15/06/2010 - 12h44

Comunidade norte-coreana se fecha após incidente com Coreia do Sul e não aparece para a Copa

Flavia Perin
Em São Paulo

Em meio às buscas por um torcedor norte-coreano na capital paulista, o prognóstico de Daniel In, sul-coreano radicado no Brasil, soa como um balde d’água fria. Mas, mais do que isso, revela como os reflexos da relação conflituosa entre as duas Coreias são sentidos pelos imigrantes brasileiros.

“Um norte-coreano por aqui? Ih, vai ser difícil... Tenho um amigo sul-coreano que fazia negócios com um norte-coreano, mas há dois meses que o norte-coreano cortou o contato com ele e os dois nunca mais se falaram”, conta Daniel.

A razão é o naufrágio de uma corveta sul-coreana ocorrido em março e que matou 46 militares. A Coreia do Sul vem responsabilizando o país vizinho pelo ataque, que nega a responsabilidade e os acusa de terem inventado o incidente naval, numa conspiração comandada pelos Estados Unidos.

Segundo Daniel, não há mais do que três famílias do Norte vivendo atualmente no Brasil. “Existem menos de dez norte-coreanos morando no país hoje”, afirma. De acordo com dados da Polícia Federal, porém, 29 norte-coreanos vivem legalmente no Brasil.

Ainda segundo a PF, há 18.313 sul-coreanos cadastrados no país, 16.325 em São Paulo (15.144 na capital). A comunidade coreana, incluídos imigrantes e descendentes, é estimada em 50 mil.

Apaixonado por futebol “como todo sul-coreano” e torcedor do São Paulo, Daniel festejou a vitória de sua seleção sobre a Grécia no sábado, mas diz que apoiará o Brasil no Mundial, apesar da descrença de seus conhecidos: “Conversei com uns amigos, com o meu zelador, e todos duvidam que vá dar Brasil. Ouço apostas na Itália, Espanha, Argentina...”

“Mas acredito na seleção brasileira se ela ‘jogar junto’. O Brasil tem seu próprio modo de jogar, ninguém faz igual”, analisa.

Sobre a atuação do time sul-coreano na Copa da África, ele pondera: “Ninguém esperava este resultado [2 a 0 contra a Grécia], vamos para cima! Mas acho que a Coreia do Sul não passará para a próxima fase...”

Daniel In nasceu em Seul, capital da Coreia do Sul, e veio ainda garoto para o Brasil. Antes, a família passou um período na Bolívia, mas logo chegou a São Paulo. Morador do bairro do Bom Retiro, Daniel se diferencia de seus conterrâneos por ter trabalhado somente quatro anos com confecção de roupas, costurando junto de seus pais e de sua irmã numa oficina montada em casa.

Depois, teve experiência profissional numa agência de turismo e em algumas outras áreas, até que montou o site Hanaro, dedicado à comunidade coreana no país. No ar há sete anos, o portal oferece notícias, serviços e produtos – músicas e filmes, por exemplo –, chega a contabilizar até 3 mil acessos por dia e possui cerca de 60 anunciantes.

“Os outros portais que vieram antes só publicavam fofoca, por isso não deram certo. No Hanaro, a comunidade encontra, além de notícias, a cultura do país. Os sites sul-coreanos exigem cadastro a partir do RG, e como muitos vieram antes dos 18 anos para o Brasil [idade mínima para se obter registro na Coreia do Sul], não têm documento sul-coreano e não conseguem acessar os sites de lá.”

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