Um telão, um palco, uma praça. Podia ser o Vale do Anhangabaú e seus 25 mil visitantes diários na festa oficial da Fifa, mas é Perus. Trinta quilômetros a noroeste do centro, a Praça do Samba tem recebido até quatro mil pessoas por jogo do Brasil desde a estreia da seleção na Copa do Mundo em 12 de junho. A cada partida, o conhecimento sobre o 'point' se espalha e mais gente comparece.

Sexta-feira foi dia de Brasil e Colômbia pelas quartas de final. Havia ali – como possivelmente em todo o país – um misto de desconfiança e ansiedade que a maioria tratava de dissimular mostrando confiança exacerbada não só na vitória sobre os "irmãos sul-americanos", mas no título do Mundial.

Uma hora antes do início do jogo, a praça ainda estava vazia. Por causa desta tendência, aliás, é que a subprefeitura mudou a programação: a princípio, eram duas horas de shows antes e uma hora de shows depois. No entanto, pelo fato de a maioria dos moradores trabalharem nas regiões mais centrais e não conseguirem chegar a Perus com tanta antecedência, os planos foram invertidos. Agora, há uma hora de show antes do jogo do Brasil e duas horas após.

São Paulo na Copa do Mundo é o Anhangabaú, sim, com sua Fan Fest. É a Vila Madalena de ruas tomadas e cabo-de-guerra entre moradores e frequentadores. E é também outras centenas de bairros que abrigam os 11 milhões de paulistanos numa área de mais de 1,5 mil quilômetros quadrados. Em São Paulo, não é só a área central que quer e que tem Copa.

Para tentar atender à demanda de alguns dos bairros distantes do centro, a prefeitura escolheu três pontos para colocar telões e promover shows de artistas locais antes e depois das partidas do Brasil.

Além da Praça do Samba, há telões no Parque Jacuí, que fica em São Miguel Paulista, zona Leste quase na divisa com Guarulhos, e na Praça João Tadeu Priolli no bairro do Campo Limpo, zona Sul, perto do município de Taboão da Serra. Nestes dois últimos, a capacidade é um pouco menor, de cerca de duas mil pessoas.

Em Perus, a Praça do Samba finalmente lota, mas não a ponto de tirar o espaço das crianças que brincam ou dos que levaram enormes isopores de bebida para compartilhar entre amigos. Ambulantes não são permitidos na praça, mas o entorno tem bares suficientes para matar a fome e a sede dos não tão prevenidos.

O clima é totalmente familiar. A policial militar abaixa para beijar as filhinhas gêmeas que chegam para visitar, o policial da Guarda Civil Metropolitana cumprimenta com beijos no rosto as PMs que encontra. A segurança da praça é feita pelas duas polícias e o trânsito no entorno é fechado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), interdição que provoca alguns quilômetros de congestionamento desde a entrada do bairro a partir da Rodovia Anhanguera.

A partida começa e a voz de Galvão Bueno toma conta, mas não antes do hino a capela ser entoado em conjunto com os jogadores e os torcedores no estádio em Fortaleza. Gol do Brasil. Êxtase.

A noite vai caindo e, quando tem início o segundo tempo, a atmosfera já é outra. As famílias seguem por ali, mas aqueles que bebiam desde antes da partida começam a sentir os efeitos. A paquera é outro movimento que se intensifica, e na mesma medida em que o nervosismo aflora. É que o placar de 2 a 1 para o Brasil só se torna confortável ao som do apito final, quando explodem em comemoração os paulistanos de Perus e seus convidados -- veio também gente de municípios vizinhos, como Caieiras e Cajamar. Começa o show que vai servir de cenário para a festa que não deve terminar tão cedo.

Satisfeitos com o comparecimento do público neste que já foi um 'point' do bairro e volta a sê-lo com a Copa do Mundo, prefeitura, subprefeitura e SPTuris se preparam agora para atender uma demanda ainda maior nos dois próximos jogos do Brasil. Nesta terça, a semifinal com a Alemanha. Depois disso, a disputa do terceiro lugar no sábado ou a grande final no domingo, 13 de julho.