Pipoqueiros reclamam das condições de trabalho nos jogos da Copa em Cuiabá

Guilherme Costa

Do UOL, em Cuiabá (MT)

  • Guilherme Costa / UOL

    Lanchonetes da Arena Pantanal tiveram longas filas no primeiro jogo da Copa no estádio; problema diminuiu depois, mas pipoqueiros ainda reclamam

    Lanchonetes da Arena Pantanal tiveram longas filas no primeiro jogo da Copa no estádio; problema diminuiu depois, mas pipoqueiros ainda reclamam

A Arena Pantanal já recebeu dois jogos da Copa de 2014 (Chile x Austrália, realizado no dia 13 de junho, e Rússia x Coreia do Sul, no dia 17 de junho). A despeito de a operação do estádio ter evoluído drasticamente entre as partidas, ambas tiveram muitos problemas – e isso afetou diretamente a vida de pessoas que vendem pipocas no interior do aparato. A lista de reclamações dos profissionais inclui falta de produtos, pessoal e treinamento, diverências no pagamento e desvio de funções. Alguns chegaram a desistir dos cargos.

A venda de pipocas no interior da Arena Pantanal é gerenciada por uma empresa chamada Flavoured Popcorn. Baseada em Santa Catarina, a companhia foi contratada pela CSM, escolhida pela Fifa para cuidar das concessões do estádio. O equipamento de Cuiabá tem 48 pessoas trabalhando nessa área.

O UOL Esporte conversou com três pessoas que trabalharam vendendo pipocas no interior do estádio, e todos relataram problemas similares. Um deles chegou a abandonar o posto depois do primeiro jogo da Copa na Arena Pantanal. Como ainda têm relação com a Flavoured Popcorn e a CSM, os profissionais pediram para não serem identificados.

"A Fifa acha que é a dona do mundo. Eles têm muita burocracia, um monte de regras, mas na hora de mostrar competência eles não mostram. A infraestrutura ficou muito a desejar", relatou um dos vendedores de pipoca, ainda em atividade na função.

Profissionais que trabalham com essa função na Arena Pantanal recebem apenas comissão de R$ 1 por pacote vendido – cada um custa R$ 10. Segundo eles, o e-mail enviado com aviso sobre a vaga falava em oportunidade de faturar até R$ 600 por dia de trabalho no estádio.

"Para começar, não deram treinamento nenhum de nada. O setor não teve nenhuma instrução – só mandaram um e-mail com o dia para se apresentar. Chegando lá, o credenciamento foi muito confuso. Foi difícil, mas saímos para vender, e no intervalo já não havia mais pipoca. Como eu posso receber por comissão se não tenho produto para vender?", questionou outro profissional, que não voltou a trabalhar depois do primeiro jogo.

Segundo o pipoqueiro, o problema do primeiro jogo na Arena Pantanal foi falta de pessoal para preparar os produtos: "Ao contrário dos vendedores, as pessoas que fazem isso recebem apenas uma diária de R$ 100. Eles pagam pouco, e por isso falta funcionário. Chegamos a fazer fila para retirar as pipocas, e isso até atrapalhou o fluxo de pessoas. Eu precisei ajudar a estourar pipoca".

Os relatos dos pipoqueiros falam em insatisfação geral entre os funcionários desse setor. "Muitos disseram que estão trabalhando apenas para ter um certificado ou para colocar no currículo que fizeram algo pela Fifa na Copa, mas do jeito que está não há vantagem. Só é interessante para quem quer trabalhar com estrangeiros no futuro", analisou.

Além da falta de gente para preparar as pipocas e do desvio de função – alguns vendedores tiveram de trabalhar na confecção dos produtos –, os profissionais reclamaram que até o estoque de sal foi insuficiente.

"Eles não estavam preparados. Nós nem chegamos a alguns setores do estádio porque não tinha produto para levar até lá. Depois do primeiro jogo eles nos chamaram e ofereceram a diária de R$ 100 para os vendedores. Eu podia ter feito mais se tivesse pipoca para vender, mas não tive chance", contou outro profissional.

Pipoqueiros da Arena Pantanal chegam ao estádio por volta de 13h30 para um jogo às 19h (horário de Brasília). O esquema de pagamento deles é diferente de outros setores – nas bebidas, por exemplo, vendedores não têm comissão nos primeiros 200 itens vendidos, mas depois tiram R$ 0,25 por copo.

"No começo do primeiro jogo, até sem uniforme nós tivemos de trabalhar. Muita gente ficou insatisfeita. Eu ainda quero voltar lá para vender outras coisas, mas da pipoca eu não quero saber mais, não", disse um dos vendedores.

O jogo entre Chile e Austrália, que foi o primeiro da Arena Pantanal na Copa, teve longas filas em bares e lanchonetes. Houve falta de produtos em todos os pontos, e isso foi agravado por problemas de logística. Elevadores de carga do estádio tiveram defeito, por exemplo, e o gelo não pôde ser transportado pelas escadas. As bebidas eram resfriadas nos andares inferiores, transportadas para cima e mantidas na temperatura ambiente.

"Faltou tudo no primeiro jogo. As coisas até melhoraram na partida da Rússia contra a Coreia do Sul, mas ainda tivemos muitos problemas. Não está valendo a pena, não", reclamou um pipoqueiro. "A gente presenciou muita coisa assustadora para quem já trabalhou com outros eventos. Eu até me dispus a conseguir mais gente para trabalhar no estádio", completou outro.

Procurada pela reportagem, a Flavoured Popcorn confirmou que pipoqueiros trabalham por comissão de 10% sobre cada produto vendido. Entretanto, a empresa contestou as denúncias e disse ter relatórios sobre grandes quantidades de pacotes não comercializados nos dois primeiros jogos da Copa na Arena Pantanal. Ainda de acordo com a companhia, é padrão interromper a produção no intervalo das partidas porque a demanda cai depois disso.

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