15/06/2010 - 06h00

Estado totalitário e zebra de 66 empurram Coreia por façanha contra o Brasil

Alexandre Sinato, Bruno Freitas e Mauricio Stycer
Em Johanesburgo (África do Sul)

Cento e quatro posições separam Brasil e Coreia do Norte no ranking da Fifa, mas mesmo assim a seleção asiática entra em campo nesta terça-feira (às 15h30, de Brasília) no estádio Ellis Park com a confiança em alta de que pode protagonizar uma surpresa histórica contra o time de Kaká e companhia, um dos principais favoritos à conquista da Copa do Mundo de 2010.

OS TRUNFOS DA COREIA DO NORTE

  • Arquivo Folha

    Norte-coreanos ainda se lembram da surpreendente campanha na Copa do Mundo de 1966 na Inglaterra

  • REUTERS/KCNA

    O ditador norte-coreano Kim Jong-il é inspiração para a seleção da Coreia do Norte na Copa de 2010

Pouco conhecida internacionalmente, 105ª colocada na última relação de seleções da Fifa, a equipe norte-coreana usará como inspiração para a tentativa de façanha dois ingredientes conhecidos de sua ficha-técnica política e esportiva: a força mental do regime totalitário e a lembrança da zebra contra a Itália na Copa de 1966.

O regime fechado e centralizador do ditador Kim Jong-il inspira todo o projeto da seleção rival do Brasil na estreia da Copa. Desde o mistério exagerado na preparação, com adoção de treinos fechados e forte segurança, até a ideologia de que o norte-coreano pode conseguir superar adversários graças à força de sua mentalidade coletiva.

"Estamos no grupo de Brasil, Portugal e Costa do Marfim, mas faremos nosso melhor, com uma forte mentalidade e poder organizacional para que possamos enviar boas notícias a nosso país e a nosso povo", disse An Jong-Hak, que joga no Japão.

O povo norte-coreano tradicionalmente se refere ao presidente como "o grande líder" e usa o mesmo conceito para falar da equipe nacional que disputa a Copa, como "a grande seleção".

Na véspera do jogo em Johanesburgo, a Fifa informou a imprensa internacional de que não permitiria que assuntos ligados à política fossem abordados na coletiva de imprensa do técnico Kim Jong Hun. Mesmo assim, o nome do "grande líder".

"Temos jogadores qualificados, tão talentosos quanto os de qualquer outra seleção do mundo. Vamos fazer de tudo para alegrar o nosso povo. Estamos aptos a encarar o Brasil e jogar pela vitória para deixar orgulhoso o nosso líder Kim Jong-il", afirmou Kim Jong Hun, treinador norte-coreano.

Com base na política de divulgação oficial de informações da Coreia do Norte, a expectativa é de que as eventuais derrotas da equipe na Copa não tenham imagens difundidas no país. Somente os feitos do rival de estreia do Brasil devem ser propagados por lá.

Da política para o gramado
Em 1966, a Coreia do Norte protagonizou a surpresa que talvez seja a maior zebra da história das Copas, ao derrotar a favorita Itália no Mundial da Inglaterra, em um feito celebrado no país até hoje. O triunfo por 1 a 0 em Middelsbrough eliminou os então bicampeões do mundo do torneio e levou os asiáticos às quartas de final.

"Tenho memorias muito vivas da Copa de 1966, tinha apenas dez anos, contudo, quando ouvi falar do jogo da nossa seleção nacional, nos sentimos muito orgulhosos. Isso que me fez perceber que o futebol era muito importante e podia inspirar o povo do meu país. Foi por isso que decidi dedicar minha vida profissional ao futebol", disse Kim Jong Hun, técnico da Coreia do Norte no Mundial.

Os heróis de 1966 viraram até documentário da BBC inglesa, recentemente. Remanescentes vivos daquele Mundial tiveram a oportunidade de falar ao time que estreia contra o Brasil. "Os jogadores de 66 estiveram em nosso treino antes de embarcarmos para a África do Sul. Nos deram conselhos muito valiosos a respeito da Copa do Mundo", afirmou o treinador.

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