Fan Fest de SP vira "Central Park" e se opõe à badalada Vila Madalena
Patrick Mesquita e Verônica Mambrini
Do UOL, em São Paulo
O que você prefere? Uma tarde tranquila na grama, com uma cerveja na mão e futebol, ou uma balada improvisada na rua com "pegação" e bebidas mais fortes? Pois a Copa do Mundo proporcionou as duas opções para quem está na cidade de São Paulo. Com ambientes completamente distintos a cerca de 8 km de distância, Fan Fest e a Vila Madalena têm sido as sensações entre turistas e locais que pretendem aproveitar o Mundial.
Visto como perigoso por muitos dos paulistanos, o centro de São Paulo ganhou uma cara diferente com a Fan Fest montada no Vale do Anhangabaú, principalmente durante as partidas das 13h. Quem passa pelo lado de fora pode até se assustar com o número de grades pouco convidativas, mas quem está dentro experimenta uma sensação diferente.
Por causa do calor que tem feito na capital paulista nos últimos dias, um grande número de turistas estrangeiros transformou o espaço destinado para a transmissão de jogos em uma espécie de parque. O que não faltam são cangas estiradas na grama e pessoas despreocupadas se bronzeando ao sol. Quem prefere evitar o clima, se distribuiu entre as mesas que ficam sob a sombra das árvores ou nos quiosques de alimentação. É o caso dos ingleses, que não estão sempre colados no bar. Há também que aproveite a hora do almoço para dar uma "fugidinha", dar uma olhada no movimento ou apenas relaxar.
Como parte da metrópole está em horário de trabalho durante a tarde, o local dificilmente recebe grande lotação. Assim, é fácil ver famílias transitando pelo ambiente, que tem entrada gratuita e forte segurança feita por homens da Polícia Militar. Basta uma pequena caminhada e já é possível notar uma verdadeira mistura de nacionalidades. Ingleses, alemães, croatas, holandeses, tailandeses e até mesmo turistas do Omã conversam e tomam cerveja assistindo às partidas. O ponto alto sempre são os duelos de sul-americanos, que contam com a maior parte dos espectadores.
A satisfação com o novo ambiente também está estampada no rosto de boa parte dos paulistanos que vão à Fan Fest, principalmente quando o tema é interação com pessoas de outros países. Animados, os brasileiros sempre pedem para tirar foto ao lado de algum turista. O intercâmbio cultural só não é maior com os europeus e americanos porque boa parte dos frequentadores locais não fala inglês. No entanto, a barreira não parece ser um problema para nenhuma das partes.
Alguns moradores de rua aproveitam a simpatia dos estrangeiros para pedirem goles de cerveja. A reportagem do UOL Esporte presenciou largos abraços entre alemães e um morador de rua, que não parava de elogiar o time europeu em troca de um gole de cerveja. Mesmo sem entender uma palavra sequer, os turistas sorriram e deram um copo para o homem, que minutos depois arrancava risadas de um grupo de russos.
"O povo daqui é muito gente boa. Os brasileiros nos recebem muito bem. Acredito que todos vão deixar o Brasil com uma boa impressão", diz a russa Yulia, que pretende ficar em São Paulo até o fim da competição.
O contraponto do clima tranquilo no centro é a Vila Madalena. Tradicional bairro boêmio da zona oeste da capital e conhecido pelo número de hostels, o local despontou por conta do marketing "boca a boca" e da promessa de gringos. Logo, o que era um lugar de interação tranquila entre brasileiros e estrangeiros virou uma verdadeira balada a céu aberto, principalmente em jogos do Brasil.
O suposto interesse feminino nos estrangeiros transformou o lugar em uma espécie de carnaval de rua, mas o número de gringos "originais" vem caindo conforme os locais descobrem a festa. Assim, os brasileiros não deixam por menos e abordam as mulheres com frases em espanhol e, quase raramente, inglês. Mas diante de uma resposta no idioma estrangeiro, se atrapalham, gaguejam, e não conseguem manter a conversa. Alguns dos rapazes começam até a cochichar entre si para decidir a melhor resposta, enquanto a moça espera alguma reação. Mas as garotas também não estão muito preocupadas se os estrangeiros são "falsos" ou de verdade: se o moço é boa pinta e atrai a atenção, pode dar jogo. O importante é não voltar para casa no zero a zero. O ímpeto é tanto, que alguns rapazes puxam garotas para forçar um beijo.
"Está clima de carnaval aqui. O plano hoje é provar a micareta internacional. Mas se aparecer um brasileiro interessante, eu pego. Agora, essa história de falar idiomas estrangeiros, não precisa fingir, né?", afirma Daniele Miranda.
Vale destacar que nos primeiros dias da Copa do Mundo, a Vila Madalena realmente contava com um clima amistoso entre brasileiros e estrangeiros. No entanto, a situação se inverteu com o passar dos dias e no fim da primeira fase é mais fácil encontrar paulistanos do que pessoas de outras nacionalidades.
O clima universitário também é um dos "destaques" do local. Em determinado momento, a reportagem do UOL Esporte notou gritos de guerra de universidades da cidade de São Paulo.
A farra em que o bairro se transformou nos últimos dias, principalmente na Rua Aspicuelta, não agrada todo mundo. O pouco espaço e ausência de banheiros químicos leva alguns homens a se "aliviarem" nas paredes de ruas mais desertas, o que irrita os moradores do local.
"É minha primeira micareta, só que involuntária", criticou Luisa Poli, que mora na Vila Madalena.
Apesar do aperto para assistir aos jogos, por causa da lotação, a "pegação" na Vila Madalena é favorita entre os paulistanos, muito por causa da suposta segurança que o bairro transmite. Enquanto isso, a Fan Fest do centro de São Paulo, temida por brasileiros, é um ponto de pura paz para os turistas estrangeiros.
"Vim para cá por causa do 'fervo'. Como vim de metrô, devo ficar de agora, umas 15h, até perto da meia noite. Além do agito, melhor aqui do que na Fan Fest porque aqui não tenho medo".