"Ótima geração belga" vira meme e esconde história da "geração de ouro"
Do UOL, em São Paulo
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AFP PHOTO / MARTIN BUREAU
O meia belga Fellaini, um dos jogadores que fazem parte da chamada "ótima geração belga"
Deboche e euforia são ingredientes que vão acompanhar a Bélgica até o final de sua participação na Copa do Mundo de 2014. Voltando a disputar a competição após um hiato de 12 anos, a seleção cuja federação é uma das fundadoras da Fifa entra no jogo desta terça (1), contra os Estados Unidos, como a única das 31 participantes do Mundial a ter uma espécie de slogan que a define. A tal "ótima geração belga" alimentada por comentaristas dos campeonatos europeus e turbinada pelas redes sociais que ajudou a resgatar a fama de uma seleção que já havia tido uma 'outra' geração promissora.
Com as três vitórias na fase de grupos, porém, a seleção que enfrentará os americanos na Fonte Nova frustrou um pouco àqueles que tanto ouviram falar da "ótima geração belga". As dificuldades enfrentadas contra a Argélia na estreia, o jogo modorrento contra a Rússia e a partida burocrática contra uma iminente eliminada Coreia do Sul fizeram diminuir um pouco a empolgação de quem acompanhou de perto o desempenho da Bélgica nas eliminatórias europeias e, principalmente, a performance dos seus jogadores por suas respectivas equipes.
Jogadores que disputam as temporadas dos campeonatos europeus que têm suas partidas transmitidas para o mundo todo toda a semana e que geraram expectativa ao longo dos últimos quatro anos, quando a Bélgica foi se credenciando para disputar a Copa no Brasil.
Alta expectativa
O goleiro Courtois, os defensores Kompany, Vermaelen e Vertonghen, os meio-campistas Fellaini, Witsel e os atacantes Hazard, Mirallas e Lukaku se tornaram a espinha da tão elogiada nova geração. Detentora da terceira melhor campanha nas eliminatórias europeias (atrás apenas da Alemanha e Holanda, empatadas), a Bélgica que busca uma vaga nas quartas de final, porém, nunca conquistou unanimidade. O tratamento de "ótima geração belga" sempre reservou uma dose de desconfiança, manifestada por torcedores no Twitter e no Facebook.
Alguns críticos do marketing que envolveu a seleção belga ironizaram: "A imprensa transformou o negócio numa espécie de Sandy posando pra Playboy", disse um internauta, debochando do nível de expectativa em cima da equipe comandada por Marc Wilmots. "Cai nas oitavas. Sem novidades, como Nana Gouvêa na Sexy", brincava outro.
A expectativa criada, porém, pegou em cheio dentro da seleção da Bélgica. Seu técnico não tem escondido a irritação por ser cobrado por um futebol que não foi jogado do jeito que os empolgados com a equipe imaginavam.
"Todo mundo falava que a Espanha era maravilhosa antes da Copa. Temos uma equipe ótima e que conquistou 11 vitórias e 2 empates nos últimos jogos. Deixamos as pessoas reclamarem o quanto quiserem, não importa. Se não ganharmos agora, ganhamos em dois anos (na Eurocopa). As pessoas podem dar as opiniões que quiserem", declarou Marc Wilmots antes do jogo contra os EUA, citando a atual campeã mundial, eliminada precocemente na primeira fase do Mundial.
A outra geração
Wilmots, por sinal, é o representante da Bélgica que disputou sua última Copa do Mundo. Em 2002, foi dele o polêmico gol anulado que permitiu ao Brasil uma apertadíssima vitória por 2 a 0 que garantiu a vaga nas quartas de final. Terminava ali a mais importante trajetória do futebol mundial no cenário internacional.
A Copa disputada na Coreia do Sul e do Japão encerrava uma sequência de seis participações consecutivas da Bélgica no torneio. Os "Diabos Vermelhos", como é conhecida a seleção belga, não perdera nenhuma edição do Mundial desde a Espanha-1982, embrião do que seria a 'outra' geração belga. A chamada "geração de ouro".
Formada por jogadores que virariam referência das pequenas grandes histórias da Copa do Mundo, a Bélgica, que não jogava a competição desde 1970, mostrou suas garras logo na estreia, quando venceu a campeã mundial de então, a Argentina de Maradona. O 1 a 0 apresentou ao mundo o goleiro Pfaff, o zagueiro Gerets e os atacante Ceulemans e Vanderbergh, autor do gol da primeira partida do Mundial da Espanha.
Eliminada na segunda fase, a Bélgica saiu fortalecida para, quatro anos depois, atingir a sua melhor campanha em Copas. Mantendo seus jogadores mais importantes, a seleção foi fortalecida por jovens promissores, como o zagueiro Clijsters e De Wolf e o meia Scifo, de apenas 20 anos e que jogaria as três edições seguintes do Mundial.
Com uma vitória épica contra a União Soviética (4 a 3) nas oitavas e uma dramática vitória nos pênaltis contra a Espanha, a Bélgica chegou até a semifinal. E sucumbiu a Diego Maradona, que marcou os dois que levaram a Argentina até a final contra a Alemanha. Derrotada na disputa do terceiro lugar pela França, a Bélgica saia do México com a sua maior história desde 1904.
Tratado como o local onde ocorreu a primeira partida do continente europeu – em 1860 - depois da formatação do futebol sair da Inglaterra, a Bélgica criaria a sua federação apenas em 1904, mesmo ano em que ela própria ajudava a formar a Federação Internacional de Futebol Associado, a Fifa. Um legado que, para quem está ouvindo tanto falar da atual "ótima geração belga", não é mais suficiente.