Prefeito e alunos são excluídos de jogos pela Fifa em cidade da Copa em PE
Carlos Madeiro
Do UOL, em São Lourenço da Mata (PE)
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Carlos/Madeiro
Ruas de São Lourenço da Mata foram decoradas com as cores da seleção brasileira
Veio com promessas e irá sem deixar saudades. Essa é a visão que a as autoridades e moradores de São Lourenço da Mata, na região metropolitana do Recife, têm da Fifa, passados cinco anos do anúncio da construção da Arena Pernambuco.
Nem todos sabem, mas o estádio oficial do mundial em Pernambuco não foi erguido no Recife, mas sim na pequena São Lourenço da Mata.
Apesar de ser a cidade-sede de cinco jogos da Copa, nenhuma autoridade ou aluno de escola pública receberam convites para o mundial. Nesses cinco anos que antecederam o mundial, apesar das promessas de ações, a entidade máxima nunca procurou o município para qualquer projeto.
Além disso, o prefeito Ettore Labanca (PSB) diz que a Fifa não investiu um centavo na cidade e ainda se recusou a patrocinar uma festa, como fez em 2010, na Copa da África, e 2013, na Copa das Confederações.
Para o prefeito, a Fifa "é pior que madrasta com raiva do enteado". "No protocolo assinado, solicitei que a Fifa não num fizesse só a Copa, mas deixasse um legado. Nunca obtive a menor resposta. São insensíveis, só pensam em lucrar, em ganhar. Ela não fez nenhum gesto pela cidade. Legado zero!", disse.
Segundo o prefeito, além de não investir, com a Lei Geral da Copa, aprovada a pedido da Fifa, a cidade ainda vai deixar de faturar com os jogos, já que o município não poderá cobrar impostos no período da Copa.
"Durante a Copa, é proibido de cobrar qualquer tipo de imposto. Isso é uma lei federal, e temos que cumprir. Se contarmos que teremos mais de 150 mil pessoas aqui, deixaremos de arrecadar mais de R$ 1,5 milhão. Esse é o prejuízo que a Fifa nos deixa pra gente", reclama.
O secretário de Turismo, Cultura, Esporte e Juventude de São Lourenço da Mata, Adalberto Epaminondas, disse que nenhuma criança foi convidada para entrar com bandeira da Fifa na abertura dos jogos, como ocorreu na Copa das Confederações. "Para nós não chegou nada, nenhum convite", afirmou.
O secretário também alegou que a prefeitura não foi procurada para fazer roteiro de visita à cidade, que tem a segunda igreja mais antiga do país. "Faltou parceria. E nós não fizemos ação específica, mas estamos traçando um roteiro para visitação permanente, não só no período da Copa".
Nas ruas, o sentimento da população também é de revolta com a Fifa. "Não mudou nada aqui. Eles vieram, fizeram o estádio lá na rodovia, e deixou a cidade de lado. Aqui só existe falta de de emprego", disse Eduardo Santos, 52, que é carregador de entulhos.
Ruas enfeitadas e avanços
Apesar de não contar com a ajuda da Fifa, muitas ruas de São Lourenço da Mata estão vestidas de verde e amarelo em homenagem à seleção. A prefeitura lançou um concurso e vai premiar com R$ 1.000 a rua mais bonita.
Além disso, como é tradição, telões serão montados nos arraiais das festas juninas e transmitirão as partidas do Brasil na Copa.
Apesar de reclamar da pouca boa vontade da Fifa, os números de São Lourenço da Mata mostram crescimento do município desde que foi escolhida sede da Copa. De 2008 a 2013, a arrecadação de tributos municipais triplicou.
Além disso, dos 5.000 funcionários da obra da Arena, 3.500 eram da cidade. Até 2025, o município também deve ser alvo de expansão imobiliária, com a construção de 20.000 unidades habitacionais.
"O estádio realmente foi importante, com efeito agregador. Além disso, tem a cidade da Copa, que será erguida, com habitações, shopping, centro de convenções e vai trazer muitos empregos", disse o prefeito.