Variação climática vira vilã da Copa e ameaça Brasil nas quartas de final
Guilherme Costa
Do UOL, em São Paulo
-
Best Photo Agency & C / Pier Gia
Mats Hummels, jogador da Alemanha, teve febre e foi vetado de jogo da Copa por causa de variação climática
Entre 1982 e 2006, todas as Copas foram disputadas no calor. Em 2010, na África do Sul, o Mundial aconteceu no frio. E em 2014? A resposta depende. Com 12 sedes, o Brasil tem apresentado um desafio extra às 32 seleções que participam da competição: a variação climática. O assunto já motivou debates acalorados em seleções como Alemanha e Portugal, e nesta semana voltará ao caminho da seleção brasileira. O time comandado por Luiz Felipe Scolari treina em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro, mas vai enfrentar a Colômbia em Fortaleza pelas quartas de final da Copa.
Na segunda-feira, por exemplo, a temperatura de Teresópolis ficou abaixo dos 20ºC, com umidade na casa de 76%, segundo o site "ClimaTempo". O treino vespertino da seleção foi realizado sob forte neblina.
No mesmo momento, Fortaleza tinha tarde ensolarada. As temperaturas da capital cearense têm oscilado na casa de 30ºC durante esta semana – a previsão para sexta-feira é uma variação entre 23ºC e 31ºC, com 60% de umidade.
O Brasil já foi submetido a essa variação na segunda rodada da fase de grupos da Copa. O time da casa deixou Teresópolis para jogar em Fortaleza contra o México, e a partida acabou empatada por 0 a 0.
"As mudanças bruscas têm efeito na fisiologia respiratória e demandam adaptação. O ser humano tem temperatura constante, e quando vamos para extremos os vasos sanguíneos têm de compensar isso", explicou o pneumologista Rodrigo Abensur Athanazio.
Quando o corpo muda do calor para o frio, a vasoconstricção ajuda a manter o calor. Se a alteração é o contrário, a vasodilatação acelera a dissipação. Isso afeta todo o sistema respiratório.
"Para quem tem problema alérgico, isso pode gerar crise de rinite, bronquite ou asma. Para quem não tem doença alérgica, pode favorecer para ter infecções. E quando você altera essa fisiologia respiratória, os mecanismos de defesa do corpo também podem ser prejudicados", disse Abensur Athanazio.
"Toda vez que você muda de temperatura você tem alteração de via aérea. As vias podem ressecar e podem proporcionar rinite, que é uma alergia, ou podem ser mais propícias para um vírus", completou o infectologista Ralcyon Teixeira.
Em âmbito respiratório, a pior mudança é do calor para o frio. No entanto, o inverso também pode causar problemas para o organismo dos atletas. "Um lugar frio tem maior circulação de vírus de resfriado e gripe. É um momento de pessoas mais aglomeradas. Quando você vai do frio para o quente, ainda mais se for um ambiente praiano, precisa tomar mais cuidado com os alimentos, que podem estar infectados com bactérias", afirmou Teixeira.
O movimento que o Brasil fará nesta semana foi tema de polêmica na preparação de Portugal para a Copa. A seleção europeia escolheu Campinas como base durante o torneio, e a cidade do interior de São Paulo tem temperaturas amenas. Os lusitanos foram eliminados na primeira fase, depois de terem disputado partidas em Salvador (derrota por 4 a 0 para a Alemanha), Manaus (empate por 2 a 2 com os Estados Unidos) e Brasília (vitória por 2 a 1 sobre Gana).
"Como a federação, sabendo as três cidades da primeira fase, toma essa decisão? Bastava pegar as estatísticas e as médias de temperatura. Tem uma diferença de dez graus", disse o jornalista português Octavio Lopes, do jornal lisboeta "Correio da Manhã", ao diário brasileiro "Lance!".
A Alemanha fez o contrário. A seleção germânica escolheu Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia, como sede durante a Copa. De lá saiu para jogos da primeira fase em regiões igualmente quentes (Salvador, Fortaleza e Recife). Na última segunda-feira, viajaram ao frio para bater a Argélia por 2 a 1 nas oitavas de final.
A variação causou um desfalque de última hora. O zagueiro Hummels, com febre foi vetado pouco antes da partida e voltou à Bahia. "Você troca de clima muitas vezes, e isso é difícil. Jogamos três vezes no calor, hoje enfrentamos o frio. Não é fácil conviver com isso", declarou o ex-atacante Oliver Bierhoff, atual diretor técnico da seleção alemã, depois da vitória de segunda-feira.