Médico diz que goleiro Fábio Costa já jogou com lesão como a de Neymar
Guilherme Costa
Do UOL, em São Paulo
A Copa do Mundo do atacante Neymar acabou no segundo tempo do jogo contra a Colômbia, válido pelas quartas de final. O brasileiro foi atingido pelo lateral Zuñiga em disputa de bola pelo alto e sofreu fratura na terceira vértebra da lombar. Não conseguiu virar o corpo quando estava no chão, chorou muito e saiu do gramado do Castelão diretamente para um hospital. Mas um compatriota do camisa 10 teve história bem diferente em uma lesão semelhante.
O caso aconteceu no início dos anos 2000 com o goleiro Fábio Costa, que na época defendia o Santos. Após sofrer um trauma nas costas, o camisa 1 passou a reclamar de dores no local. Fez tratamento fisioterápico e recebeu injeções de anti-inflamatório. E só depois de três semanas é que uma lesão foi diagnosticada.
"Sabe como é o Fábio, né? É muito difícil que ele seja afastado do time por qualquer dor. Ele tinha um incômodo forte, e esse incômodo persistiu. Quando eu soube, achei que havia alguma coisa e pedi uma ressonância magnética. O exame acusou uma lesão muito parecida [com a do Neymar]", relatou Carlos Braga, que era médico do Santos na época.
Segundo Braga, o exame de Fábio Costa apontou uma lesão na apófise transversa. O jogador deixou de atuar depois que o problema foi constatado, e o tratamento foi baseado em repouso, medicação e fisioterapia.
"Esse não é um caso que tem indicação de infiltração. Você anestesia um pouco quando faz infiltração, mas isso não pega toda a musculatura, que é forte nos dois lados. A fratura em si não deixa nenhuma sequela, mas a parte de espasmo muscular é muito grande", apontou o médico.
Exatamente por causa da musculatura, Braga considera inviável que o processo de medicação e tratamento consiga deixar Neymar apto a disputar um jogo ainda na Copa de 2014: "O grande problema dessa fratura é que o grupo muscular que acompanha a vértebra é muito grande. Não tem nada que você possa usar para fazer um bloqueio ali. Uma medicação precisaria ter intensidade tão grande que comprometeria a mobilidade. A dor poderia sair momentaneamente, mas isso prejudicaria os movimentos".
A participação de Neymar nas partidas restantes da Copa do Mundo foi descartada ainda na sexta-feira, dia do jogo entre Brasil e Colômbia. O jogador foi submetido a exames como tomografia computadorizada e ressonância magnética, e o departamento médico da seleção oficializou transmitiu a notícia a ele assim que viu os resultados.
"No momento em que eu passei a informação, ele ficou emocionado e chorou muito", disse em entrevista coletiva o médico da seleção brasileira, José Luiz Runco. Os jogadores também ficaram abalados quando souberam. "Foi muito difícil, e não apenas pelo que ele representa em campo. Perdemos uma pessoa muito importante no dia a dia da equipe", afirmou neste domingo o atacante Bernard.
No sábado, Neymar deixou a concentração da seleção brasileira em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, e viajou de helicóptero para a casa da família dele, que fica no Guarujá (litoral de São Paulo). Horas depois, recebeu visita de Mauricio Zenaid, que é médico do Santos e foi por conta própria conversar com o atacante. Após análise preliminar, ele mostrou otimismo sobre a recuperação do camisa 10 e até cogitou um retorno antecipado do atacante aos gramados se o Brasil avançar à decisão da Copa.
O otimismo foi prontamente rechaçado pelo estafe de Neymar. Os profissionais que trabalham com o jogador emitiram nota oficial descartando infiltrações ou tratamentos alternativos para que ele esteja em campo ainda na Copa de 2014. "O retorno dele aos gramados depende das superação das dores que ele sente", diz o texto.
Entretanto, existe um debate entre médicos sobre o caso. "O processo de recuperação é biológico. Só tiraria a dor. Não tem nada a ver com evolução. Processo de recuperação é biológico. Nenhum médico tem dom de acelerar a recuperação de uma fratura. Não adianta fazer infiltração ou qualquer coisa", opinou o ortopedista Moises Cohen.
"Não estou falando do Neymar 100%, mas de uns 70% ou 80%. E aí, mesmo sem as condições ideais, estamos falando do Neymar. Essa fratura é a mais tranquila possível entre as fraturas na coluna. Se você pegar a entrevista do Rodrigo Lasmar [médico da seleção brasileira] vai ver que o problema dele é só a dor. Em momento algum houve preocupação com a fratura na coluna, que está estável", discordou o ortopedista Sidney Schapiro.