Super parabólica transforma torcedor em PVC do Nordeste e olheiro de clube
Luiza Oliveira e Pedro Ivo Almeida
Do UOL, em Fortaleza (CE)
"Esse bom desempenho da Costa Rica na Copa não me surpreende. A evolução é nítida nos últimos anos. Uma hora eles iam chegar nas fases finais". A análise feita pelo técnico de telecomunicação Elenilson Dantas poderia ser facilmente confundida com a de algum especialista em futebol internacional. Mas é apenas um dos inúmeros comentários feitos pelo torcedor que instalou uma super antena parabólica em sua casa, em Fortaleza, para acompanhar o futebol em mais de 20 países ao redor do mundo.
Apaixonado por bola desde pequeno, o morador da capital cearense resolveu aproveitar o conhecimento técnico de sua profissão para fazer aquilo que mais gostava: assistir a jogos de futebol. E sem precisar sair do conforto do sofá de sua casa.
"Isso tem mais de dez anos. Foi entre 2002 e 2003. Eu tinha essa ideia e ficava pesquisando na internet até que consegui achar uma antena com base móvel que fosse capaz de capturar sinais de vários países. Achei uma loja em São Paulo, liguei pra lá e consegui. Gastei quase R$ 4 mil na época, além de ter que trazer um funcionário de lá para instalar a antena aqui em casa", relembrou.
A saga começou. Entre uma tentativa e outra, o técnico capturava os sinais de satélite no chamado "cinturão de clark" (região no espaço onde ficam os satélites estacionários) e descobria cada vez mais canais para acompanhar futebol quase 24 horas por dia.
"Primeiro, consegui sinais de todos os estados do Brasil. Hoje vejo campeonato acreano, piauiense, rondoniense, de Roraíma, tudo. Depois, coloquei canais de todos os países da América. Acompanho jogos na Argentina, Equador, Venezuela, Chile, Costa Rica, Honduras, México, Estados Unidos", enumera.
"A Costa Rica, por exemplo, eu conheço boa parte desse time. O futebol lá é uma coisa muito forte. Os estádios estão sempre cheios e o povo acompanha muito. Merecem essa fase", disse o torcedor que poderia ser facilmente confundido com o comentarista da ESPN Paulo Vinicius Coelho, visto a quantidade de informações sobre futebol ao redor do mundo.
E ainda que não tenha a mesma fama de PVC, Elenilson também dá seus pitacos após tanto assistir a futebol. Torcedor do Fortaleza, ele comanda um blog no site de um dos maiores jornais do Ceará.
A ligação com os bastidores do futebol também acabou sendo inevitável com tantas horas de jogos já acompanhados. Reconhecido nas redes sociais pela sua super antena e pela fama de acompanhar até as partidas mais improváveis, ele acabou sendo procurado por um dirigente do Botafogo de Ribeirão Preto e atuou como olheiro para contratação do volante Gilmak.
"Como eu falo muito de futebol e as pessoas conhecem a minha história, eu tenho muitos seguidores no Twitter. E um diretor de futebol do Botafogo me mandou uma mensagem perguntando se eu tinha algum jogador para indicar. Foi até uma DM (mensagem privada) para as pessoas não verem. Eu indiquei o Gilmak que é bom jogador, mas estava encostado no Fortaleza".
Ms ele afirma que não foi remunerado pela indicação e nem pensa em trabalhar como olheiro. "Eu não ganhei nada não. Eu observo os jogadores porque gosto e faço para ajudar. Mas é só hobby mesmo. Não penso em trabalhar com isso", diz ele que hoje trabalha em uma grande operadora de telefones do país.
Após desbravar o interior do Brasil e a América, Elenilson tentou "conquistar" outros continentes, mas a posição geográfica não permitia. "Por melhor que a antena seja, ela não consegue alcançar lugares como Ásia, parte da África e da Europa. É como se eles estivessem abaixo da linha do horizonte, limite da 'virada' dos satélites", explicou.
Ainda assim, o maníaco por futebol conseguiu achar sinais na região improvável. "Por algum motivo que não consegui identificar, cheguei a capturar sinais de jogos na Grécia e no mundo árabe. Não entendia muito bem a legenda, mas entrava na internet, pesquisava e acabava vendo todos os jogos. Eu seguia os campeonatos, com tabela e tudo", contou.
A loucura de acompanhar os mais incomuns não chegou a incomodar a família, que sempre aceitou bem o vício de Elenilson, mas deixou o técnico em telecomunicações sem dormir e alterou compromissos que pareciam impossíveis de serem modificados.
"Nos primeiros anos, era uma rotina maluca. Eu ia dormir às 4h para acordar às 6h e ir trabalhar. Não fazia nada. Só trabalhava e via jogo. Quando chegava em casa, já corria pro sofá. Era campeonato do Piauí, de Honduras, de tudo que era lugar. Até TV de Cuba pegava aqui. Cheguei a adiar o enterro da avó da minha esposa. O futebol era sagrado. Mas eu tive que diminuir um pouco".
Sem jogos de outros países na TV nas últimas semanas, Elenilson resolveu aproveitar a Copa de uma maneira diferente da habitual: indo aos estádios.
"Consegui acompanhar seis jogos: cinco aqui em Fortaleza e um em Natal. Foi bom para curtir. Mas daqui a pouco já volta tudo de novo no sofá de casa", encerrou, já ansioso para voltar a acompanhar jogos como os de Costa Rica e Grécia, mas em campeonatos locais. E pela televisão, como sempre.