Zidane? Destaque da França idolatra Okocha e não abandona raízes africanas

Patrick Mesquita

Do UOL, em São Paulo

É possível amar dois países de continentes diferentes? Para Blaise Matuidi isso é mais do que uma possibilidade. Um dos principais nomes da França até aqui na Copa do Mundo, o volante defende a camisa da seleção francesa com a garra de poucos nos últimos tempos, mas boa parte de sua vida está ligada a outro amor: a África.

Matuidi é filho de pai angolano e de mãe francesa com descendência congolesa. Nascido em Toulouse, no sul da França, sua família se mudou quando ele ainda era bebê e boa parte da infância foi vivida em Fontenay-sous-Bois, no subúrbio de Paris.

O primeiro contato com o futebol veio no começo da década de 90, quando tinha seis anos. E de forma bem distinta. Enquanto muitos garotos franceses admiravam Eric Cantona, Didier Deschamps ou Laurent Blanc, Blaise tinha um gosto diferente dos demais. Por causa da forte ligação com a África, ele sempre teve como ídolo o nigeriano Jay-Jay Okocha, que defendeu o Paris Saint-Germain na época.

O volante, que hoje atua pelo PSG, nunca escondeu que a idolatria pelo astro da Nigéria foi essencial para despertar o interesse no esporte, mas curiosamente o jeito de jogar é completamente diferente da maior inspiração.

Enquanto Okocha era uma estrela reconhecida pela habilidade individual, Matuidi tem se destacado pela forte marcação e futebol mais "solidário", sem aparecer mais do que deveria. Prova disso é o bom desempenho na saída de bola. Até agora, ele acertou 164 dos 187 passes que tentou, um aproveitamento de 88%. Além disso, anotou um dos gols na goleada por 5 a 2 sobre a Suíça e, com 30 km corridos nos jogos da primeira fase, é o líder da seleção francesa na distância percorrida. A forma física e a disposição defensiva renderam o apelido de "chiclete".

A forte relação com a África não está apenas no esporte. Mesmo escolhendo defender a França como jogador, Matuidi não esquece as raízes e recentemente demonstrou interesse em abrir escolas de futebol em Angola para ajudar no desempenho esportivo do país africano.

"Apesar de hoje ser francês, reconheço as minhas origens e gostaria de dar a minha contribuição para que apareçam outros talentos do futebol em Angola, principalmente na terra dos meus pais", destacou durante encontro com políticos angolanos em Paris.

Mesmo atuando pela seleção francesa, Matuidi acredita que jogando bem pelos "Bleus", também significa representar a terra natal dos pais.

"Não esqueço as minhas raízes angolanas, em especial porque ainda tenho família no país. Lá em baixo, estão todos orgulhosos da minha trajetória, e se sou francês, por outro lado também me sinto angolano", comentou em entrevista recente ao site Les Inrocks.

Estrela que demorou a brilhar

Hoje com 27 anos, Blaise, talvez pela posição, passou bons anos em times de menor expressão e demorou a ser reconhecido e ganhar papel importante na seleção francesa. Mas o que poucos sabem é que ele já possui 10 anos como profissional e demonstra desde o início um bom desempenho.

Assim como muitas crianças que nascem em regiões mais pobres do Brasil, Matuidi teve na habilidade o seu diferencial para começar no esporte. O primeiro clube foi o US Fontenay-sous-Bois, graças a uma inscrição feita pelo pai. Cinco anos depois, ele chegou ao CO Vincennois.

O desempenho promissor fez dele um dos melhores jovens de sua região e em 1999 ele teve a sua grande chance de despontar. Selecionado pela renomada Academia Clairefontaine, supervisionada pela Federação Francesa de Futebol e que já contou com nomes como Thierry Henry e Nicolas Anelka, o volante passou a jogar exatamente sete dias por semana somando clube e academia.

O grande esforço fez o jovem ser notado por equipes maiores e, após três anos no modesto Créteil, Matuidi foi contratado para jogar no time B do Troyes, que disputava a quinta divisão francesa. O contrato com o elenco principal da equipe veio em 2006. Na mesma época ele foi convocado pela primeira vez para as categorias de base da França, o que forçou a decisão de abandonar as possibilidades de defender Angola.

"Cheguei a ser sondado para representar Angola, mas, na altura, tive de fazer uma escolha difícil ao optar pela França", disse em entrevista ao A Bola.

Em 2007, quando tinha apenas 21 anos, Blaise já era visto como um dos jogadores mais promissores do país e foi contratado pelo Saint-Etienne. Três anos depois veio a primeira convocação para a seleção principal, quando o então técnico Laurent Blanc o chamou para o amistoso contra a Noruega. A primeira competição internacional seria na Eurocopa de 2012, mas uma lesão atrapalhou os planos do volante.

PSG e o topo

O auge da carreira veio em 2011. Matuidi foi contratado pelo Paris Saint-Germain com a difícil missão de substituir o ídolo francês Claude Makelele, que anunciou sua aposentadoria. Mas o topo ainda não significaria estrelato. Ele passou meio despercebido logo no seu primeiro dia de clube. Apresentado ao lado de Jeremy Ménez, Blaise ficou praticamente em segundo plano.

Tudo seria completamente diferente na temporada 2013/14. Já consolidado no clube e seleção, Matuidi foi um dos destaques do poderoso PSG. Em 45 jogos, ele fez sete gols, 103 desarmes, 79 passes interceptados, levou apenas 26 dribles e cometeu 56 faltas.

Mas não é apenas nos números que ele tem se demonstrado essencial para o time de Paris. Em um elenco recheado de estrelas como Zlatan Ibrahimovic, Thiago Silva e Edinson Cavani, Blaise é admirado pelo companheirismo e dedicação.

"Ele é tranquilo, trata todo mundo bem. Às vezes chega brincando, às vezes chega mais na dele. Mas é sempre muito dedicado, sempre se doa muito tanto nos treinos quanto nos jogos. Procura sempre ajudar as pessoas. É um cara muito do bem, amigo e importantíssimo para o time", destaca o meia brasileiro Lucas, companheiro de PSG, em entrevista ao UOL Esporte.

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