No Anhangabaú, ansiedade dá lugar a festa e beberrões colecionam copos
Paulo Anshowinhas
Do UOL, em São Paulo
Fotógrafos analógicos, muçulmanos em trajes típicos e colecionadores de copos de cerveja foram os destaques da Fan Fest do Anhangabaú, neste sábado em São Paulo.
Em clima de ansiedade geral e provocações iniciais por parte tanto de chilenos quanto de brasileiros, com o passar dos minutos, o desânimo começou a tomar conta do público nacional, e a encher os copos de cerveja da galera.
"Perdi a conta de quantos eu já bebi", disse o representante comercial Adriano Saccon exibindo uma torre de copos plásticos de cerveja. "Mas isso é só o começo, quando fico nervoso eu bebo o triplo", explica, para alegria da sua turma de amigos de copo.
Essas embalagens podiam servir de atestado de nível etílico, e objeto de desejo Eram visualizadas a todo momento e em grandes quantidades nas mãos das pessoas. Menos no lixo.
"Pouca gente joga os copos de cerveja no lixo. Eu tenho mais de 100, mas a maioria foram as pessoas que me deram", conta o reciclador José Carlos que recolhia latas e copos (de refrigerantes) em sacos de lixo.
"A cerveja é mais importante do que o copo", diz Alexandre Diniz, que junto do amigo Renan Gonçalves também carregavam o seu lote. "Os copos são apenas lembranças da Copa", disfarça. Ao mesmo tempo que estes "bebemoravam", por diversas vezes bombeiros e policiais carregavam pessoas alcoolizadas para o posto médico do local.
Enquanto a ansiedade servia de pretexto um consumo ainda maior de cerveja, para outros a vitória iria servir de álibi para descansar.
"Vai Brasil, ganha logo que não quero trabalhar na sexta", bradou um engraçado folião brasileiro para gargalhadas da torcida atenta e silenciosa.
"Vou voltar pro videogame que está mais animado", gritou um torcedor no meio da multidão, durante a metade do segundo tempo.
Durante o intervalos o fotógrafo peruano Sebastian Gomez, de 28 anos, fazia fotos analógicas em uma câmera Rolleiflex da década de 70. "Estou retratando os contrastes da Copa. Entre os torcedores fanáticos e os que não estão nem ai para o jogo", explica o turista que está a 10 meses no Brasil, e que não importa em gastar R$ 14 reais em cada filme, mais R$ 18 reais por revelação. "Creio que tem mais qualidade do que o digital", justifica.
Assim como ele, o brasileiro Patrick Muzart, de 39 anos, também fotografava com uma câmera Bronika analógica com filmes de médio formato, em vez de equipamentos digitais para curiosidade de quem passava.
Ao seu lado, um grupo exótico no meio do público chamava muita atenção pelos seus trajes quentes – túnicas e tarbush (tipo de chapéu utilizado por islâmicos), e que o público insistentemente pedia fotos com eles. Era uma turma de muçulmanos sul-africanos com os nomes de Isaac, Aslan e Muhammid.
Mas o quarto integrante, misterioso, evitava fotos e quando descobria que estava sendo fotografado exigia irritado, em tom alto: "Delete, delete (apague, apague, em tradução livre do inglês).
A torcida chilena que estava em número bem reduzido – em comparação com as partidas anteriores, era bem ruidosa e animada. Após o pênalti final - que deu a vaga para o Brasil, os chilenos porém se calaram, sendo que alguns choraram e chegaram a discutir com provocadores brasileiros. Mas a vitória acalmou os ânimos e mesmo essas pequenas desavenças foram resolvidas com abraços entre as duas partes.