Trocar 13 por 33? As mandingas do técnico da Argentina para ganhar a Copa

Carolina Juliano

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução

    Quartos da Cidade do Galo para receber os jogadores argentinos foram renumerados pela AFA

    Quartos da Cidade do Galo para receber os jogadores argentinos foram renumerados pela AFA

Para dizer que o técnico da Argentina, Alejandro Sabella, é 'exquisito' temos que esperar o fim do Mundial e ver até onde ele conseguiu levar a sua seleção para saber se faz jus ao elogio. A palavra é um falso cognato e significa, em espanhol, "de qualidade extraordinária". Mas para chamá-lo de esquisito em português basta conhecê-lo um pouco para taxá-lo sem medo.

O comandante da tropa que tem como principal soldado Lionel Messi tem manias que quem o vê tão sério, contido e compenetrado nas raríssimas aparições para a imprensa nem imagina. Se fosse por sua vontade, não falaria nunca com ninguém, o faz para cumprir com as obrigações da Fifa e os protocolos da Copa do Mundo. Ou mais, o faz para cumprir rituais.

Amigos próximos de Sabella, que o acompanham na concentração na Cidade do Galo, em Minas Gerais, contam que o treinador anda mais supersticioso do que nunca. "Você o viu dar alguma entrevista fora das obrigatórias para alguém?", diz um eles quando levantamos a hipótese de um encontro com o UOL. "Não falou com ninguém e está ganhando. Não vai quebrar isso por nada", explica.

Dizem que o treinador não tem nem atendido a telefonemas de amigos em seu celular. Por falta de tempo? Não necessariamente. Sempre sobra uma folguinha para isso. Por pura superstição. O que deu certo na primeira partida da Argentina contra a Bósnia, no Maracanã, nunca mais foi mudado. E assim será até o fim. "Quem sabe, se perder, ele reveja o pedido de entrevista, mas nem se pode falar sobre essa possibilidade perto dele", diz outra pessoa próxima.

Queria sentar no outro banco do Mineirão

Superstição, aliás, que não escondeu antes da segunda partida de sua equipe na Copa do Mundo, diante do Irã, no Mineirão. Sabella fez um pedido especial à Fifa para sentar-se no banco de reservas que estava destinado ao time adversário porque foi ali que se sentou quando venceu a Copa Libertadores de 2009 em cima do Cruzeiro, comandando o Estudiantes de La Plata. O pedido foi negado por uma questão de mando de jogo. Resignado, o treinador teve que se apegar a outras coisas.

Na Cidade do Galo, centro de treinamento do Atlético Mineiro emprestado para a Argentina viver e treinar durante a Copa, Sabella já viu indícios de azar antes mesmo de chegar. Sem prévio conhecimento da seleção, a Associação Argentina de Futebol (AFA) instalou um portal de boas vindas que tratava os jogadores como "futuros campeões". Tudo foi removido e trocado antes da chegada da seleção.

Os quartos do CT do Atlético também tiveram que ser renumerados antes da chegada da equipe argentina. As instalações dos jogadores e comissão técnica vão do número 1 ao 20, mas o quarto de número 13 (o azar) foi trocado para 33, e o 17 (a desgraça) ganhou o número 77.

Recebeu um carro emprestado e não devolveu mais

Os rituais, manias, 'cábalas' de Alejandro Sabella já são conhecidos da imprensa argentina. O jornalista especializado em Economia e Negócios e amigo do treinador, Claudio Destéfano, já contou que antes da partida que a Argentina venceu a Colômbia por 2 a 1 em Baranquilla, pelas eliminatórias da Copa, a Peugeot emprestou a ele um carro preto, modelo 508.

Como desde aquele dia, em novembro de 2011, a seleção não perdeu mais, por superstição, Sabella não quis devolver o carro para manter a onda de vitórias. Além disso, sempre dava uma voltinha com ele antes de cada partida para não quebrar o feitiço.

A Peugeot, então, teria lhe proposto que o carro emprestado poderia virar um presente, na condição de nunca vendê-lo, caso ganhasse a Copa do Mundo. E o jornalista e amigo conta que no dia em que foi feita a proposta, no Sofitel de Los Cardales, nas cercanias de Buenos Aires, ele viu Sabella dando tapinhas no teto do carro dizendo "neguinho, neguinho... se ganho você ficará comigo para sempre".

Um casaco lhe deu a Libertadores

Vale prestar atenção quando a Argentina entrar em campo pelas quartas de final neste sábado, às 13h, em Brasília, na maneira como o treinador estará vestido. A roupa, gravata, sapatos, óculos. Isso porque ele deve repetir o ritual de usar sempre pelo menos uma das peças de roupas na partida. Na campanha do Estudiantes pela Libertadores da América de 2010, Sabella usou o mesmo pulôver café com leite em todas as partidas. Quando fazia calor, levava o casaco para o banco de reservas e não se separava dele.

Durante a mesma temporada à frente do Estudiantes, o treinador não concedia nunca entrevista antes dos jogos. Mas abriu uma exceção antes da partida contra o Tigre, e falou com um jornalista do canal TyC Sports. O Estudiantes perdeu a invencibilidade e o jogo, por 2 x 1. Sabella se calou. E parece que para sempre. E se fechou em sua crença que não deve ficar longe daquela que diz "yo no creo en las brujas, pelo que las hay, las hay" (eu não acredito em bruxas, mas que existem, existem).

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos