Brasil quer seu 'jogo bonito', mas confia mesmo é na dupla de pragmáticos
Paulo Passos
Do UOL, em São Paulo
Se ainda houver uma crise existencial sobre escolher o jogo bonito ou o futebol pragmático na seleção ela passa longe da atual comissão técnica do Brasil. A dupla que tenta levar o time à conquista do hexacampeonato em casa, Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira, não tem dúvida sobre que linha seguir. Últimos campeões mundiais pelo país, eles não negam a aposta no pragmatismo para vencer.
"O resultado fica para a história, o jogo bonito passa. Essa é a minha filosofia", decretou Felipão.
A história de ambos ajuda a entender a escolha. Parreira, por exemplo, não foi o primeiro a romper com a ideia de que a seleção precisava encantar para depois vencer. Claúdio Coutinho, militar e preparador físico, foi treinador na Copa de 1978 e aplicou mudanças táticas e de metodologia no Brasil. A técnica individual tinha que se adaptar ao padrão de jogo do time e não o contrário, dizia. Foi com o atual coordenador técnico, porém, que a guinada a um modelo mais europeu deu resultado. No caso, com a conquista do Mundial de 1994, encerrando uma seca de 24 anos.
"O que é jogar bonito? Joga-se com eficiência, que é saber defender e atacar para ter resultado. E isso tivemos: terminamos invictos. E o time não era europeu; muito pelo contrário. Isso é uma idiotice que se criou. Nunca foi", defendeu o treinador em entrevista ao site da Fifa.
O pragmatismo no futebol brasileiro teve o paulista Rubens Minelli como um dos seus precursores. Na década de 1970, transformou o Internacional numa potência. Aliou a técnica de jogadores como Falcão e Carpegiani com marcação e diminuição de espaços no campo para o rival.
"Nunca deixei de dar liberdade aos jogadores. Dizia para eles fazerem o que sabiam quando tinham a bola. Quando tiver com a bola tem liberdade total. Quando não tiverem, vão fazer o que eu quero", afirma. "Nosso time já marcava a saída e bola do adversário. Curiosamente, hoje vejo isso, trinta anos depois, ser replicado", diz Rubens Minelli.
Não foi à toa que uma semana antes da estreia da seleção na Copa, o técnico, que completa 86 anos em 2014, foi chamado por Felipão para uma conversa com os jogadores no hotel em que o time esteva hospedado. Minelli é uma das inspirações de Scolari.
Cadê o Jogo Bonito?
"É complexo falar de uma crise existencial. Mas bem, o jogo brasileiro se transformou mediante um processo de adaptação, gerado por vitórias, decisões, personagens e sobre tudo derrotas". A análise é do jornalista inglês Alex Bellos, autor do livro "Futebol: O Brasil em Campo".
Não é raro ouvir de estrangeiros, sejam fãs do futebol, ex-jogadores, técnicos ou jornalistas o questionamento: O que há com o Brasil, onde está o jogo bonito?
"Eu nunca pagaria uma entrada para assistir a um jogo dessa seleção brasileira. Para onde desapareceu o futebol brasileiro?", disse Johan Cruyff sobre o time de Dunga que foi à África do Sul em 2010.
O argentino Jorge Valdano, campeão da Copa de 1986 com a Argentina, é menos agressivo.
"A seleção brasileira segue compensando o trauma de 1982, com defesas mais fechadas, com meio-campistas menos criativos e aproveitando o enorme talento que eles têm nos últimos metros do campo, perto da área rival, que às vezes se chama Bebeto, Romário, Ronaldo e agora Neymar. Mas que segue dando ao Brasil uma enorme eficácia, mas uma menor fascinação", definiu o argentino, em entrevista ao UOL Esporte.
No mundo ideal da dupla Scolari/Parreira, os "gringos" podem questionar e até implorar pela volta do jogo bonito que nada vai mudar. A convicção já existe. Só falta agora mais uma taça no armário para confirmar a vitória do pragmatismo.
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