A venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo, revelada pela polícia brasileira, não pegou de surpresa o inglês Andrew Jennings. Primeiro a denunciar o esquema, através de seus livros, o jornalista afirma que a alta cúpula da Fifa está envolvida no caso e acusa o presidente da entidade, Joseph Blatter, de chefiar a operação.

"Ele é quem controla tudo nos mínimos detalhes", disse Jennings, em entrevista ao jornal Lance!. "Ele é o homem que chega no escritório às seis da manhã e está olhando a sua mesa antes de você chegar. Ele está lá desde 1976. Ele sabe de tudo. É assim que ele controla e prospera. Ele tem seu próprio serviço de inteligência, paga por esse serviço faz tempo. Ele é um ditador. Se não fosse assim, seria pego".

A operação que desbaratou a máfia dos ingressos foi resultado de um mês de investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Ministério Público. Segundo as autoridades, a quadrilha atuava há quatro Copas e lucrava até R$ 1 milhão por jogo negociando ilegalmente bilhetes reservados a Fifa, patrocinadores e membros de comissões técnicas.

Diretor executivo da Match Services, empresa parceira da Fifa na organização do Mundial, Raymond Whelan está preso no Rio de Janeiro desde a última segunda-feira (14). Ele foi levado ao presídio Bangu 10, assim como outros 11 membros da quadrilha. Entre eles, o empresário argelino Mohamadoud Lamine Fofana, apontado pelo MP-RJ como o número 2 da máfia.

"Ele [Whelan] é o terceiro dos irmãos mexicanos, os Byron [donos da Match]. Ele sabe de tudo. Vocês devem conhecer Bangu, né? É um inferno, eles atiram em você. E Whelan costuma viver no Copacabana Palace e andar de jatinho. Então, vê-lo andar no porta-malas de um camburão é absolutamente incrível. Eu não conseguia parar de dar risada", comentou Jennings.

"Não sei se ele foi para a universidade [para obter uma cela especial]. Ele era um treinador de futebol. Não acho que ele tenha. Ele treinou um pouco e depois se engraçou com a irmã dos mexicanos. Ele é o testa de ferro. Os irmãos decidem quem terá os ingressos, e ele os negocia. Um cara dorme com sua irmã por 20 anos e você não sabe que ele está negociando ingressos? Impossível", completou.

Jennings também falou sobre a polêmica escolha do Qatar como sede da Copa-2022, envolvida em denúncias de corrupção. Para o jornalista, as principais equipes europeias podem vetar a participação de seus jogadores no Mundial.

"O maior problema é que ninguém quer ir para o Qatar. Nem o Blatter. Posso ser europeu, mas é fato que o melhor futebol do mundo é jogado na Premier League e na Bundesliga. Eles não vão querer deixar seus jogadores ficarem seis semanas no deserto", afirmou o jornalista.

Jennings, porém, não acredita que a entidade máxima do futebol possa voltar atrás na escolha da sede de 2022. "Eles pagaram muita gente. Blatter sabe e ele ouviu o barulho dos sacos de dinheiro sendo arrastados para dentro da Fifa. E muita gente pegou esse dinheiro", disse.