Alexander Joe/AFP

Separatistas mostram cartaz com dizeres "Futebol 2010: faltam 65 dias para o caos"

06/04/2010 - 09h45

Resistência branca da África do Sul retoma planos de criar estado autônomo

Do UOL Esporte
Em São Paulo

Queremos um estado de acordo com a nossa maneira, e não queremos nigerianos, traficantes, ladrões, assassinos nem ninguém desse tipo.

Pieter Steyn, diretor do AWB, movimento de resistência branca da África do Sul.

Revoltados com a morte do líder Eugene Terre’Blanche, supostamente assassinado por seus empregados negros enquanto dormia, os seguidores do movimento de resistência branca da África do Sul já sabem como querem ser indenizados. Os remanescentes de fazendeiros holandeses querem ganhar um estado autônomo dentro do país.

“Tudo o que queremos é um pedaço de terra na África do Sul, onde possamos viver e responder ao nosso próprio governo, com a nossa religião e as nossas leis”, declarou nesta terça Pieter Steyn, diretor do AWB (Afrikaner Weerstandsbeweging), organização de extrema direita fundada por Terre’Blanche em 1973 justamente com o objetivo de instituir um estado branco para os afrikaners.

O AWB foi a principal voz dos extremistas brancos durante o regime de segregação racial. Em 1994, quando o apartheid foi derrubado, a organização perdeu poder, mas foi reativada em 2008, depois que o líder Terre’Blanche cumpriu pena de prisão por ter tentado matar um segurança negro.

MORRE DEFENSOR DO APARTHEID

  • Johann Hattingh/EFE

    Eugene Terre’Blanche tinha 69 anos e era o líder do AWB (Afrikaner Weerstandsbeweging), movimento de resistência dos africâneres, os brancos ativistas do país. Ele iniciou sua carreira política em 1973, defendendo os interesses dos “boers”, como são conhecidos os descendentes dos colonos holandeses.

    Seu partido de extrema-direita é fundado em 1979, e teve profunda influência durante o regime de segregação racial no país. Em 1990, quando o presidente De Klerk iniciou o processo de democratização, ele promoveu uma onda de terrorismo que beirou a guerra civil.

    O movimento usa um símbolo parecido com o da suástica nazista e defende a supremacia branca. Porém, sua influência só se faz valer nas zonas rurais, onde ainda existem tensões entre fazendeiros e empregados negros.

A sua morte no último fim de semana reacendeu a tensão racial no país. Ele teria sido assassinado por dois empregados negros de sua fazenda, que estariam insatisfeitos com salários. Os dois suspeitos, um deles de apenas 15 anos, eram esperados no fórum de Ventersdorp, localidade onde aconteceu o crime, quando Steyn falou ao jornal Mail & Guardian sobre os novos planos separatistas do AWB.

“Queremos um volkstaat [estado do povo] de acordo com a nossa maneira, e não queremos nigerianos, traficantes, ladrões, assassinos nem ninguém desse tipo... é isso o que queremos”, explicou Steyn, que na segunda-feira declarou que o AWB ainda iria decidir de que forma iria se vingar da morte de Terre’Blanche.

Outro porta-voz do AWB foi mais radical em suas declarações no dia anterior. Andre Visagie chegou a pôr a segurança da Copa do Mundo em questão: “Vamos enviar um aviso a estas nações: ‘Vocês estão mandando seus times de futebol para uma terra de assassinos’. Não façam isso se vocês não tiverem proteção suficiente para eles”.

Enquanto o AWB falava para os repórteres sobre o sonho de uma "terra sem nigerianos", o clima no lado de fora do fórum de Ventersdorp era tenso. Uma multidão de manifestantes negros recebia calorosamente os dois suspeitos de matar Terre'Blanche, ovacionados com gritos de "hero" (heróis). Perto deles, militantes brancos acompanhavam a movimentação para cobrar o esclarecimento do caso. Um resquício do apartheid, que ainda pode ser visto principalmente nas zonas rurais do país, onde parentes de holandeses empregam serviçais negros em suas fazendas.

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