Os bons moços

Quem são os pilares da seleção brasileira
Kaká

Vinícius Mesquita
Em Madri (ESP)

Em dez anos como profissional, Kaká se preocupou, sem distinção, em construir uma boa imagem dentro e fora de campo. De seu trabalho como atleta, ele poderá contar aos netos que obteve uma carreira vitoriosa pelo Milan, participou do grupo campeão do mundo pela seleção brasileira em 2002, e ainda ganhou da Fifa o prêmio de melhor jogador do planeta, em 2007. De sua vida como personalidade famosa, poderá relatar que foi alçado à condição de príncipe encantado por milhares de adolescentes lacrimosas e tratado como um exemplo de liderança por todos os seus treinadores e companheiros de equipe. Na realidade, fica difícil concluir qual Kaká se sobressai: o meio-campista ou o cidadão exemplar? E, ironicamente, talvez seja este seu maior desafio.

Uma década de futebol e bons exemplos

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Kaká é orgulhoso de sua uma imagem irretocável. Por onde passa, o jogador é lembrado por sua educação e refinamento. Até em Roma, onde as estrelas das equipes locais deveriam ter mais cartaz, a admiração por Kaká se distingue. Os donos do restaurante Jero, ambiente disputado por atletas da Roma e da Lazio, gostam de comentar sobre a boa educação do meia do Real Madrid. “Ele já veio aqui. É uma pessoa maravilhosa. Muito simpático e atencioso”, disse Roberto Recchiuti, um dos proprietários do Jero. “Gostamos quando ele aparece.”

Em Milão, onde ele ainda é respeitado como ídolo, o taxista Alberto Piccu diz que “nesta cidade, o jogador brasileiro mais elogiado é o Kaká.” No secular Giannino, fundado em 1899, um dos mais badalados e tradicionais restaurantes de Milão, Kaká desperta saudades. “Você ainda vai entrevistá-lo?”, pergunta Lorenzo Tonetti, um dos sócios do Giannino. E eu respondo: “Acredito que sim.”

“Então, por favor, mande um abraço especial para ele”, pede Tonetti. “Kaká é um homem fino, muito educado, um dos jogadores de que tenho boas lembranças”, recordou Tonetti, que, além do meia, costuma receber em seu restaurante o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi e outros futebolistas brasileiros, como Ronaldinho Gaúcho, Júlio Cesar, Pato e Maicon.

  • Kaká
  • Kaká gosta das carnes do restaurante basco Asador Donostiarra

Atualmente, Kaká parece ser mais lembrado pelas suas boas maneiras do que pelo seu desempenho em campo. Desde que chegou ao Real Madrid, no início da temporada 2009/2010, as atuações do jogador são repreendidas pelos seus torcedores espanhóis. Em Madri, Kaká também recebe elogios por ser um rapaz comportado e cordial, mas seu futebol ainda gera desconfiança.

“O Kaká é um bom jogador, mas ele nunca está em campo”, disse o vendedor de camisetas Manolo Martin, minutos antes da partida contra o Athletic de Bilbao, penúltima rodada do Campeonato Espanhol e última partida da temporada do Real no estádio Santiago Bernabéu (realizada dia 8 de maio). “O (Cristiano) Ronaldo, o Raúl e o Gutti têm mais prestígio que ele por aqui. Achei que fosse vender mais camisas do Kaká. Mas, infelizmente, não é isso que está acontecendo.”

Com problemas na coxa esquerda, o mesmo mal que ainda preocupa a comissão técnica da seleção brasileira, Kaká foi deixado no banco de reservas no confronto contra o Athletic. Entrou no segundo tempo e ajudou na goleada por 5 a 1 com uma participação discreta. Seu ponto alto na partida foi o passe que deixou o atacante francês Benzema em condições de marcar o quarto gol da equipe.

