Soy loco por ti, Copa: vizinhos tornam portunhol língua oficial do Brasil

Do UOL, em São Paulo

Os argentinos fecharam Copacabana e trouxeram até um sósia do papa para abençoar sua seleção. Os colombianos pintaram as arquibancadas do Mineirão completamente de amarelo. Os chilenos transformaram a Arena Pantanal em uma embaixada de seu país e, em uníssono, cantaram o hino nacional à capela. Os mexicanos superaram um dilúvio em Natal e viram seu time vencer um jogo difícil. O Equador ainda nem entrou em campo, mas já arrastou mais de dez mil pessoas para recepcioná-los na pequena Viamão (RS). Os hondurenhos tiveram festa semelhante em Porto Feliz (SP).

A Copa começou e deu largada a uma invasão latino-americana às cidades e estádios brasileiros. Até agora, o Mundial, o primeiro na América Latina desde 1986, tem sido um grande festival da boa vizinhança, e a língua-franca nas ruas brasileiras já é o bom e velho portunhol.

Se somos um país que nasceu de costas para seus vizinhos, que pouco ou quase nada sabe sobre o que acontece nos vários países a oeste, a Copa está invertendo um pouco essa lógica.

Havia um grande temor de que esse encontro, principalmente entre argentinos e brasileiros, descambasse para violência por causa da rivalidade histórica entre os dois países. Mas, com exceção de um incidente em Belo Horizonte, onde um argentino teve o dedo quebrado após um ataque de locais, os contatos têm sido todos festivos e amistosos.

Essa é a Copa com o maior número de seleções latino-americanas na história, nove, quase um terço de todos os times classificados: Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia, Equador, Costa Rica, México e Honduras.

E o apoio da torcida tem ajudado algumas delas a conseguir bons resultados. Além do Brasil, que jogando em casa, venceu a Croácia na estreia, o México superou Camarões (1 a 0), a Colômbia venceu a Grécia (3 a 0), o Chile bateu a Austrália (3 a 1) e a Costa Rica virou para cima do Uruguai (3 a 1), o primeiro duelo entre latinos até aqui.

Argentina, Equador e Honduras ainda não estrearam.

Veja a seguir algumas das aventuras e desventuras dos nossos vizinhos no país.

Jornadas Argentinas da Juventude: um papa fake em Copacabana

Maurício Stycer/UOL

Menos de um ano depois do Papa Francisco visitar as praias cariocas na Jornada Mundial da Juventude, ele deu o ar de sua graça outra vez. Ou ao menos uma de suas cópias não-autenticadas. O papa fake foi só um dos cerca de 15 mil argentinos (nas estimativas conservadoras) que chegaram ao Rio para a estreia da seleção no Maracanã, contra a Bósnia, neste domingo.

Eles cantaram alto, empurrando a seleção com fidelidade litúrgica, mas também cometeram algumas heresias como dizer sem pudores que Maradona foi maior do que Pelé. Nada que tirasse o sono dos brasileiros que passavam ao redor.

Os locais já tinham mostrado estar fascinados com a presença das estrelas hermanas na vizinhança. Um simples treino da seleção em BH foi invadido por fanáticos que driblaram os seguranças para abraçar Lionel Messi. La Pulga não conseguiu fazer nada a não ser cair no riso porque um dos fanáticos era ninguém menos que Ronaldinho Gaúcho Fake.

O inferno vermelho chileno no Pantanal

REUTERS/Eric Gaillard

Os jornais do Chile estavam reclamando do calor de Cuiabá e chegaram a chamar a cidade de "inferno". Os torcedores trataram de colorir a figura de linguagem e pintaram a Arena Pantanal de encarnado contra a Austrália. Também deram continuidade àquele que tem sido um dos momentos mais aguardados nessa Copa: o hino nacional à capela. Como a Fifa cortou a canção pela metade, a arquibancada sustentou o tom em comunhão com os jogadores, um espetáculo que a torcida brasileira também protagonizou na abertura do Mundial.

Foi uma festa à altura das expectativas. A ansiedade era tão grande que alguns chilenos chegaram a dormir na porta do estádio na véspera da partida.

A febre amarela da Colômbia no Mineirão

Getty Images

Parecia jogo do Brasil, mas as arquibancadas completamente amarelas do Mineirão estavam lá por causa da Colômbia. Mesmo sem Falcao Garcia, os conterrâneos de Shakira não diminuíram a empolgação e tomaram as ruas de Belo Horizonte desde o dia anterior.

Um grupo de senhores chegou à capital mineira após 17 dias pedalando desde Bogotá. E eles prometem acompanhar a seleção do mesmo jeito aonde ela for. A peregrinação e o fervor colombiano no Brasil têm uma explicação: o país não participa de uma Copa do Mundo desde 1998.

Tem zebra na Costa Rica...

EFE/EPA/SERGEY DOLZHENKO

Os costarriquenhos eram minoria quando o time foi ao Castelão enfrentar o favorito Uruguai. Mas a festa que fizeram foi inesquecível, fruto de um resultado histórico e completamente inesperado. O 3 a 1 de virada sobre o Uruguai foi o primeiro revés de um latino na competição, mas como foi para outro país que também fala espanhol, ficou tudo em casa.

Os centro-americanos foram acolhidos pela torcida brasileira em Fortaleza que cantava "Ah, é Costa Rica!" para empurrar o time azarão. Embora o grito não tenha sido completamente compreendido pelos visitantes, a festa já estava feita.    

... e um fantasma no Uruguai

EFE/Lavandeira jr

Não se pode falar de um Castelazzo, mas a torcida celeste que encheu o estádio de Fortaleza não esperava uma derrota acachapante para a Costa Rica logo na primeira partida da Copa. O fantasma de 1950 agora assombra seus conterrâneos que já estão ameaçados de cair na primeira fase.    

Equador e Honduras no interior

Marinho Saldanha/UOL

Eles ainda não entraram em campo, mas já entraram em comunhão com a população das cidades que escolheram para treinar. Os equatorianos arrastaram milhares de pessoas em Viamão (RS) e receberam uma calorosa recepção. Levaram os gaúchos à loucura ao tremularem e a bandeira do estado em praça pública.

Já os simpáticos hondurenhos, que não devem fazer nada muito especial dentro dos campos da Copa, fizeram festa com os habitantes da pequena Porto Feliz, no interior de São Paulo. Sambaram, jogaram capoeira e distribuíram sorrisos no princípio de sua estadia na cidade. Como prova da tradicional hospitalidade brasileira, um garotinho da cidade levou lanches para jornalistas brasileiros e hondurenhos que faziam guarda na entrada do hotel da seleção. 

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