Gaciba corneta arbitragem da Copa: "Começou abaixo do esperado"
Carlos Madeiro
Do UOL, no Recife
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EFE/EPA/VASSIL DONEV
Quarteto de arbitragem de Holanda x México: tempo técnico contra o calor e decisão polêmica no fim do jogo, em pênalti duvidoso de Rafael Maquez sobre Robben, que definiu a classificação holandesa
"Tecnicamente, a arbitragem da Copa do Mundo começou abaixo do esperado". A opinião seria branda se viesse de um torcedor comum. Mas é impactante quando parte de um ex-árbitro. Leonardo Gaciba, que já chegou a ser cotado como representante do Brasil em uma Copa, hoje é comentarista da Rede Globo. E analisa que seus ex-companheiros não estão agradando no Mundial de 2014.
"Estão muito concessivos. Parece ser orientação da comissão de arbitragem, mas o árbitro está lá para preservar quem joga bola, não para quem dá pontapé", disse o ex-árbitro, que está na TV desde 2011. Veja os principais pontos da entrevista ao UOL Esporte:
Mercado de comentarista de arbitragem
Temos que agradecer ao Arnaldo. Foi ele que criou a função. Acho interessante para a transmissão, dá a visão de quem participou dentro do campo, de quem tomou decisões. E serve também para esclarecer a regra do jogo. Todo mundo sempre brinca que todo brasileiro é treinador de futebol. Mas antes de ser treinador, ele é árbitro. E o engraçado que o futebol é tão divulgado, mas a bíblia do futebol, o livro de regras, não é lido. Ou, se foi, foi muito pouco.
Relação com os árbitros
A relação com ele é boa. Acho que tudo depende da forma como tu coloca, como tu fala. O que procuro é entender o nível de dificuldade do que eles estão passando. Assim como um comentarista critica quando um jogador perde um gol, nós [comentaristas de arbitragem) falamos que o juiz não marcou um pênalti. É preciso respeitar a decisão dentro de campo e não levar para a vida pessoal.
Relação com narradores e comentaristas
A relação é muito boa. Tive muita sorte, só trabalhei com craques. Assim fica mais fácil ser conduzido. Hoje, digo que sou um assistente e eles [os narradores] são os árbitros centrais. Estou lá para dar a intervenção quando acharem necessário. Antes era vidraça, agora sou pedra. É legal conhecer todos os lados do futebol. E esse é um lado muito bonito.
Tecnologia contra o árbitro
Ao mesmo tempo que ela [a tecnologia] dedura, ela salva. Hoje, o árbitro pode apitar com mais tranquilidade e ter a certeza do que ele viu. Porque, em algum ângulo, vamos achar a imagem que prova a marcação. Antigamente, não era bem assim. Não se podia chegar à pureza do detalhe, de um agarrão, de um impedimento. Era mais difícil. Hoje, você tem essa tranquilidade. A tecnologia é ruim para quem não é competente. Ela ajuda quem é bom.
Uso da tecnologia durante o jogo
Algumas coisas me preocupam. A primeira é a questão da padronização. Essa é a grande máxima filosófica do futebol: usar a mesma regra da primeira até a última instância. Não há diferença entre a regra da Copa do Mundo e de uma pelada. Talvez esse seja o segredo do futebol. E a segunda preocupação é de quem vai operar [a ajuda tecnológica]. Imagina Um jogo entre Brasil e Argentina. Vamos contratar uma equipe do México para ser imparcial e mostrar essas imagens? Será que valeria esse investimento? São coisas que deveriam ser usadas, concordo, mas como? Quem fica com a fama do erro é o árbitro. Quem não gostaria ter alguém na orelha dizendo que você errou e que pode voltar atrás? Óbvio que todos os árbitros gostariam. Se alguém me mostrar uma forma imparcial para fazer isso, aí estamos juntos.
Arbitragem fraca na Copa
Tecnicamente, começou abaixo do que eu esperava. Deu uma equilibrada mais perto para o fim da primeira fase. Agora, no mata-mata, são jogos difíceis. Não estou gostando da condução do jogo, da parte disciplinar. Os árbitros têm sido muito concessivos. Está me parecendo que o jogador tem de fazer duas, três infrações para levar um cartão amarelo. Tem muita conversa. A regra foi criada e é cada vez mais apertada para defender o talento. Não é para o árbitro explicar que não é para fazer falta. Ele tem de punir quem impede o outro de jogar futebol. Isso [a demora para mostrar o cartão] me parece uma recomendação da comissão da arbitragem da Fifa, uma filosofia da atual comissão. Eu particularmente não gosto. O árbitro tem que ter bom senso, mas está ali para preservar quem joga bola e não quem dá pontapé.
Vida de comentarista
Tenho viajado mais do que quando apitava. Está muito bom do lado de cá, é positivo participar desse processo. Tenho colegas fantásticos dentro da Rede Globo, que tem uma estrutura muito boa. Foi a decisão correta e estou feliz com o que faço. Enquanto o pessoal achar que o trabalho está bom, e eu acho ele está sendo muito bem aceito, eu fico. Mantenho contato com o lado da arbitragem, isso é importante para o meu crescimento profissional. Ser comentarista foi uma maneira de ficar mais tempo dentro do futebol.