Copa começa com o maior número de viradas da história

Do UOL, em São Paulo

Nunca fazer o primeiro gol em uma Copa do Mundo foi tão perigoso. Depois do quarto dia de jogos, o Mundial do Brasil já bateu o recorde de viradas da história da competição. Foram cinco nas dez primeiras partidas.

Na 11ª, na noite do último domingo, a Bósnia não chegou muito perto de virar sobre a Argentina, mas ameaçou a supremacia sul-americana no placar com um gol nos cinco minutos finais.

O histórico de "vira-viras" nas Copas registra uma taxa muito menor do que a que temos visto aqui. Das 772 partidas em todos os 19 Mundiais até hoje, 97 (ou 12%) terminaram com um vencedor que tinha sofrido o primeiro gol. A taxa atual de 50% de viradas nas dez primeiras partidas é a maior de todas as Copas, se comparados os dez primeiros placares de cada uma.

Nas Copas de 1978, 1962 e 1934, houve quatro reviravoltas nos primeiros jogos. Em 2010, nenhuma.

Em 2014, elas começaram na abertura com o Brasil superando um gol contra diante da Croácia. E têm emprestado emoção até àqueles jogos mais fracos tecnicamente. A Costa do Marfim, por exemplo, não havia feito muita coisa antes dos dois gols que transformaram uma vitória parcial do Japão em triunfo africano.

E o que dizer da Suíça, o time da retranca que se converteu subitamente no da virada graças a um gol épico aos 48min do segundo tempo diante do Equador?

Ou dos pobres espanhóis, que começaram vencendo a Holanda e saíram de campo com uma acachapante derrota por goleada, o maior vexame de um campeão mundial defendendo seu título?

Parece que alguns jogos dessa Copa tiveram o roteiro assinado por um daqueles mestres do suspense, aqueles que adoram um "plot twist", as reviravoltas no final dos filmes que nos fazem sair do cinema de queixo caído.

Veja como foram essas partidas e saiba por que quem riu por último riu melhor.

Um épico suíço no Mané Garrincha

EFE/EPA/ROBERT GHEMENT

É difícil de acreditar que a insossa seleção suíça tenha protagonizado um momento emocionante em Copas, mas foi exatamente o que aconteceu aos 48min do segundo tempo em Brasília. Foi uma virada épica, de manual, cujo roteiro se construiu assim:

Suíça foge de suas características defensivas e parte para o ataque. Equador aproveita os espaços e faz o primeiro gol. Suíça empata. No último minuto, o equatoriano Arroyo tem a bola do jogo em seus pés. Em vez de chutar, ele vacila. O volante Behrami rouba a bola com um carrinho e parte em disparada para o último contra-ataque. Ele é derrubado, cai no chão, mas levanta. A bola chega à área do Equador. O estádio lotado de equatorianos se cala. Gol da Suíça. A quinta virada da Copa. Só para aumentar o número de clichês envolvidos, Seferovic, o herói do dia, ofereceu o gol ao pai, que fez aniversário no dia.

A blitzkrieg marfinense

Getty Images

Quando a Costa do Marfim se viu atrás do placar contra o Japão, apostou em um clichê para equilibrar o jogo: bola aérea no meio da diminuta defesa asiática. E deu certo. Foram dois gols em dois lances idênticos, com menos de cinco minutos de diferença entre eles. Cruzamento pela direita, cabeceio à queima-roupa.

Detalhe: a virada aconteceu logo depois que Didier Drogba, o maior jogador marfinense de todos os tempo, saiu do banco e foi a campo. Ele não chegou a participar diretamente dos gols da virada, mas pelo menos provou que tem bastante sorte.   

V de vingança e de virada

AFP PHOTO / JAVIER SORIANO

Tomar uma virada dói. Mas que tal ver uma vitória parcial se transformar na maior humilhação de sua seleção na história recente? Os espanhóis talvez imaginassem que estivesse tudo sob controle quando Xabi Alonso fez 1 a 0 de pênalti (duvidoso) contra a Holanda. Mas os holandeses, dispostos a se vingar da derrota na final da última Copa, não se contentaram em apenas inverter o placar em Salvador.

Eles impuseram ao atual campeão mundial uma vergonhosa derrota por 5 a 1 (com direito a falhas incríveis do goleiro espanhol Casillas) e já fizeram os ibéricos começarem a repensar o estilo de jogo que os consagrou nos últimos anos.

O Castelazzo

Junior Lago/UOL

Uma virada que envolve dois times do mesmo nível é até aceitável. Mas ser um gigante como Golias e sair derrotado por um David depois de ter vantagem é muito mais exasperante. Foi o que viveram nossos vizinhos uruguaios no Castelão contra a então insipiente Costa Rica. Bicampeã mundial, atual campeã da Copa América, a Celeste Olímpica foi subjugada sem contestação pelos caribenhos, mesmo tendo feito o primeiro gol.

Mas há quem diga que eles só tiveram o que mereceram. Afinal, a virada mais dolorida da história das Copas é aquela que até hoje nos assombra: em 1950, os uruguaios não se intimidaram diante do Maracanã lotado e venceram a final depois de sair em desvantagem.

Uma virada sobre si mesmo

Elsa/Getty Images

O Brasil esperou 64 anos para voltar a jogar uma Copa do Mundo em casa e já começou com o pé direito, o pé do lateral Marcelo, que fez o primeiro gol contra da seleção em Mundiais e abriu o placar para a Croácia no Itaquerão. Muito havia se falado sobre a capacidade de recuperação dos brasileiros, que pouco tinham se visto na situação de ter que reverter um placar desfavorável.

Mas empurrada pela torcida, a seleção conseguiu transformar o susto em alívio, a derrota parcial em vitória por 3 a 1 no primeiro jogo da Copa das Viradas. 

Veja também



Shopping UOL

UOL Cursos Online

Todos os cursos