Treino aberto da Austrália assusta por carinho e barulho da torcida
Felipe Pereira
Do UOL, em Vitória (ES)
O treino aberto da seleção australiana foi marcado pelo carinho da torcida com o time na manhã deste domingo. A festa surpreendeu os jogadores que não esperavam uma recepção tão acolhedora. O público foi formado por 3 mil alunos da rede municipal de ensino de Vitória e Cariacica.
Entre eles estava Matheus Henrique Machado, 10 anos. O garoto nem pensou duas vezes. Arrancou o microfone das mãos do funcionário da Fox Sports australiana a mandou o bordão que inventou na hora. "Copa, assista a Fox Sports". A cena foi tão natural que Todd Procter pediu que o menino repetisse, mas desta vez ligou a câmera para registrar o momento. Depois o garoto ficou envergonhado e contava a história com cara de quem aprontou uma traquinagem.
Mal sabia ele que a cena foi muito bem recebida e a equipe da Fox Sports australiana pediu para outras crianças repetirem. Foi mais um capítulo descontraído de um treino marcado por tietagem. Os gritos histéricos, a arquibancada lotada e os cartazes nas mãos dos torcedores davam a impressão de que Neymar estava no estádio da Desportiva. O atacante Bem Halloran disse que quando treinam na Austrália a torcida faz tanta festa. "São três mil crianças e elas podem fazer muito barulho".
Os gritos de apoio também impressionaram a imprensa da Austrália que dizia não ter visto nada parecido na terra natal. Enquanto os jogadores corriam ao redor do gramado cada vez que se aproximavam do alambrado o volume das arquibancadas aumentava. Se os jogadores acenavam o barulhos era maior ainda.
O professor Evandro Figueiredo Gonçalves, 34 anos, improvisou uma bandeira brasileira e colocou o filho no centro. Explicou que era a maneira de a escola em que é diretor saudar o time australiano. Ele disse ainda que foi preciso fazer sorteio porque eram 35 vagas e 300 interessados.
A visita ao treino fez a casa dele ganhar um hóspede. Arthur Freire dos Santos, 10 anos, ia viajar com a família para um aniversário. Ao saber que fora sorteado bateu o pé e falou não vou. Os pais concederam e o menino vai dormir na casa do diretor neste sábado. "Tá valendo a pena. Gosto muito de futebo"l, conta o menino que jura ser um bom atacante.
Os jogadores também fizeram sucesso juntos as garotas do 9º ano do Ensino Fundamental. A frase 'I love you' era ouvida com frequência. O grupo em que estava Stefani Andrade, 14 anos, repetia "lindo, tesão, bonito e gostosão". A garota falou que casaria com um dos atleta. "É lógico. Casava e ia embora para Austrália. Se pudesse abraça e beijava eles". A intenção era compartilhada pelas amigas.
O atacante Bem Halloran riu ao saber o significado do coro e não deu muitas esperanças às adolescentes. Realista, explicou que é pouco provável que o sonho dela se torne realidade por causa da diferença de idade. "Não dá. São muito jovens".
Mas o apoio dos alunos foi recompensado. A Federação Australiana de Futebol distribuiu mini-bolas para a torcida. O campo de treinamento também foi aberto para 17 crianças da aldeia Caieira Velha, uma comunidade indígena de Aracruz, cidade próxima a Vitória.
Eles foram convidados para uma clínica de futebol pela comissão técnica australiana e jogaram um amistoso contra nove aborígenes num campo com dimensões reduzidas. A partida terminou num protocolar empate de o a 0. Em seguida os jogadores foram misturados e a rede balançou várias vezes nos jogos que se seguiram.