Sime, o croata que virou brasileiro por causa de Didi, Garrincha e Pelé
Luís Augusto Simon
Do UOL, em São Paulo
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Luís Augusto Simon/UOL
11.06.14 - Sime Deur, secretário geral da Croatia Sacra, escalando Brasil e Croácia nos botões
Os gols de Pelé, os passes de Didi e os dribles de Garrincha, em 1958, definiram a vida de Sime Deur, secretário geral da Croatia Sacra, entidade que reúne a comunidade croata em São Paulo.
Ele vivia em Roma, como exilado político. Havia deixado a Iugoslávia por recusar-se a servir o Exército do país. "Em 1957, tinha 19 anos e teria de ficar três anos sob comando de quem não respeita os croatas".
Como exilado, recebeu convites de mercenários para lutar na África do Sul, contra os negros, e na Argélia, contra os argelinos. "Guerra não era comigo, ainda mais para oprimir os mais fracos".
Os parentes, então, emigraram para a Austrália ou Canadá. Não ele. "Quando vi pela RAI o Brasil acabar com a Rússia e a Suécia eu decidi vir para cá. Cada drible do Garrincha contra a Rússia fazia a gente rir demais".
Desceu no Rio e se maravilhou. "Andei pela praia, gostava da rua Barata Ribeiro, fiquei uns três meses, mas depois vim para São Paulo porque havia mais croatas por aqui".
Falava italiano e assim, de conversa em conversa, chegou à Cúria Metropolitana. Foi apresentado a dos padres croatas que haviam emigrado. Conseguiu emprego como sapateiro – profissão que havia aprendido em curso técnico na Croácia.
Dois anos depois, o patrão voltou à Croácia e ele herdou a sapataria. "Fiz vida aqui, tenho três filhos e três netos brasileiros. Minha mulher morreu e casei com a Glória, uma mulata baiana. Adoro o Brasil".
E o futebol continua sendo também um grande amor. É fã de Mandzukic, Modric, Srna e principalmente Rakitic. "Ele é ótimo, joga no Sevilla. Merece um time maior".
Com as mãos um pouco trêmulas, pega os botões e explica como escalaria seu time contra o Brasil. "Seria no esquema antigo, com cinco atacantes. Três na defesa e dois no meio, com um atacante voltando um pouco". E a defesa? "Defender contra o Brasil não adianta. Acaba perdendo, precisa atacar muito".
Aos 76 anos, Sime, que já foi presidente do clube, agora é como uma espécie de relações públicas. Na véspera do jogo, recebia jornalistas croatas e programava a festa que deve reunir 100 croatas na hora do jogo. "Vai ter cevapcic, um churrasco croata. Parece kafta, mas tem de ser feito com carne de boi jovem e leva pimenta com alho".
Sergio, advogado brasileiro, estava no clube, acompanhado pela mulher, Iva, por Luka, filho ainda de colo e os sogros, Danko e Visnja. "Há seis anos, fiz um mestrado na Itália e depois fui viajar pela Europa. Conheci a Iva em uma balada na Croácia e logo ela veio para cá, morar comigo."
Ele e a sogra foram os únicos a apontarem vitória do Brasil na estreia. Os outros croatas estavam confiantes. Para eles, o Brasil vai estrear com derrota.