Neymarzete, Hulkete e Davizete: entenda as groupies da seleção

Luiza Oliveira

Do UOL, em Fortaleza (CE)

Elas gritam tão alto que chegam a perder a voz e obrigam quem está do lado a tapar os ouvidos. Na porta do hotel onde os ídolos estão hospedados, elas viram noites e passam horas sem comer só para garantir o melhor lugar. Um mínimo sinal dos amados provoca crises intensas de choro e até ameaças de desmaios que beiram o desespero.

Tudo isso para realizar o sonho de estar perto do ídolo. O ápice é um abraço, um autógrafo ou uma foto, mas elas se contentam com bem menos. Um simples aceno do quarto do hotel já garante o dia, a noite, a semana.

Elas poderiam ser groupies fãs de uma banda de rock ou pop. O amor de fã, que elas definem como incondicional, poderia ser destinado a Justin Bieber ou aos integrantes do One Direction. Ou quem sabe a uma banda de rock nos anos 70, como os Rolling Stones.

Mas a idolatria é por um outro tipo de 'boy band'. Elas são as groupies da seleção brasileira. Nessa turma, Neymar, Thiago Silva, David Luiz e Hulk substituem à altura as estrelas do showbiz e fazem inveja a muito ídolo da indústria fonográfica.

O termo groupie foi usado pela primeira vez na década de 60 para definir garotas que perseguiam integrantes de bandas de pop ou rock. As adolescentes que fazem plantão para acompanhar os comandados de Felipão podem nem saber o que é isso, mas têm muitas semelhanças.

Em todas as cidades por onde a seleção passa, elas fazem plantões no hotel e ficam à espera da saída e da chegada do ônibus. Com cartazes bem chamativos, faixas e cartas quilométricas, elas fazem de tudo para atrair os olhares dos amados.

Uiara Borges é uma delas. Neymarzete assumida, ela guarda recortes de jornais e revistas e acompanha o craque do Barcelona todas as vezes que ele vai a Brasília. Ela diz que sofre até preconceito das pessoas próximas, mas não se importa.

"É um amor incondicional. O amor mais verdadeiro que existe, que é o amor de fã. Muitos chamam a gente de maluca, desocupada. Poucas pessoas sabem o que passamos para estar aqui", conta.

Também na capital federal, as irmãs Luiza e Julia têm outro objeto de admiração. Elas são tão fãs de David Luiz que chegaram a passar uma madrugada em frente ao hotel da seleção. No dia seguinte, o zagueiro foi até o local para atender os fãs.

Desesperadas por um autógrafo, as duas se espremeram entre milhares de pessoas e colocaram em risco até a própria saúde. Luiza teve uma crise de claustrofobia e precisou se afastar para ser atendida. Depois de chorar muito por causa dos momentos de desespero que passou, o que ela lamentou mesmo foi ficar sem o autógrafo. "A gente chegou antes de quase todo mundo e ficou sem".

Consultada pelo UOL Esporte, a psicanalista Claudia Ventura analisa essas reações extremadas diante do ídolo. "O que elas querem é ter esse amor correspondido. Isso pode ser com tchauzinho ou um beijinho saltado. Sobre os gritos e essas reações histéricas, muitas pessoas acham que elas fazem para aparecer. Mas são reações espontâneas", afirma.

Na visão da especialista, o fenômeno é normal na vida de qualquer pessoa e costuma passar com a maturidade. Ela explica o motivo de o sentimento ser tão aflorado no período da adolescência.

"Ao longo da vida, desde a infância, a gente vai experimentando afetos que vão ficando latentes. Com o tempo, eles se manifestam em determinadas situações que a gente nem sabe o motivo. O amor infantil que a gente sente pelos pais. Esse amor fica lá guardadinho e na adolescência volta e é dirigido a outro, no outro idealiza, por isso elas têm ídolos", disse.

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