Técnico francês adota linha dura e prega união para evitar tragédia de 2010

Do UOL, em São Paulo

Há mais ou menos um mês, uma réplica do ônibus que a seleção francesa usou na Copa de 2010 foi propositalmente destruída na frente de vários torcedores e câmeras de TV. Era o enterro simbólico de "um dos mais terríveis momentos da história do futebol", de acordo com a Adidas, patrocinadora da seleção naquele Mundial, do qual a França saiu humilhada, sem vitória, eliminada na primeira fase e atingida por brigas internas entre jogadores e comissão técnica.

É um cenário completamente diferente do que viverá a França ao enfrentar a Nigéria nesta segunda-feira pelas oitavas de final da Copa brasileira (o Placar UOL transmite a partida em tempo real a partir da 13h).

Depois de duas vitórias e oito gols na primeira fase, o time chega como favorito no confronto e um dos postulantes ao título mundial. E boa parte dessa revolução os franceses devem a Didier Deschamps, o técnico que implementou a filosofia de tolerância zero ao mau comportamento no elenco.

"Eu não vou usar o termo 'tolerância zero'", disse ele logo ao assumir o comando do time, em 2012. "Mas, depois do que aconteceu, o apoio da torcida só virá como um resultado de nosso comportamento."

"O que aconteceu" foi uma rebelião no elenco que disputava o Mundial da África, que se recusou a treinar para o último jogo da fase de grupo em protesto contra a exclusão de Nicolas Anelka. Ele havia sido expulso da Copa por ter insultado o treinador Raymond Domenech. A cena dos atletas dentro do ônibus, se recusando a deixá-lo para ir ao campo de treino, se tornou o símbolo da campanha fracassada de 2010.

Logo que assumiu, Deschamps, campeão mundial em 1998, deixava claro que não toleraria abusos e brigas dentro do time.

E o primeiro a sofrer como resultado da nova política foi o atacante do Manchester City Samir Nasri, barrado da seleção que viria ao Brasil porque o técnico temia que ele pudesse causar turbulências no grupo.

"A coisa mais importante quando você vai para uma Copa não é escolher os 23 melhores jogadores, mas escolher o melhor time", afirmou o técnico após anunciar sua lista final. "Não se trata apenas de talento, mas de atitude." Era um recado aos que ficaram de fora.

Nasri não gostou de ser excluído, reclamou publicamente, e sua mulher chegou a insultar Deschamps pela internet. O técnico não se abalou e manteve a postura dura ao tomar decisões agudas.

A última delas, nas vésperas da estreia na Copa, foi a opção por cortar seu melhor jogador, Franck Ribery, que se recuperava de uma lesão.

O meia do Bayern de Munique poderia em tese acelerar seu processo de recuperação e estar apto, por exemplo, a disputar o mata-mata que se inicia para a França nesta segunda, mas Deschamps preferiu mandá-lo de volta para casa e depositar sua confiança em homens que estão 100% fisicamente, são mais jovens e mais dispostos a assumir riscos, como Paul Pogba, Raphael Varane e Antoine Griezmann.

Isso, dizem os analistas franceses, permitiu ao elenco se fechar em torno de si mesmo e ter a certeza de que, para o chefe, dedicação e união são mais importantes do que nome e passado.

Linha dura

Deschamps é um treinador que prefere as coisas do jeito que eram antes e tem tomado várias atitudes no sentido de aproximar seus jogadores. A ideia é evitar rachas na equipe, como os que aconteciam em anos anteriores.

Ele já criticou publicamente o uso abusivo da internet pelos atletas e defendeu novas formas de interação entre eles.

"Eles estão todos usando mídias sociais no tempo livre, então se tornam mais isolados e egoístas", ele disse na última semana. "Compartilham menos, falam menos. Têm os aplicativos, os celulares, mas estão menos acostumados a falar com gente. Hoje em dia você nunca os vê jogando cartas. Nós fazíamos isso, mas não dá para lutar contra essa tendência."

Deschamps tem tentado, pelo menos. Desde que assumiu o comando, os franceses são incentivados a participar de atividades lúdicas juntos, como sessões de paintball e torneios de basquete. Treinos abertos ao público também têm sido mais comuns.

Tudo para evitar a tragédia de quatro anos atrás.

"Precisamos seguir em frente", disse o técnico. "Mas o fechamento do ciclo só vai ocorrer se fizermos uma boa Copa, se jogarmos bem e ganharmos os jogos."

Até agora, tem dado certo. 

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