Daniel Pereira é chefe dos gandulas da Copa de 2014 em Cuiabá. Igor Mota trabalha nos camarotes da Arena Pantanal. No momento em que Uruguai e Costa Rica se enfrentavam em Fortaleza pelo Mundial, contudo, os dois não estavam na frente de um aparelho de TV. Não estavam sequer checando o placar em um celular. Ambos corriam num campo de futebol, mas por um motivo que não tinha nada a ver com a modalidade que tem dominado o noticiário nos últimos dias: eles são atletas do Cuiabá Arsenal, time de futebol americano da capital mato-grossense.

"Eu estava vendo o jogo da Copa e vou ver os próximos. Se não precisasse treinar, certamente estaria ligado na TV. Mas hoje [sábado] era mais importante estar aqui", contou Igor, que é capitão do Cuiabá Arsenal.

Fundado em 2006, o time de futebol americano ganhou o Campeonato Brasileiro da LBFA (Liga Brasileira de Futebol Americano) em 2010 e o da CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano) em 2012. A equipe tem custo anual na faixa de R$ 150 mil – os jogadores mais bem pagos recebem cerca de R$ 1,5 mil mensais, e todos dividem a rotina esportiva com outros empregos.

A gestão do Cuiabá Arsenal tem preocupação especial com produção de eventos. Os jogos da equipe, por exemplo, contam com um espaço infantil para o público. Torcedores que vão às partidas podem deixar os filhos num local com brinquedos e monitores.

"Por essa experiência com evento e esporte, muita gente aqui do clube acabou trabalhando na Copa do Mundo. Eu costumava fazer reuniões de diretoria com seis ou sete pessoas, mas hoje tenho feito com apenas duas ou três", relatou Orlando Eustáquio, presidente da equipe. Atualmente, a maior parte do orçamento do Cuiabá Arsenal ainda sai dos bolsos do mandatário.

As pessoas ligadas ao Cuiabá Arsenal que foram trabalhar com a Copa de 2014 abriram caminho para outros representantes da equipe. Daniel Pereira, por exemplo, foi chamado para comandar os gandulas por um amigo que faz parte do COL (Comitê Organizador Local) na capital mato-grossense.

"Tem um grupo de ex-atletas do Arsenal que trabalha no COL. O Eron, que joga aqui conosco, tinha se candidatado a esse cargo, mas pintou outro trabalho para ele. Então, essa posição meio que caiu no meu colo", disse Daniel. O cargo de chefe de gandulas demanda dois dias de treinamento, e Eron já havia cumprido um. O atual ocupante do posto fez apenas uma sessão na semana passada, já na Arena Pantanal: "É uma rotina relativamente tranquila. Nós precisamos chegar bem antes de o jogo começar e ficamos muitas horas lá, mas o que dá mais trabalho é deixar as crianças calmas".

Daniel já havia trabalhado com crianças em escolinha de futsal. Atualmente, dá aulas de inglês em uma escola de idiomas de Cuiabá. O cargo de chefe de gandulas renderá R$ 1,4 mil por cinco dias.

O caso dele está longe de ser isolado entre os atletas do Cuiabá Arsenal. "Tem um motorista, dois voluntários, o chefe de gandulas e o nosso coach [técnico], que trabalha no COL", enumerou Igor. "Trabalho nos camarotes da Arena Pantanal. Ontem [sexta-feira, dia de Chile x Austrália], pelo menos eu pude ficar no vidro e ver um pouquinho do jogo", completou.

No sábado, porém, os atletas do Cuiabá Arsenal não estavam tão preocupados assim com o jogo da Copa. A prioridade era o treino da equipe, cujas práticas acontecem de três a quatro vezes por semana.

"Todo mundo gosta de futebol aqui. A maioria tem time do coração. Se fosse um jogo do Campeonato Brasileiro, que é mais próximo, os caras estariam com o celular no campo e estariam tentando saber o placar. A Copa é mais seleção brasileira, né? Depois eu vejo o placar", disse Igor sobre Uruguai x Costa Rica.

"Entre ver Uruguai e Costa Rica e treinar, escolho treinar", adicionou Daniel. Na sexta-feira, ele já havia perdido o jogo entre Holanda e Espanha: "Já estava na Arena Pantanal, numa sala de espera. Tinha uma TV com [videogame] Playstation lá, mas nada de sinal para ver o jogo".