Reforço da segurança em estádios da Copa esbarra em falta de vigilantes

Vinicius Konchinski

Do UOL , no Rio de Janeiro

  • Mauricio Stycer/UOL

    Após invasão, PM faz protege portão do Maracanã; trabalho era feito por seguranças privados

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Após duas invasões e uma série incidentes em estádios da Copa do Mundo de 2014, governo e Fifa anunciaram mudanças na segurança das arenas. Mais policiais e vigilantes privados foram incluídos no plano de proteção dos locais de jogos do Mundial. A execução desse plano, no entanto, enfrenta um problema: a falta de profissionais capacitados para trabalhar durante as partidas do torneio.

Isso porque não é qualquer vigilante que pode trabalhar na segurança da Copa do Mundo. A PF (Polícia Federal), órgão que fiscaliza as empresas de vigilância privada no país, exige que só profissionais que tenham passado por um curso específico para segurança de grandes eventos atuem no Mundial. A regra vale sempre que um jogo ou sessão de treinamento reúne mais de 3 mil pessoas.

O COL (Comitê Organizador Local) já informou que 20 mil seguranças seriam necessários para a Copa. Dias antes do torneio, porém, 14.303 vigilantes estavam aptos a trabalhar no Mundial de acordo com a PF –ou seja, cerca de 30% a menos do que o comitê avisou que iria precisar.

O número de vigilantes capacitados foi informado pela PF ao UOL Esporte na terça-feira. Ele leva em conta a quantidade de profissionais que se formaram no curso para grandes eventos até o dia 9 de junho, três dias antes do começo da Copa.

O quantitativo revelou um descompasso entre a demanda e a oferta de vigilantes para o Mundial. A diferença, aliás, foi reconhecida pelo próprio COL em nota enviada ao UOL. O comitê, contudo, trata a questão como um "desafio" e não um problema. Desafio este que foi enfrentado também por outros países que organizaram grandes eventos esportivos.

"O fato deste mercado [de segurança privada] ser novo representa um desafio", declarou o COL. "É bom lembrar que dificuldades neste sentido foram encontradas em outros eventos esportivos, como os Jogos Olímpicos de Londres."

O próprio comitê, no entanto, afirmou que a falta de seguranças já causou contratempos nesta Copa. De acordo com o COL, na primeira partida do torneio realizada em Fortaleza, "houve dificuldades" para preparar o efetivo de segurança privada do Castelão.

O estádio da capital do Ceará tem capacidade para receber mais de 60 mil torcedores. Segundo o COL, ele demanda perto de 900 seguranças privados em cada partida. Todo Ceará tem 261 vigilantes formados para trabalhar na Copa.

O COL informou que, apesar das dificuldades, ao final, empresas contratadas conseguiram prover a quantidade de seguranças necessários para o jogo. 

Déficit em outras cidades-sede

Ainda segundo o COL, 900 é a quantidade média de seguranças privados presentes em estádios da Copa em cada jogo. Além do Ceará, Bahia (795 vigilantes formados), Mato Grosso (785), Paraná (704), Pernambuco (856) e Rio Grande do Norte (576) não têm esse número de seguranças formados em cursos para grandes eventos.

Confira o número de seguranças que fizeram o curso para a Copa:

Amazonas - 1.389
Bahia - 795
Ceará - 261
Distrito Federal - 1.595
Mato Grosso  - 785
Minas Gerais - 1.391
Paraná - 704
Pernambuco - 856
Rio de Janeiro - 2.218
Rio Grande do Norte - 576
Rio Grande do Sul - 1.021
São Paulo - 2.400

TOTAL EM ESTADOS-SEDE – 13.991*
TOTAL NO PAÍS – 14.303*
DEMANDA DA COPA – 20.000**

*Estatística da Polícia Federal contabilizada dia 9 de junho
**Previsão do COL levando em conta a segurança de estádios, Centros de Treinamento e Campos Oficiais de Treinamento do Mundial

Em outras estados-sede da Copa, a quantidade de seguranças também é apertada ante à demanda. O Rio Grande do Sul, por exemplo, recebe nesta quarta-feira o jogo entre Nigéria e Argentina. A partida deve atrair milhares de argentinos a Porto Alegre, e o COL anunciou nesta terça um reforço de segurança no Beira-Rio.

Ao todo, mil vigilantes vão trabalhar no estádio nesta tarde. Todo o Rio Grande do Sul tem 1.021 seguranças aptos a trabalhar em jogos da Copa.

O COL disse que isso não o preocupa. O comitê ressaltou que nem todos os seguranças do Mundial precisam ter passado pelo curso de grandes eventos já que nem todos lidam com o público.

Isso, segundo o COL, estaria previstos na regulamentação da PF para a atividade de segurança. Procurada, a PF não confirmou a ressalva. Representantes de sindicatos de empresas de seguranças também desconhecem a diferenciação entre os seguranças patrimoniais e de público empregados em um jogo de Copa do Mundo.

Problema antigo

Esses mesmos sindicatos avisaram há anos sobre a necessidade de treinamento de vigilantes para o Mundial. Ainda em 2012, o presidente do Sindesp-RJ (Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Rio de Janeiro), Frederico Crim Câmara, alertou que o número de vigilantes treinados para o torneio era pequeno.

O alerta não surtiu resultado. Na Copa das Confederações, já não havia vigilantes treinados para atuar no evento. A PF, então, derrubou a exigência de curso para os seguranças do torneio-teste.

Contudo, para a Copa do Mundo, a exigência está valendo. A própria PF é a responsável por fiscalizar se todos os seguranças do Mundial têm o curso de grandes eventos. Questionado, órgão respondeu se já identificou irregularidades.

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