Para ingleses, memórias do Brasil também são uma assombração

Fernando Duarte

Do UOL, no Rio de Janeiro

O empurrão decisivo que derrubou a Inglaterra do pedestal veio em duas humilhantes goleadas diante da Hungria de Ferenc Puskas, ambas em 1953 – uma delas um 6 a 3 que quebrou a invencibilidade do English Team em Wembley. Porém foi três anos antes que os ingleses sofreram o que se pode chamar de choque de realidade original: na Copa do Mundo de 1950, a seleção do país inventor do futebol teve seu próprio fantasma ao ser eliminada na primeira fase do torneio.

Sim, desde então houve resultados mais humilhantes, como a falha em se classificar para os Mundiais de 1974, 78 e 94. Mas 50 ecoou mais alto por ter sido a primeira participação inglesa no torneio. Nas três edições anteriores, o país simplesmente tinha se recusado a participar depois de romper com a Fifa em 20 por não querer enfrentar nações contra quem lutado na Primeira Guerra. Pazes feitas, os ingleses rumaram para o Brasil, mas voltaram com uma vexatória para um verdadeiro bando disfarçado de seleção do EUA.

Impossível não fazer paralelos quando os ingleses se preparam para estrear na segunda Copa brasileira contra a Itália, nas difíceis condições de Manaus, e ainda enfrentar o Uruguai para tentar escapar do Grupo D. Tudo isso com um grupo reunindo novatos e  um punhado de remanescentes da geração que os ingleses chamam de dourada apesar de jamais ter vencido um torneio – Steven Gerrard, Frank Lampard e Wayne Rooney.

Dessa vez, mesmo o ufanismo inglês parece mais comedido que em competições anteriores. Nas casas de apostas do país, o English Team aparece atrás de Bélgica, Portugal e França, recebendo a cotação de 25/1 (25 vezes o valor apostado). O Brasil, por exemplo, aparece com 11/4. Uma recente enquete revelou que apenas 11% dos ingleses acreditam nas chances do time ser campeão no Brasil. Mesmo o governo britânico está pessimista: um estudo do governo sobre o relaxamento das leis de funcionamento de bares leva em conta uma eliminação na fase de grupos.

E resultados pouco animadores como os empates de 2 a 2 diante do Equador e  0 a 0 diante de Honduras nas partidas preparatória em nada ajudaram no clima de desânimo. "Alguns jogadores mais jovens têm surgido e dado um pouco de esperanças de que ao menos poderemos sair do Brasil com algo positivo para o futuro. Mas se chegarmos às quartas-de-final já será um grande resultado", avalia Gary Lineker, o único inglês que terminou um Mundial como artilheiro (1986), hoje um dos principais comentaristas esportivos do país.

Com apenas um título (1966, em casa), a Inglaterra apenas uma única outra vez passou das quartas-de-final, em 1990. Nos últimos 24 anos, sua liga se transformou num espetáculo comercial, atraindo estrelas internacionais e se transformando na mais representada na Copa do Brasil: 105 jogadores de times ingleses estarão no Mundial, incluindo quatro brasileiros (Oscar, William, Ramires e Paulinho). Na opinião de nomes respeitados do futebol inglês, essa globalização teve efeito colateral para a seleção por fechar espaços para jovens jogadores. "Há muitos estrangeiros na Liga Inglesa hoje e isso está sendo prejudicial para a seleção. Os clubes não estão dando chances para o talento doméstico e isso faz com que haja uma escassez de jogadores de categoria para a seleção e os jovens promissores não têm experiência", afirma o campeão mundial de 1966.

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