24/06/2010 - 10h38

Jornais ingleses destacam receio de enfrentar 'velha inimiga' Alemanha

Da BBC
Em São Paulo

QUEM É O FREGUÊS NESTE CLÁSSICO?

  • AP
  • Efe

    O jogo mais importante da história de Inglaterra e Alemanha garantiu o único grande título dos britânicos. A final da Copa de 1966, no entanto, não resume uma das maiores rivalidades do futebol mundial. Quarenta e quatro anos depois da decisão em Wembley, os germânicos somam vitórias em momentos-chave e uma grande derrota diante de sua torcida. Ambos têm argumentos. Quem é o freguês do clássico das oitavas?

Os principais jornais britânicos manifestam nesta quinta-feira o alívio da maioria dos ingleses pela classificação da seleção local para as oitavas de final da Copa do Mundo, mas ressaltam a preocupação com a próxima partida, contra a tradicional rival Alemanha.

“A boa notícia: A Inglaterra se classificou. A má notícia: A próxima (partida) é contra a Alemanha”, diz o diário The Guardian em sua primeira página da edição desta quinta-feira.

“A mão da história juntou os velhos inimigos outra vez em Bloemfontein no domingo, após a Inglaterra ter finalmente enviado um time de futebol para uma partida na África do Sul em vez de um bando de fantasmas”, diz o texto na capa do jornal.

Os jornais relembram confrontos históricos entre os dois times, como a final da Copa de 1966, vencida pelos ingleses em casa, ou a semifinal da Copa de 1990, na Itália, vencida pelos alemães nos pênaltis.

“Há poucas coisas que deixam o sangue inglês bombando mais do que um encontro com seus amigos teutônicos em uma Copa do Mundo, evocando memórias de batalhas épicas com a Alemanha Ocidental em Wembley, em 1966, em León (no México), em 1970, e em Turim em 1990, sem mencionar a semifinal da Euro 96, quando o time da Alemanha já tinha sido reunificado”, observa reportagem do jornal The Times.

O Times é o jornal que adota o tom menos pessimista entre os principais diários locais, com o título “Que venham os alemães” na capa de seu caderno de esportes.

Diante de uma foto de Jermain Defoe, autor do único gol da partida contra a Eslovênia, na quarta-feira, a manchete do diário The Independent faz um trocadilho com o nome do jogador: “Defoe desafia a derrota. Agora, o inimigo (the foe, em inglês, que tem sonoridade próxima ao nome do atleta)”.

Cerveja

O jornal The Daily Telegraph, por sua vez, diz em sua primeira página que o técnico da seleção inglesa, o italiano Fabio Capello, encontrou o segredo da vitória, após os empates nas duas partidas iniciais contra Estados Unidos e Argélia, ao permitir que os jogadores tomassem um pouco de cerveja na noite anterior ao jogo com a Eslovênia.

“Após a mais importante vitória de seus dois anos à frente da seleção, o italiano revelou que um toque de entrosamento no bar do hotel da equipe, na noite anterior à grande partida, pode ter ajudado em uma abordagem mais relaxada em relação ao jogo”, diz o diário.

Apesar disso, a reportagem registra uma declaração do meia Frank Lampard, segundo o qual poucos dos jogadores da seleção aceitaram o convite do técnico para tomar cerveja.

O tabloide Daily Mail traz em sua capa uma foto de Capello sorridente após o jogo, sobre o título: “Aproveite, Fabio, a Alemanha é a próxima!”.

Em uma reportagem interna, intitulada “Oh, não, não vocês de novo!”, o Daily Mail observa que “um encontro com a Alemanha nas oitavas de final não era certamente o que a Inglaterra queria quando a Copa do Mundo começou, mas o time do técnico Joachim Low foi suficientemente pouco convincente para dar esperança aos seus grandes rivais ao passar com dificuldades por Gana na noite de ontem”.

Comparações

Outro tabloide, The Sun, tenta traçar paralelos com outras campanhas da Inglaterra em Copas do Mundo, dizendo que em 1966, quando o país ganhou seu único título, os jogadores também teriam podido beber cerveja antes de uma partida importante.

Em um quadro, o jornal faz uma comparação com o desempenho da equipe na primeira fase da Copa de 1990, quando a Inglaterra fez sua melhor campanha desde 1966, chegando à semifinal.

Naquela Copa, como observa o diário, a Inglaterra também empatou as duas primeiras partidas pelos mesmos placares que neste ano – 1 a 1 contra a Irlanda e 0 a 0 contra a Holanda – e também se classificou após vencer a última partida por 1 a 0, contra o Egito.

O Sun faz ainda um mea culpa ao admitir que havia qualificado o grupo da Inglaterra na Copa como fácil, com um trocadilho com as demais equipes – England, Algeria, Slovenia, Yanks (apelido para os americanos), formando a palavra EASY, ou fácil em inglês.

Clima de guerra

Já na Alemanha, os principais órgãos da mídia destacam o comportamento de jornais britânicos que estariam fomentando um clima de guerra para a partida de domingo entre as duas seleções.

O jornal Die Welt diz que enquanto os jogadores alemães vêem a partida contra o rival com “alegria”, a “mídia britânica esquenta o duelo com o arquiinimigo com frases marciais”.

O jornal cita como exemplo manchetes do tabloide britânico The Sun, “Preparem-se para o duelo com a máquina de guerra alemã”.

A revista Der Spiegel cita a mesma manchete do The Sun para um artigo sobre o assunto, em que lembra que os dois times “na verdade têm bem mais coisas em comum do que a tradicional relação de amor e ódio”.

“Os dois tiveram fiascos na primeira fase, continuam entre os favoritos ao título e conseguiram se classificar aos trancos e barrancos depois de muito sofrimento”.

Para a revista, a Inglaterra parece ter sido afligida novamente “por antigos fantasmas”. “A Inglaterra sempre é favorita, mas sempre acaba perdendo, seja por algum erro do goleiro ou por um fracasso nos pênaltis”.

‘Caricatura’

A revista diz que essa situação se repetiu tantas vezes que virou “uma caricatura”, capaz de “paralisar mesmo o mais tarimbado e experiente jogador da primeira divisão do futebol inglês”.

O tabloide alemão Bild traz a capa de vários jornais ingleses estampada em sua primeira página, e diz que “é sempre a mesma coisa, quando a Inglaterra pega a Alemanha: a imprensa inglesa dispara por todos os meios, atiça contra a Alemanha e não tem escrúpulos em apelar para comparações com o nazismo”.

O jornal lembra que em fevereiro passado o tabloide Daily Star comparou o segundo uniforme alemão (usado na partida contra Gana) com o uniforme usado pela organização paramilitar nazista SS na Segunda Guerra.

O diário lembra ainda que, na véspera de encontros anteriores entre as duas seleções, como na Eurocopa de 1996, tablóides como o Daily Mirror e o Daily Star “desceram ao seu nível mais baixo”, com manchetes como “Achtung! Surrender!” (“Alto! Renda-se!”, misturando alemão com inglês, numa referência à segunda guerra) ou “Herr we go!” (trocadilho com here we go, ou aqui vamos nós, com a troca da primeira palavra para senhor, em alemão).

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