Sem hotel, colombianos ficam na casa de taxista em Belo Horizonte

Isabela Noronha

Do UOL, em Belo Horizonte

  • Isabela Noronha/UOL

    Taxista Evaldo Campos, de 40 anos, recebeu dois hóspedes colombianos em sua casa em BH

    Taxista Evaldo Campos, de 40 anos, recebeu dois hóspedes colombianos em sua casa em BH

O taxista Evaldo Campos, de 40 anos, de Belo Horizonte, recebeu dois hóspedes inesperados durante a primeira semana de jogos da Copa do Mundo: os colombianos Jesus Humberto, de 61 anos, e Phanor Giraldo, de 70, ambos aposentados.

Os três se conheceram por intermédio de um terceiro colombiano, amigo de Jesus e Phanor, que recomendou os serviços do taxista. "Eles ficaram com meu telefone e já tínhamos rodado na sexta e no sábado. No domingo, eles me perguntaram se eu conhecia algum hotel, porque a reserva deles ia acabar", conta Evaldo.

A questão deixou o taxista sem resposta. "Pensei assim: os caras estão sem lugar de ficar. E são uns velhinhos gente boa. Vou deixá-los onde?", conta Evaldo. Como tinha visto as portas dos hotéis da cidade lotados, ele sabia que seria difícil encontrar quartos vagos a preços bons durante os jogos.

"Liguei para a minha mulher e perguntei o que ela achava de recebê-los", relata o taxista. Com o apoio de Zilanda, com quem é casado há 23 anos, Evaldo pode então fazer o convite. "Vocês não se interessariam em ficar em uma casa mais humilde?"

"Ficamos em choque, não esperávamos que as pessoas no Brasil fossem tão amáveis", conta Jesus.

Evaldo levou os dois para conhecer seu imóvel, que tem três quartos e dois banheiros. Ainda em casa, o taxista se lembrou de uma pensão ali perto. "Achei que lá poderia ser mais confortável", diz.

Ele foi com os colombianos à pensão, porém, quando chegou lá, a recepcionista informou que colocaria os dois em um quarto para quatro pessoas por dois dias mas, depois, teriam acomodá-los em um de dez.

"Então, eles foram lá fora e, quando voltaram, me disseram que preferiam ficar na minha casa", conta Evaldo.

Para hospedar os colombianos, o taxista mandou os filhos mais velhos, Wallace, de 22 anos, e Matheus, de 19, para a casa da avó. E o quarto deles, no terraço da casa, virou o hotel de Jesus e Phanor por duas noites.

A hospedagem incluiu mais do que uma cama para dormir. Os colombianos também comeram na casa do taxista. "Queríamos saborear pratos típicos brasileiros e eles prepararam para nós, estavam deliciosos", conta Jesus.

Com casa e comida, eles só não tiveram roupa lavada porque não quiseram. "Ouvi os dois comentando que não tinham onde lavar algumas peças e disse que poderíamos fazer isso para eles. Mas eles não responderam", relata Evaldo, que se comunicava com os colombianos em 'portunhol'.

"Tudo que precisamos o Evaldo nos deu. Nos sentimos em casa", diz Jesus.

Nesta quarta-feira (19), ele e Phanor estavam em Brasília, para onde foram para assistir ao jogo entre Colômbia e Costa do Marfim. Depois, devem ir ao Rio de Janeiro. Mas deixaram duas malas na casa de Evaldo e, antes de retornarem a Orlando, na Florida (EUA), onde moram, ainda devem passar pela casa do taxista em Belo Horizonte.

Evaldo não cobrou pela estada e diz que não sabe como vai colocar um preço em sua hospedagem. "Fico sem jeito de cobrar, não é hotel, não tem luxo", diz. Mas os dois colombianos, que chegaram a contribuir com algumas despesas do taxista, acham justo dar algum dinheiro.

"Estamos de coração apertado. Ele fez isso sem interesse, não sabemos como compensá-lo", conta Jesus. "Eu acho que se íamos pagar um hotel, precisamos pagar a ele", diz Phanor.

Para retribuir a gentileza, os dois convidaram Evaldo e a família para ficar em suas casas quando forem aos Estados Unidos. "Ter conhecido Evaldo foi um presente de Deus. Se não fosse por ele, íamos dormir no aeroporto, porque não havia hotel para nós. Não temos muitas posses," diz Jesus.

Ele e o amigo esperavam que, uma vez na cidade, fossem conseguir encontrar um lugar para ficar sem muita dificuldade. "Não imaginamos que a situação seria tão complicada. Estava muito cheio e com gente de outros países também", diz Phanor.

Depois de receber os colombianos, nesta sexta-feira (20) a capital mineira se prepara para outra invasão: a dos argentinos. A estimativa oficial é de que entre 15 e 20 mil hermanos venham à cidade, onde a seleção da Argentina enfrenta o Irã no sábado (21), às 13h. Segundo a ABIHMG (Associação Brasileira da Indústria de Hoteis de Minas Gerais), a taxa de ocupação dos 12 mil quartos de Belo Horizonte será de 95% no dia do confronto.

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