Franceses minimizam moda brasileira e exaltam "A Marselhesa" no Maracanã
Fernando Duarte
Do UOL, no Rio de Janeiro
Devidamente "abastecido" por goles de cerveja, o grupo de torcedores franceses nas cercanias do Maracanã nesta quarta-feira, algumas horas antes da partida contra o Equador, tentava organizar uma cantoria para contra-atacar a algazarra de sul-americanos bem em frente ao ponto em que se concentravam. Tentaram de "Allez, Les Bleus" (Vamos Azuis, em relação ao apelido da seleção campeã mundial de 1998) e de "Aquele que não salta não é francês", canto sempre acompanhado de pulinhos.
O efeito desejado só veio quando alguém puxou os primeiros versos de "A Marselhesa", o Hino Nacional francês que tem melodia já "sampleada" pelos Beatles e letra falando de marchas e batalhões contra a tirania. Os franceses abafaram os equatorianos, até porque os equatorianos se calaram em sinal de respeito. Por isso, torcedores franceses se sentem no direito de reivindicar a originalidade no fator intimidação com o hino, que desde o ano passado foi alardeado como uma arma brasileira.
"Estive na Fan Fest para ver o jogo do Brasil contra Camarões (segunda-feira) e quando o Hino Nacional Brasileiro tocou havia um monte de locais que não cantavam. Nós franceses cantamos 'A Marselhesa' sempre porque é ligada à nossa revolução. Estou cantando as horas para cantá-la no Maracanã pela primeira vez", afirmou Raphael Rinaud, de 22 anos, enquanto pegava a fila para um dos portões de entrada do estádio.
A rigor, é bastante possível que nenhum dos milhares de franceses no Maracanã tenha tido a honra antes. A última vez em que a França jogou no estádio tinha sido em 1977, quando empatou em 2 a 2 um amistoso com a seleção brasileira em que se destacou um então jovem jogador chamado Michel Platini. Em tempos de menos craques, os franceses ainda assim têm canções para indivíduos e adaptaram algumas para a viagem ao Brasil. O grito "Ben, Ben, Benzema" virou "Tudo Bem, tudo bem. Benzema", por exemplo. Olivier Giroud, o centroavante reserva, foi homenageado com o refrão de "Hey Jude" dos Beatles.
O interessante dos franceses é que a Marselhesa não é protocolar dentro do estádio. No primeiro tempo, o hino foi cantado outras vezes como forma de incentivar o time nos momentos em que o Equador avançava em direção ao gol defendido por Hugo Lloris e em que os muitos equatorianos entoavam o "Si, se puede" para um time que precisava da vitória.
Mathieu Blanchard, de 31 anos, justificou outro razão para o uso de "A Marselhesa", com origem no impacto cultural da conquista francesa do Mundial de 1998, em que um time multirracial foi saudado com um símbolo de unidade numa França em que naquela época o apoio à extrema-direita já vinha crescendo. "O hino para nós tem um significado maior do que o nacionalismo. Foi em 1998 que uma seleção francesa com filhos de imigrantes e de franceses obteve o título. E há 16 anos os jogadores já cantavam o hino abraçados. Antes dos brasileiros", provocou Blanchard.