Globalizado, Japão que enfrenta Brasil tem estrelas em grandes de Europa
Fernando Duarte
Do UOL, em Wroclaw (Polônia)
-
Nigel Roddis/REUTERS
Após dois anos no Borussia Dortmund, Kagawa foi contratado pelo Manchester United
Uma cobrança de escanteio da França se transformou num contra-ataque rápido, que terminou com Shinji Kagawa empurrando a bola para a rede o cruzamento de Yuto Nagatomo. O lance da vitória sobre a França, na última sexta-feira, explica que há de diferente com a seleção japonesa, que na terça-feira enfrenta o Brasil, no Estádio Miejski, em Wroclaw, às 9h10m (de Brasília). Apesar da discreta 23ª posição no ranking da Fifa, a equipe asiática tem mostrado uma evolução técnica exemplificada pela vitória sobre os franceses em Paris. E atribuída também ao que se pode chamar de uma globalização de suas estrelas.
Se jogadores japoneses já tiveram a chance de atuar no exterior desde os anos de 1970, experiências isoladas ganharam jeito de êxodo. Nas Copas de 2006 e 2010, a seleção japonesa tinha, respectivamente, sete e quatro ''estrangeiros'' no grupo. Hoje o cenário é bem diferente. Dos 23 convocados para os jogos contra França e Brasil, 14 atuam fora do Japão. Mudou também o destino dos que saem. Em vez de apenas clubes medianos, japoneses agora ganham espaço em equipes mais poderosas. Kagawa e Nagatomo, por exemplo, defendem atualmente o Manchester United e na Internazionale de Milão.
Ficou claro também que a contratação de japoneses deixou de ser meramente uma tentativa maior de capitalizar sobre o interesse da mídia e dos torcedores asiáticos, como ficou marcada a experiência de Junichi Inamoto no Arsenal, em 2001-02. Nagamoto é prova disso. Contratado pela Internazionale no ano passado, depois de apenas uma temporada no Cesena, ele já disputou 46 jogos pelo clube italiano. Kagawa deixou saudades no Borussia Dortmund, da Alemanha, clube que defendeu entre 2010 e 2012, conquistando o bicampeonato alemão e marcando 21 gols – números que chamaram a atenção do Manchester.
JAPÃO VENCE FRANÇA EM SAINT-DENIS
Tanto Kagawa quanto Nagamoto falam no desafio em testar sua qualidade em torneios mais competitivos que a J-League e na melhora que vêm sentindo em suas carreiras – não por acaso, o treinador da seleção japonesa, o italiano Alberto Zaccheroni, defende publicamente que mais jogadores de alto nível sigam para o exterior.
Da legião estrangeira japonesa, sete jogadores atuam no futebol alemão e três no inglês, ao passo que Rússia, Itália, Bélgica e Holanda contam com um jogador cada. Ao mesmo tempo em que se pode argumentar que o Japão já vinha de resultados mais consistentes antes do êxodo – classificou-se para todas as Copas do Mundo desde 1998 e no Mundial da África do Sul derrotou Dinamarca e Camarões antes de perder nos pênaltis para o Paraguai nas oitavas-de-final – há quem defenda que o êxodo oferece maior espaço de manobra para evolução da seleção, especialmente por conta das discrepâncias entre o calendário europeu e o da J-League.
''Adoraria ver meus jogadores num mesmo patamar físico quando se apresentam à seleção. O calendário europeu e da J-League não é sincronizado, o que resulta nos atletas chegando com uma diferença de forma muito grande'', argumenta Zaccheroni, ex-treinador de Juventus e Milan e que teve influência direta na ida de Nagatomo para Milão.
ÊXODO ESVAZIA J-LEAGUE
Ao mesmo tempo em que o sucesso de Kagawa é uma senhora propaganda da formação de jogadores do país, a saída de ídolos é um dos fatores apontados como determinantes para a queda nas médias de público da J-League. Depois de registrar um salto pós-Mundial de 2002 (competição organizada por Japão e Coreia do Sul) e atingir um pico em 2008, com média de 19,2 mil, o número de torcedores por partida caiu 15,7 mil na última temporada. Teme-se também que o êxodo prejudique os planos de expansão da J-League: entre 2005 e 2009, as receitas da liga cresceram 7%, para US$ 644 milhões, cifras invejáveis até para ligas europeias e que colocam os japoneses à frente de Holanda e Turquia numa tabela dos mais ricos. No entanto, sem um mercado televisivo robusto, a J-Legue sofre de uma dependência de receitas de patrocínio, hoje respondendo por 60% do faturamento, contra apenas 12% da TV e 28% de vendas de ingressos. Uma equação vulnerável à perda de talentos. |