02/12/2009 - 07h00

Prostitutas pedem segurança, regularização e temem falta de camisinhas na Copa

Alexandre Sinato
Na Cidade do Cabo (África do Sul)

Nem estádios, nem transporte, nem infraestrutura. Uma categoria que pretende prestar serviços alternativos na Copa de 2010 tem outra preocupação. As prostitutas da África do Sul querem melhores condições de trabalho. A violência, o elevado índice de portadores do HIV e a criminalização da atividade incomodam a categoria, que cobra mudanças urgentes.

 A Força Tarefa por Educação e Direito das Trabalhadoras do Sexo (Sweat, em inglês) realizou um congresso para formalizar as reivindicações. O evento reuniu diferentes áreas, como especialistas em AIDS e migração forçada. Além dos variados pedidos, os participantes também projetaram uma campanha nacional pelo sexo seguro.

 A África do Sul convive com um cenário alarmante. É na sede da próxima Copa, por exemplo, onde se registra o maior número de mortes causadas pela Aids (350 mil por ano, de acordo com levantamento de 2007). O país ainda é o segundo do mundo em número de pessoas que vivem com o vírus (5,7 milhões) e o quarto em porcentagem da população adulta infectada (18,1%). Quase 30% das mulheres grávidas são portadoras do HIV.

 O governo do país trabalha com algumas possibilidades para que o problema nacional não ganhe dimensões ainda maiores em 2010. Na última terça-feira, o presidente Jacob Zuma anunciou nova era no combate à doença. A partir de 2010 todas as crianças menores de um ano receberão antirretrovirais se forem soropositivas.

Grávidas e pacientes com tuberculose e sintomas da Aids também receberão o tratamento se a contagem das células CD4 (indicador de como está o sistema imunológico) for inferior a 350. O governo também estuda regularizar a prostituição. Dessa forma, o controle e as exigências de saúde poderiam ser mais intensos.

 A população diverge sobre o último tema. “Eu sou contra. Tenho duas filhas e não quero que a prostituição seja uma opção normal de emprego. Seria uma medida perigosa para a nossa juventude”, opina Linus Runovault, funcionário de um estádio de rúgbi em Port Elizabeth. “As mulheres são livres para escolher o que acham melhor para suas vidas. Se elas querem vender o corpo, o melhor é reconhecer isso como uma atividade normal”, discorda o taxista Isaac Pienaar.

 Outro argumento abraçado pelas prostitutas diz respeito à segurança. Elas acusam policiais de usarem a autoridade para assediá-las e cometerem abusos. Na análise das trabalhadoras, coibir tais irregularidades seria mais fácil se as leis oferecessem maior proteção.

 Existe também uma preocupação logística demonstrada pela categoria. As prostitutas temem a falta de camisinhas durante a Copa do Mundo. Devido à presença dos 480 mil turistas esperados para o torneio, o fornecimento dos preservativos pode ser insuficiente, segundo a análise apresentada no congresso.

 Congresso que debateu ainda a moeda corrente a ser adotada pelas trabalhadoras do sexo. Para oferecer maior facilidade para os turistas, a intenção é usar apenas o dólar e deixar a moeda local (rand) de lado. Na cotação atual, um dólar vale cerca de sete rands.

 Ainda não se sabe se (e quais) medidas serão tomadas pelo governo, mas a expectativa é que o setor tenha movimento fora do comum durante o Mundial, com crescimento parecido ao de atividades como alimentação, hotelaria e transporte.

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