Estrela sob avaliação em Madri

  • Achei que fosse vender mais camisas do Kaká. Mas, infelizmente, não é isso que está acontecendo(Manolo Martin, comerciante)

  • Ele deveria ter feito um rápido trabalho para ganhar os torcedores. Mas não fez. A vantagem é que ele é bom de cabeça, e isso ajuda(Lalo Alzueta, jornalista esportivo da TVE)

  • Se ele é bom? Não sei, ele nunca está em campo!(José Manuel, torcedor madrilenho)

  • É um rapaz muito compreensível, muito amável. Jamais deixa de atender seus fãs(José Montealegre, maître do restaurante frequentado por Kaká)

No dia seguinte, o jornal espanhol Marca tentava entender por que o chileno Manuel Pellegrini, treinador do Real, preferiu escalar Esteban Granero entre os titulares e deixar um de seus astros na reserva: “Kaká começou no banco por fatores físicos e não técnicos”, garantiu Pellegrini. “Considerei mais apropriado preservá-lo e colocá-lo em campo só na segunda etapa.”

Porém, nem os jornalistas espanhóis, e muito menos Kaká, ainda não tinham digerido a eliminação do Real para o Lyon nas oitavas de final da Liga dos Campeões da Europa, após um empate em 1 a 1, no Santiago Bernabéu, no início do mês de março. Naquela partida, Pellegrini sacou Kaká no segundo tempo. O brasileiro, inconformado com a substituição, deixou o campo sob as vaias dos torcedores e ficou um bom tempo amargurado, sem esconder a insatisfação com a atitude de Pellegrini. Começar entre os reservas também não o deixou contente, mas, de imediato, o silêncio foi sua resposta. Uma semana depois, desabafou:

"Saiu essa noticia que era crônica, mas não é verdade. A pubalgia nunca é crônica, ela melhora ou você opera. Não tenho essa cronicidade que falaram. Teve uma notícia, sem base, afirmando que realmente era um problema, mas acredito que não vou ter mais isso", disse Kaká ao repórter do UOL, Thales Calipo, em evento organizado por um patrocinador do jogador.

O jornalista esportivo da televisão espanhola TVE, Lalo Alzueta, acredita que não será tão fácil para Kaká recuperar a confiança entre os fãs do Real. “Ele é um bom jogador, oportunista. Um dos melhores do mundo. Mas a torcida do Real Madrid é muito exigente. Aqui, não existe tempo à disposição. Ele deveria ter feito um rápido trabalho para ganhar os torcedores. Mas não fez. A vantagem é que ele é bom de cabeça, e isso ajuda“, explicou Alzueta.

Acompanhado de outros três colegas, o torcedor do Real, Daniel Jackson, disse que estava decepcionado com o meia brasileiro. “Ele é muito bom, mas não fez nada por aqui. Espero que a Copa do Mundo possa ajudar o Kaká a recuperar seu futebol.” E um de seus amigos completa: "Ele não teve muita chances. Porém, quando entrou em campo não foi bem. A torcida esperava muito dele e, até agora, nada", comentou o torcedor Gonçalo Serrano

  • Kaká
  • O meia é "figurinha difícil" no centro comercial de seu bairro

Em Madri, Kaká vive em um condomínio de luxo no concorrido bairro La Finca, onde também moram seus colegas de clube, o português Cristiano Ronaldo e o francês Karim Benzema. Segundo reportagem do jornal espanhol El Mundo, a mansão de Kaká custou mais de 7,2 milhões de euros.

No mais concorrido centro comercial do condomínio, é difícil encontrar alguém para falar sobre Kaká. A impressão é de que, na verdade, os funcionários dos estabelecimentos comerciais do local se sentem constrangidos quando o assunto são os famosos vizinhos. “Eu quase nunca os vejo. O Kaká parece uma pessoa muito elegante, sempre sorridente. Mas, pelo que sei, raramente sai de casa”, disse a garçonete de um pequeno café.

Nos restaurantes Mesón Txistu e Asador Donostiarra, ambos especializados em comida basca, Kaká se sente em casa. O maître do Donostiarra, José Montealegre, disse que a estrela brasileira é, entre os jogadores que freqüentam o local, o mais amável e compreensível.

“Ele leva mais de 30 minutos entre a mesa e a porta de saída. Quando percebem que ele acabou de comer, todas as pessoas que estão por aqui levantam para pedir um autógrafo ou uma foto. É um rapaz muito compreensível, muito amável. Jamais deixa de atender seus fãs”, diz Montealegre, que também já recebeu Cristiano Ronaldo, Fernando Torres, David Beckham, Johan Cruyff, o cantor Julio Iglesias e o ator Antonio Banderas, entre outros.

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