Por que um carrinho de bebê varou a madrugada na porta do hotel de CR7

Felipe Pereira

Do UOL, em Manaus

Abraão Isac Pires é a única pessoa estacionada na frente do hotel de Cristiano Ronaldo em Manaus que não está ali por vontade própria. O menino tem apenas três meses de vida e acompanha os pais numa aventura involuntária madrugada adentro. O bebê não sabe, mas o pai, Antônio Pires, 24 anos, afirma que ele é o motivo de estar plantado no local há oito horas.

Os policiais militares que patrulham o hotel não concordam em deixar uma criança tão pequena no tempo durante a noite. Antônio sabe que haverá gente classificando a atitude de irresponsável, mas dá de ombros para as críticas. O estudante universitário está certo que no futuro Abraão vai agradecer por ter passado uma madrugada na frente do prédio em que Cristiano Ronaldo estava. O que os outros pensam não interessa a ele.

"O filho é meu. Ninguém ajuda a pagar fralda e comida". O plano de Antônio é conseguir uma foto, uma camisa e um autógrafo do craque no gorro de Abraão. O estudante universitário está certo que quando tiver discernimento o menino vai agradecer. A mulher, Isian Pires, 26 aos, é menos empolgada. "Estou aqui pela parceria" confessa.

Os companheiros de Antônio começam a bocejar por ser 3h de sábado. Estão no local desde às  20h e reclamam que as costas doem e a bunda está quadrada de sentar no cimento da calçada.

O universitário admite que o sacrifício é inválido e é praticamente impossível Cristiano Ronaldo acordar no meio da madrugada para cumprimentar os fãs na frente do hotel. Mas ele explica que a presença é importante para fazer amizades com seguranças e, principalmente, integrantes da delegação portuguesa. Num futuro próximo essas pessoas podem ser a ponte para o sucesso da missão.

O vendedor de frutas Dilson Lima, 26 anos, tem uma estratégia diferente e comprou um presente para atrair o atacante. Com uma embalagem e fita, ele espera entregar uma caixa de bombons da Garoto para o craque. "Todo mundo só vem pedir coisas a ele. Autógrafos, fotos e eu o único a ofertar algo", explica.

Diferente de Antônio, Dilson considera possível que Cristiano Ronaldo apareça no meio da madrugada para cumprimentar as cinco pessoas e o bebê que estão na calçada em frente ao hotel. Ele conta que também levou um álbum da Liga dos Campeões, mas a chuva forte que caiu na sexta-feira às 20h30 despedaçou a folhas.

O feirante não se abate e revela que é um habitué na caça de artistas e jogadores de futebol. Mas isto não significa que saiba quem está tietando. Ao mostrar as fotos que tem na máquina digital ele não reconheceu a cantora Ana Carolina e o jogador Danilo do Corinthians. Não importa, a diversão para ele é estar perto de famosos. "Me sinto realizado. Minha estrela não brilha, mas é iluminada pelo brilho das estrelas", filosofa.

Esta fixação por celebridades faz sonhar em estudar fotografia e virar um paparazzo. Mas a caça aos famosos já criou problemas para Dilson que está no caderninho de alguns seguranças de Manaus. O vendedor de frutas se defende e garante que a culpa não é dele. Justifica que certa vez foi o primeiro a chegar ao local de um show e na hora de permitir a passagem dos fãs ele foi excluído e olhado com sarcasmo pelos seguranças. Reagiu com xingamentos e fez inimizades.

Mas para Antônio a ideia de chegar com uma caixa de chocolate é pior que falar impropérios. Ele explica a Dilson que o embrulho será confundido com uma bomba e jamais chegará perto dos jogadores. A intenção do feirante de jogar o presente para atrair Cristiano Ronaldo faz menos sentido ainda. O companheiro de madrugada que recém-conheceu diz que num primeiro momento seria interpretado como um atentado.

Para provar a tese, ele chama o policial militar de plantão que confirma suas palavras. Com uma autoridade falando, Dilson se dá por vencido e aceita tirar o laço do que envolve o papel de presente. Desde momento em diante parece carregar um tijolo embrulhado como os presentes falsos nas árvores de Natal de lojas e shoppings.

O penúltimo elemento deste grupo é Douglas Batista, um garoto de 15 anos, que se diz muito fã. Ele não acredita que Cristiano Ronaldo voltará tão cedo para casa, por isso o sacrifício. O objetivo dele é ganhar um autógrafo e fazer uma tatuagem no lugar. Já fez isso com a cantora Demi Lovato.

O adolescente conta que se não receber nem um tchau ficará decepcionado porque uma figura pública precisa ser simpática com os fã. Por fim, o garoto revela até onde chegaria com o jogador. "O Cristiano Ronaldo é muito bonito, com certeza eu pegaria e acho que ele é gay".

A última da turma está na calçada do hotel somente por farra. A babá Dayane Evangelista, 21 anos, conta que é amiga do casal e passou a madrugada no local para acompanhá-los. Ele diz que gosta de Cristiano Ronaldo que é um gato, mas que não ficará arrasada se não ver o jogador. "Tô aqui para zuar".

O grupo permanece forte até às 4h30, quando Antônio cede aos apelos das amigas e vai embora. Douglas e Dilson falam em assistir da calçada o sol nascer. Ocorre que a saída de mais da metade das pessoas desestimula a dupla que vai embora perto das 5h.

Em meio a tudo isso Abraão nem deu trabalho. O bebê passou a maior parte do tempo dormindo no carrinho. Se no futuro lhe entregarem uma camisa de Cristiano Ronaldo ou mostrarem o gorro autografado vai saber porque motivos aquelas cinco pessoas estavam perdendo horas de sono na frente de um prédio branco em Manaus cercado por grades.

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