Daniel Cassol/UOL Esporte

Uruguaios tomam as ruas de Rivera para comemorar vitória da seleção sobre a Coreia

26/06/2010 - 15h10

Classificação faz uruguaios 'barrarem' comércio brasileiro na fronteira

Daniel Cassol
Em Rivera (Uruguai)

Em Rivera, onde Brasil e Uruguai são divididos apenas por uma linha imaginária no meio de uma avenida, a classificação uruguaia para as oitavas de final foi festejada em portunhol, idioma oficial da fronteira. Uruguaios e doble-chapas (pessoas nascidas de um lado mas com laços em outro), dividiram a tensão do jogo na África do Sul com a atenção aos consumidores brasileiros que lotavam os free-shops. Com a vitória, os uruguaios “barraram” os brasileiros e fizeram a festa na avenida Sarandi, principal centro comercial da cidade.

MUDANÇA DE PRIORIDADE

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    Durante o jogo do Uruguai, vitrines em Rivera foram tomadas por torcedores que tentaram conferir a partida da Celeste pelas oitavas de final da Copa

Enquanto a partida não começava, eram os brasileiros que dominavam a avenida Sarandi, lotando lojas que vendem eletrônicos, bebidas, roupas e perfumes a preços mais baixos. Mas o clima já era de Copa. Até mesmo alguns brasileiros carregavam bandeiras do Uruguai, como Matheus Lopes, da cidade gaúcha de Santa Maria, que viajou a Rivera para torcer pela Celeste. “Vim aqui para torcer mesmo. Tenho sangue uruguaio”, explicou.

O comércio foi aos poucos sendo ignorado pelos uruguaios. As vitrines que exibiam televisões à venda foram ocupadas por torcedores – e os brasileiros que tentavam conferir as ofertas recebiam vaias.

As lojas permaneceram abertas ao longo dos 90 minutos, mas os vendedores estavam mais preocupados com o jogo do Uruguai. “A dona não deixa fechar a loja, mas a gente vê a partida assim mesmo”, dizia Patrícia Caresani, funcionária de uma perfumaria, enquanto pintava o rosto do colega Frederico Espinoza.

Nos camelôs, os ambulantes deixaram as vendas de lado e se acomodaram sob os toldos de lona para se proteger da chuva fina que caiu neste sábado em Rivera.

“O que mais motiva os uruguaios é que a seleção há 20 anos não avançava numa Copa e agora está fazendo um bom papel”, afirmava confiante o doble-chapa Carlos Roberto, uruguaio casado com uma brasileira e morador de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul.

O primeiro gol de Suárez fez as vuvuzelas criollas soarem na Praça Internacional, que separa Rivera e Livramento. A televisão ligada na Globo narrava em português a vitória parcial do Uruguai.

O recuo do time e o gol de empate da Coreia do Sul tornaram a situação um pouco mais dramática. “Parece que tem torcida da Coreia por aqui”, resmungava um senhor de muletas ao ouvir gritos de comemoração com o empate. A resposta da dona da banca de cigarros foi imediata: tirou da Globo e sintonizou em uma emissora uruguaia. Deu sorte: minutos depois Suárez desempatou e colocou a Celeste nas quartas de final, algo que não acontecia deste a Copa de 1970.

Nostálgicos são os brasileiros

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    Ex-jogador de futebol, Servando exibe pôster dos campeões de 50, mas nega saudosismo e confia nos atuais jogadores da seleção uruguaia

Abaixo a nostalgia

Minutos antes da partida, o uruguaio Servando Sosa, 73 anos, arranjou um tempo para mostrar suas relíquias guardadas em casa, na periferia de Rivera. Um álbum do título mundial de 1930, um pôster e recortes de jornais dos heróis de 1950 e fotos de sua carreira de jogador profissional mostravam tempos históricos da seleção de seu país. “Fico inquieto antes de um jogo do Uruguai”, dizia Servando, ex-zagueiro de clubes de futebol de Rivera. Seu irmão, Uruguay Sosa, chegou a atuar no Peñarol na década de 60.

Apesar das coleções das glórias do passado, foi Servando quem negou que os uruguaios sejam saudosistas. “Dizem que os uruguaios são nostálgicos, mas quando chega a Copa do Mundo, quem lembra do Maracanazzo são os brasileiros”, disse, confiante no time de Lugano, Forlán e Suárez. “O que vejo na seleção é que eles não jogam só pelo dinheiro, são muito fiéis à camiseta do Uruguai”, completou.

A confiança nos atuais jogadores ficou demonstrada após o final da partida. Com a vitória garantida, centenas de jovens e adolescentes tomaram a avenida Sarandi e iniciaram a festa pela classificação. Foi só então que a fronteira sempre aberta teve de se fechada pelas polícias dos dois lados, que temiam a repetição dos incidentes dos últimos jogos do Uruguai, quando torcedores atiraram pedras contra brasileiros e quebraram alguns automóveis.

Se para os brasileiros já estava difícil fazer compras, a vitória uruguaia terminou por complicar as coisas. A avenida Sarandi ficou trancada em diversos pontos por causa das carreatas e da concentração de torcedores. Comércio, só de foguetes, vuvuzelas e gorros e bandeiras celestes, tudo cotado em pesos uruguaios.
 

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