A Copa trouxe lucros, mas também prejuízos para a região de Itaquera, em SP
Luis Augusto Símon
Do UOL, em São Paulo
O Shopping Itaquera, localizado ao lado da estação de metrô de mesmo nome, comemora os bons resultados econômicos trazidos pela Copa do Mundo. O fluxo normal de pessoas – em torno de 65 mil por dia – teve um acréscimo de 15%. O faturamento aumentou em 5%, sempre em comparação com o mesmo período – 12 de junho a 10 de julho – do ano passado.
O faturamento no setor de alimentação e de roupas esportivas foi maior que a média de 5%. "Nos dias de jogos no estádio, o movimento era crescente e nos dias de jogos do Brasil diminuía. Mas, no geral, estamos muito contentes com os resultados econômicos conseguidos com a Copa", disse a assessoria de comunicação do shopping.
"A Copa foi um desastre para mim. Tive uma queda de 30% no faturamento. Uma supresa porque pensava faturar bem mais", diz João Gomes da Silva, 61 anos, dono da Careca Autopeças, localizada na Avenida Itaquera, 7426. Sem lucro, fica o consolo de haver ganhado o concurso de loja mais enfeitada, instituído pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Itaquera. "Gastei uns R$ 5 mil na pintura da loja. Fiz isso dois meses antes da Copa porque o clima estava frio. Não adiantou", lamenta.
Para Roberto Manna, 59 anos, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas, há uma explicação para que a Copa tenha sido um fracasso econômico para o que ele considera a maioria de comerciantes. "Olha, se a seleção perdeu de sete, nós perdemos de 20. A explicação é simples. Para se chegar ao estádio há duas estações: a Corinthians - Itaquera, de Metrô, que fica antes, e a estação Dom Bosco, da CPTM. As pessoas chegavam por aí, enquanto grande parte da avenida ficava parada. O comércio de Itaquera ficou ilhado e só teve prejuízo. Teve restaurante que perdeu 99% da freguesia".
Para recuperar o prejuízo ele diz estar fazendo duas reuniões semanais para buscar soluções que minimizem o prejuízo. "A longo prazo, temos de expandir o centro comercial, atingir as duas estações e sair dessa ilha. A Prefeitura precisa revitalizar o centro. Uma das coisas que tentamos fazer foi a criação de um Centro Gastronômico com 12 restaurantes típicos para atender aos turistas. Só que não tivemos ajuda. Agora que acabou a Copa vamos inaugurar um centro menor, com seis restaurantes".
Para subprefeito, houve muita "ilusão" com a Copa
As críticas de Manna são consideradas infundadas por Miguel Afonso Reis, de 56 anos, subprefeito de Itaquera. "Eu assumi em 2 de maio e vou sair em 15 de julho. Vim justamente para trabalhar com setores da sociedade civil envolvidos com a Copa, desde comercitantes até com movimentos sociais. Tudo o que o Manna pediu, foi dado. Pediu a construção da Casa da Memória, contando a história do bairro, e foi feita. Nós demos a infraestrutura para o Centro Gastronômico, mas ele não conseguiu viabilizar. A culpa não foi dele".
Miguel não usa o termo, mas deixa claro que houve muita ilusão com a Copa. "Todos acharam que iriam lucrar, mas não é assim. Vou dar um exemplo, lembrando do Careca da autopeças. Ele achou que turista argentino ou holandes ou coreano iria trocar pastilha de carro só porque estava na Copa? Não é assim. Para uns, como o shopping, foi bom. Para outros, não. Mas agora vai ser bom para todos".
Legado deve ser positivo para Itaquera
Para explicar os efeitos positivos pós-Copa, Miguel lembra construções que foram feitas pelo Poder Público. "Foram feitas obras de mobilidade urbana como viadutos e vias de acesso que deixaram Itaquera a 20 minutos do Centro. Perto do estádio foram construídas uma Fatec, uma Etec e o novo Fórum. São pessoas que trabalharão ali. Eu sei que para a manutenção diária do estádio é preciso mil pessoas. Se somar tudo chega a quase dez mil pessoas. Como isso pode ser ruim? Como isso não vai trazer melhoria para a região?"
Manna discorda. "Quem lucrou mesmo foi Tiquatira e não Itaquera. A avenida da Copa, como eles chamam, não foi interrompida e parece que foi bem para eles. Nós ficamos presos por causa da segurança", diz. Miguel rebate dizendo que nada se pode fazer diante da recomendação de que houvesse interdição de vias públicas dois quilômetros longe do estádio em dias de jogos. "Sempre é assim, era necessário que fosse assim."
A Copa se foi e o estádio ficou. É uma realidade e os comerciantes buscam se adaptar. O shopping Itaquera vai fazer estudo sobre a movimentação nos domingos de jogo para decidir sobre possíveis mudanças no horário de funcionamento. E Manna promete buscar soluções para os que estão "ilhados"entre as duas estações.