'Quando tem jogo, durmo duas horas por noite', diz moradora da Savassi

Isabela Noronha

Do UOL, em Belo Horizonte

  • Isabela Noronha/UOL

    Astrid Guimarães mudou sua vida para driblar as torcidas que se reúnem na Savassi, em Belo Horizonte

    Astrid Guimarães mudou sua vida para driblar as torcidas que se reúnem na Savassi, em Belo Horizonte

Não é só de Felipão e de sua equipe técnica que os jogos da Copa do Mundo vêm tirando o sono.Moradores da Savassi, centro-sul de Belo Horizonte, também têm dormido pouco neste Mundial, principalmente quando a seleção entra em campo e milhares de torcedores lotam a região – após a vitória do Brasil sobre o Chile no Mineirão, no sábado (28), estima-se que eles chegavam a 30 mil.

"O barulho é muito intenso. Nos dias de jogo do Brasil, a gente dorme duas horas por noite, ainda assim, só quando amanhece", conta a dona de casa Junia Faria, de 59 anos, que vive no segundo andar de um edifício colado à Rua Antônio de Albuquerque.

"Depois das partidas, fica o 'zum zum zum' na rua, o povo tocando corneta e soltando bomba", completa. Apesar do incômodo, a dona de casa diz estar acostumada à festa e acha a agitação debaixo de sua janela natural.

Garagem de moradora ficou bloqueada
O verdadeiro transtorno, aponta Júnia, é a garagem. A entrada fica no quarteirão fechado da Rua Antônio de Albuquerque que, por ter um grande número de bares, é uma das áreas mais cheias da Savassi durante os jogos.

Nos dias do evento 'Savassi Cultural', que acontece durante o Mundial e leva shows e exposições à região, a rua fica cercada de grades.

"Não conseguimos acessar", diz a dona de casa. "Temos que fazer as compras de manhã e voltar. Depois, se quisermos sair, só pela janela", brinca.

Vizinha de Júnia, a aposentada Astrid Guimarães, de 75 anos, também reclama da dificuldade de chegar à garagem. "Em um sábado de jogo do Brasil, não consegui entrar", conta. "Nem a polícia ajudou. Precisou vir um rapaz do evento (Savassi Cultural) e abrir caminho na multidão", diz.

O responsável pela organização do Savassi Cultural, Christiano Rocco, afirma que todos os moradores dos prédios da região foram avisados sobre o evento antes da Copa e receberam credenciais para acessarem a garagem.

"Pode ser que ela não tenha sido encontrada quando as credenciais foram entregues", explica Christiano. "Mas nos reunimos depois e nos colocamos à disposição dela", diz.

Astrid confirma ter conversado com Christiano e ter recebido a credencial depois das dificuldades de sábado. Mas diz que ainda não precisou usá-la. "Não saí mais no horário do jogo. Precisei mudar minha vida", lamenta.

Para a aposentada, os problemas não param aí. "E a sujeira, e o fedor de xixi?", questiona. Ela, que chegou a acionar a Amas (Associação de Moradores e Amigos da Savassi) para tentar minimizar os transtornos, não pensa em sair do imóvel, onde vive com o marido há 48 anos. "Não tenho para onde ir. E o apartamento é nosso. Vou largar a minha casa?"

Situação melhorou com mais banheiros
Segundo Alessandro Runcini, presidente da Amas, a maioria dos moradores da região, que é 60% comercial, está satisfeita com a festa no local. "Houve os problemas do começo, como a falta de banheiros químicos, por exemplo, mas agora foram resolvidos", diz.

A dona de casa Júnia concorda que a situação melhorou desde o início do Mundial. "O cheiro não está mais tão ruim. Só na hora da festa é que mistura urina e cerveja", afirmou. De acordo com a prefeitura, havia 172 banheiros químicos na Savassi no sábado (28), quando a seleção enfrentou o Chile no Mineirão. No início da Copa, eram apenas 20.

Para a dona de casa, há pontos positivos de se morar no centro do agito. "Meus filhos podem ficar lá na rua comemorando e há muitos policiais", disse.

Quando a Copa do Mundo acabar, ela acredita que terá de lidar com uma mistura de sentimentos. "Vou pensar assim: que bom, hoje eu vou deitar e dormir. Mas acho que ficaremos com saudade também", diz.

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos