Laurence Griffiths/Getty Images

Ídolos do passado não creem no retorno de grandes jogadores, como Diego Lugano

05/07/2010 - 07h04

Descrentes, ídolos rechaçam progresso do futebol uruguaio após êxito na Copa

Luiza Oliveira
Em São Paulo

Última seleção sul-americana classificada para a Copa do Mundo, o Uruguai surpeendeu ao chegar às semifinais e deixar para trás os vizinhos favoritos Argentina e Brasil. O feito poderia representar um legado importante para alavancar o futebol do país, decadente nos últimos anos. Mas na opinião dos ídolos do passado isso não acontecerá.

O Uruguai é uma das seleções de maior tradição no futebol mundial com os títulos das Copas de 1930 e 1950. Os clubes também se destacam com oito conquistas na Libertadores. Mas desde a década de 90, a futebol celeste teve uma forte queda, permeada pela falta de recursos financeiros, planejamento inadequado e pouco incentivo às categorias de base.

  • Rodrigo Arangua/AFP

    Jogadores comemoram a classificação. Apesar do feito, pouca coisa deve mudar no futebol uruguaio

  • José Duval/Agência RBS

    Ex-jogador Hugo de León crê que planejamento ruim possa diminuir ganhos com feito histórico

  • Andres Stapff/Reuters

    A empolgação é grande em Montevidéu. Torcedores se reúnem nas ruas para verem jogo da Celeste

Diante desse contexto, nomes importantes na história do futebol uruguaio, como Darío Pereyra e Hugo de León, veem com pessimismo a forma como a boa campanha em 2010 será aproveitada. O Uruguai já se garantiu nas semifinais na África do Sul ao bater Gana nos pênaltis, o que não acontecia há 40 anos. Agora, vai enfrentar a Holanda pela vaga na final.

Capitão da seleção uruguaia na década de 70, Darío Pereyra defendeu o Nacional entre 1975 e 1977 e fez história no futebol brasileiro com longa passagem pelo São Paulo, além de Flamengo e Palmeiras. Para ele, o bom desempenho não trará grandes frutos.

“Não acho que vai mudar alguma coisa. Os clubes uruguaios não estão bem economicamente e não têm dinheiro para contratar. Não vejo uma influência direta. Vai tudo continuar como está. Os bons jogadores vão continuar na Europa”, avaliou.

De fato, os clubes passam por um momento delicado. Apesar das várias conquistas continentais, a última vez que a taça foi para o Uruguai foi com o Nacional em 1988. No ano anterior, quem havia conquistado a América foi o rival Peñarol, campeão das duas primeiras edições do torneio em 1960 e 1961. Na década de 80, o país teve o domínio com quatro títulos.

O ex-gremista Hugo de León viveu a época áurea ao conquistar a Libertadores e o Mundial Interclubes com o Nacional em 1980 e 1988. Para ele, a premiação em dinheiro da Copa do Mundo pode beneficiar os clubes e as categorias de base, mas não devem ser bem aproveitados. O país sul-americano já tem garantido US$ 18 milhões. Segundo a Fifa, o campeão levará US$ 30 mi e o vice US$ 24 mi.

“O suporte financeiro vai contribuir, mas nao adianta ter dinheiro se não tiver planejamento para usá-lo. Espero que saibam fazer isso e usem a premiação para ter investimentos e tranquilidade para trabalhar com a base e com os clubes. Mas só se faz isso com projetos. Não dá para depender de resultados isolados a cada quatro anos”, avaliou.

De León também não acredita na volta de ídolos como Lugano (Fenerbahce, Turquia), Fórlan (Atlético de Madri, Espanha) e Suarez (Ajax, Holanda) para o país. “Isso é impossível pelo nível econômico. Os clubes não têm condições de bancarem esses atletas. Só voltam no fim da carreira para ganharem 30 ou 50 vezes menos.”

São várias as teorias para a queda da força uruguaia. Sem recursos financeiros, o futebol ficou a mercê do empresário Paco Casal, proprietário da empresa Tenfield, detentora por mais de uma década dos direitos televisivos do futebol uruguaio e da seleção. Ele também é dono do canal de televisão Gol TV e representante de praticamente todos os jogadores uruguaios que saem do país.

Além disso, o planejamento ainda se mostra amador no país. O estádio usado pelos clubes, por exemplo, é público e pouco explorado comercialmente. Para piorar a situação, não há uma política de desenvolvimento na base e o êxodo de atletas é alto, jovens com 12 e 13 anos já saem do país.

O pequeno número de habitantes, apenas 3 milhões, também se torna um entrave na hora de buscar recursos. Isso porque grandes patrocinadores não priorizam países com pouca estrutura e com menor mercado consumidor.

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