Rummenigge ainda é presidente da ECA (Associação Europeia de Clubes), que tem como um de seus principais pleitos a diminuição do número de dias que os ficam à disposição das seleções.

"Isso é um embate recorrente, uma briga constante. Eles são duros na negociação. Cada um tem seus interesses e até entendemos. É como judeus e árabes, uma disputa permanente, não tem fim", disse Carlos Alberto Parreira na última quarta.

Os atletas ameaçados, desta vez, eram Dante e Luiz Gustavo. A dupla, em tese, teria de entrar em campo pelo Bayern no próximo sábado, contra o Stuttgart, pela final da Copa da Alemanha. O problema é que a Fifa exige que os jogadores convocados se apresentem às suas seleções até 14 dias antes do primeiro jogo na competição.

Como o Brasil abre a Copa das Confederações contra o Japão, em Brasília, em 15 de junho, Dante e Luiz Gustavo teriam de se apresentar fora do prazo estipulado. A comissão técnica bateu o pé e quis a dupla à disposição antes disso.

Nesta quinta, o Bayern cedeu. Pelo Twitter, o clube confirmou a liberação dos dois jogadores. Em entrevista, Karl-Heinz Rummenigge protestou contra um suposto "terror psicológico" da CBF

*Atualizada às 10h44

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