Sonho de jogar a Copa faz 'ianque' mudar de nome e virar iraniano
Do UOL, em São Paulo*
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Jeff Vinnick/Getty Images
Steven Beitashour, do Vancouver Whitecaps, carrega a bola durante partida contra o Colorado Rapids
O zagueiro Steven Beitashour não deixou as animosidades geopolíticas globais impedirem seu sonho de jogar uma Copa do Mundo.
Nascido na Califórnia, ele cansou de esperar ser convocado pelos EUA, mudou de nome e abraçou a seleção do país de onde seus pais vieram, o Irã. Convocado, ele veio ao Brasil e, embora ainda não tenha entrado em campo nas duas partidas que a seleção fez até aqui, não se mostra arrependido de ter feito a escolha pelos persas, motivada, segundo ele, "pelo amor ao jogo."
Como muitos filhos de iranianos nascidos no Ocidente, ele assumiu seu nome persa e agora se chama Mehrdad. No Brasil, está vivendo a "experiência de uma vida", conforme contou à reportagem do jornal San Jose Mercury Times, de sua cidade natal, antes de se juntar à seleção iraniana.
Ele evita falar das implicações políticas de sua opção por defender um país considerado parte de um Eixo do Mal pela política externa americana. A animosidade histórica entre os dois países data do final da década de 1970, quando um grupo de iranianos fez de refém funcionários da embaixada americana de Teerã.
No mundo atual, americanos mais conservadores veem iranianos como terroristas e ameaças, enquanto suas contrapartes persas pregam o extermínio do modo de vida americano.
Em entrevista ao UOL Esporte no centro de treinamento do Corinthians, onde a seleção se prepara para os jogos da Copa, Beitashour disse apenas que sua escolha por defender outro país faz parte da globalização que tomou o mundo do futebol.
"Acho que acontece isso com jogadores e com o mundo, ter heranças diferenças do mundo inteiro. Te alemão-americano, alemão-iraniano, americano-iraniano..."
Sua história de vida é a mesma de muitos americanos que se destacam nos esportes desde a infância, incentivados por pais zelosos e orgulhosos dos talentos dos filhos. Beitashour começou a jogar futebol por volta dos cinco anos e se formou como um das maiores nomes esportivos de sua escola secundária.
Após sua saída, a escola decidiu aposentar o número da camisa que ele usava, uma honraria reservada em geral a atletas do futebol americano. Ele entrou em uma universidade e conseguiu bolsa de estuda graças a seu desempenho esportivo.
"Nós somos americanos como todos os outros", disse o irmão de Beitashour, Anthony, sobre o dia a dia da família. "Não nos sentimos como estranhos."
E os Beitashours já puderam experimentar as diferenças culturais entre os dois países. Quando Mehrdad estreou pela seleção iraniana no ano passado, sua mãe estava em Teerã, mas não pôde assistir ao jogo porque mulheres são proibidas de entrar no estádio de futebol da cidade.
Reportagem recente do jornal New York Times afirma que donos de cinemas da capital têm sido proibidos pelo governo de exibir jogos da Copa do Mundo se houver mulheres na plateia.
Mas o zagueiro têm tido uma recepção calorosa dos torcedores iranianos, e fato de ter escolhido defender o Irã o levou a ser ovacionado antes de uma partida na capital no ano passado.
"Toda vez que eu vou lá, eu me sinto mais e mais confortável", disse o jogador, que tem alguma fluência em farsi, já que sua mãe costumava conversar nessa língua com os filhos.
Beitashour foi um dos "estrangeiros" chamados pelo português Carlos Queirós, com o objetivo de fortificar a seleção iraniana, cheia de jogadores que atuam no fraco campeonato local. O zagueiro atua no Vancouver Whitecaps, do Canadá.
Terá a chance de estrear na Copa na partida desta quarta-feira, às 13h de Brasília, conta a Bósnia. Uma vitória pode classificar a equipe para as oitavas de final, desde que a Argentina vença a Nigéria no outro duelo da chave (o Placar do UOL Esporte transmitirá os jogos em tempo real.)
* Colaborou Luís Augusto Simon, de São Paulo