De olho no cofre

Após reportagem do UOL, assessor do governo de MT que denunciou propina é exonerado

Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

  • Arte UOL

    Assessor especial do governo de MT diz que recebeu proposta de propina de consórcios do VLT

    Assessor especial do governo de MT diz que recebeu proposta de propina de consórcios do VLT

O assessor especial da vice governadoria de Mato Grosso, Rowles Magalhães Pereira da Silva, foi exonerado do cargo público que ocupava desde o dia 2 de abril deste ano. A demissão foi determinada na última sexta-feira, após publicação de reportagem do UOL Esporte que revelou que o assessor do vice-governador de Mato Grosso, Francisco Daltro, sabia qual consórcio sairia vencedor da licitação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Cuiabá com, pelo menos, três semanas de antecedência em relação à divulgação das propostas dos concorrentes. O certame foi vencido pelo Consórcio VLT Cuiabá, com uma proposta de R$ 1,47 bilhão.

Vencedor de licitação do VLT de Cuiabá era conhecido um mês antes do resultado

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    A licitação para definir o consórcio construtor do VLT de Cuiabá, atualmente orçado em R$ 1,47 bilhão, tinha o seu vencedor conhecido pelo menos um mês antes da entrega das propostas dos consórcios concorrentes e da abertura dos envelopes. No dia 18 de abril deste ano, uma mensagem cifrada publicada no jornal Diário de Cuiabá revelou que o Consórcio VLT Cuiabá sairia vencedor do certame. LEIA MAIS

Além disso, Rowles Magalhães Pereira da Silva afirma que integrantes do governo estadual receberam uma propina da ordem de R$ 80 milhões para viabilizar o negócio, e que o acerto para determinar o vencedor fora articulado entre os três consórcios primeiros colocados na concorrência.

A exoneração do assessor deverá ser divulgada no Diário Oficial de Mato Grosso na próxima terça-feira. Segundo o UOL Esporte apurou, o memorando está pronto desde a tarde da última sexta-feira.

De acordo com o que afirmou o vice-governador Franscisco Daltro à imprensa cuiabana, a demissão seria para contribuir para "a apuração total dos fatos denunciados e para garantir o direito sagrado de defesa e elucidação para próprio ex-assessor".

Para Daltro, as denúncias de seu assessor devem ser tratadas como meras especulações. "Por enquanto são suposições, insinuações e especulações, mas, como o mais importante para o governo do Estado são as obras do VLT e o respeito a população de Cuiabá que não pode arcar com disputas políticas, determinei a tomada de decisão", disse o governador, no último domingo, 19.

Já o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, limitou-se a dizer que vai apurar as denúncias. "Vou mandar apurar as suspeitas, assim como tenho feito com todas as denúncias que chegaram ao meu conhecimento", afirmou o governador, sem comentar o fato de conhecer Rowles há, pelo menos, 15 meses.

Antes de ser nomeado assessor especial do governo, Rowles Magalhães Pereira da Silva representava o fundo de investimentos Infinity, que doou ao Estado de Mato Grosso o estudo de viabilidade utilizado para montar o edital de licitação do VLT.

O Infinity adquiriu o estudo junto à empresa estatal portuguesa Ferconsult, que projeta e executa obras de transporte sobre trilhos. Rowles afirma ter sido traído por membros do governo de Mato Grosso, pois teria feito a doação do estudo sob a condição de que a estatal portuguesa participasse da construção, o que acabou por não acontecer.

O documento, intitulado "projeto básico de viabilidade técnica e financeira", projetava uma obra inicialmente orçada em R$ 700 milhões e tem um custo estimado em R$ 14 milhões.

O acerto entre Infinity, Ferconsult e governo de Mato Grosso teria sido costurado em uma viagem ocorrida em maio de 2011, quase um ano antes de Rowles ser nomeado assessor especial do governo. Uma comitiva do governo de Mato Grosso foi à cidade do Porto (Portugal) conhecer o sistema de VLT do município. O governador Silval Barbosa e o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, deputado José Riva (PSD), eram alguns dos membros da comitiva, que também incluiu Rowles Magalhães Pereira da Silva, então representante do Infinity. Cerca de um mês depois, no dia 17 de junho, o fundo de investimentos doou o estudo de R$ 14 milhões ao governo de Mato Grosso.

Franscisco Daltro não conversa com o UOL Esporte. A reportagem do portal tenta desde o dia 13 de agosto falar com o mandatário, para que ele esclareça os motivos que levaram à nomeação do assessor especial, bem como suas atribuições no governo de Mato Grosso.

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