SP terá tolerância zero contra baderneiros durante a Copa, diz secretário

Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

  • Vagner Magalhães/UOL

    O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, diz que São Paulo será segura para a Copa

    O secretário de Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, diz que São Paulo será segura para a Copa

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella Vieira, afirma estar convicto de que São Paulo será um local seguro para aqueles que vierem acompanhar a Copa do Mundo no Estado. Diz que a Polícia Militar (PM) irá garantir o direito de todos à livre manifestação, mas que haverá tolerância zero para os "baderneiros". Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, em seu gabinete, ele afirmou que hoje não há qualquer elemento que permita afirmar a existência de um plano para a atuação do crime organizado durante a competição. Mas que  isso "não dispensa o trabalho de acompanhamento" dos criminosos dentro e fora das presídios paulistas.

Em um Estado em que os crimes contra o patrimônio – roubos e furtos – estão em crescimento contínuo, o secretário diz que essa pode ser uma forma de a população extravasar a sua insatisfação. "Parece-me que a população está extravasando as suas pretensões por duas linhas: pela linha do crime e das manifestações para colocar o seu descontentamento", diz ele.
 
Paulista de Capivari, Grella Vieira assumiu a secretaria de Segurança Pública em novembro de 2012. Formado bacharel em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica), atuou como procurador do Estado e promotor público antes de chegar ao cargo. É corintiano, mas conta não ser fanático. "Não sou daqueles que não perde um jogo, que briga com o amigo, que vai em estádio". Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
 

UOL Esporte: O que se pode esperar da segurança pública em São Paulo durante a Copa do Mundo?

Fernando Grella: Podemos dizer que as pessoas podem vir com tranquilidade. Estamos atuando de maneira integrada com as forças federais: Polícia Federal, o próprio Exército, sob cordenação da Sesg (Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos), do Ministério da Justiça. Em São Paulo, nós montamos um esquema especial de policiamento ostensivo, o chamado Comando Copa, para não prejudicar o policiamento normal. São alunos da escola de soldados, da escola de sargentos, que portanto não estão no policiamento de rotina. E mais 700 policiais de diretorias administrativas no total de 4.265 homens, que estarão sob o comando de um coronel na capital. Nós estamos preparados. O segredo é a integração. O Centro de Comando e Controle está em vias de ser concluído. O que eu posso dizer é que as pessoas venham para aproveitar, que nós estamos fazendo tudo o que é necessário.
 
UOL Esporte: O policiamento normal da cidade não será afetado?
 
Fernando Grella: Pelo contrário. Ele vai ter um acréscimo. Porque nós suspendemos férias e licença-prêmio de todos os policiais. Então, mesmo no interior, onde temos os centros de treinamento, esses efetivos terão um aumento de 15%, só com suspensão de férias e licença-prêmio.
 
UOL Esporte: Como será a logística de deslocamento de delegações, das autoridades?
 
Fernando Grella: Tudo isso obedece a um plano nesse trabalho integrado. Participam das escoltas e dos acompanhamentos, a Polícia Federal, o Exército, a Polícia Rodoviária Federal, a PM e a Polícia Civil. Já foram feitos vários exercícios de simulação. A coordenação de trajetos é da PM, pela expertise que ela tem, mas todos vão participar. Nenhum segmento vai estar excluído. Já fizeram, inclusive, a definição desta partilha de atribuições e como isso acontecerá. Não estamos tirando ninguém lá da ponta, do batalhão, de qualquer área de São Paulo, para prejudicar o policiamento rotineiro.
 
UOL Esporte: Haverá transtornos para o paulistano no trânsito, por conta desses deslocamentos?
 
Fernando Grella: O que existe é um planejamento de trajetos, trajetos alternativos. Quem ficará incumbido dessas delegações. Escolta da presidente, escolta de chefes de Estado. Quem participará e como participará. Por exemplo, a Polícia Federal tem por atribuição legal, o que eles chamam de acompanhamento próximo. Ela estará no carro da autoridade. O Exército estará presente nas escoltas de chefe de Estado. Mas haverá, evidentemente, uma integração nisso tudo, um trabalho conjunto. Porque a PM se incumbirá de definir o trajeto, o trajeto alternativo. De regular a fluição dos comboios dessas escoltas.
 
UOL Esporte: Qual será a atribuição do Comando Copa durante o Mundial?
 
Fernando Grella: O comando vai ficar com o coronel Wagner Tardelli, que está designado para comandar esses 4.265 homens. A atribuição dele é dar apoio em todos os setores da capital para os eventos da Copa, para deslocamentos, para as áreas onde teremos os jogos, outras atividades como as fans fests e áreas de hotéis, que serão reforçadas. Todas as áreas em que a gente tiver um contingente razoável de turistas receberão reforço. 
 
UOL Esporte: E o papel do policamento de Choque?
 
Fernando Grella: Na verdade, nós estamos preparados, temos uma expertise nisso. As últimas manifestações demonstraram que a polícia se aprimorou no tratamento dessa questão. Nós estaremos preparados para garantir o direito de manifestação. As que acontecerem poderão ser realizadas. A polícia vai garantir e vai também cumprir o seu papel em relação àqueles grupos de baderneiros que usam o direito de manifestação para praticar atos de violência e a tolerância com esses grupos será zero. Até porque, o que eles agridem em primeiro lugar é o direito à manifestação. Estamos preparados para tratar isso. De uma maneira geral, houve um recrudescimento dessas manifestações. Tivemos também um aumento dos crimes contra o patrimônio em praticamente todos os Estados. No Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, aqui em São Paulo. É um efeito dos tempos atuais. Parece-me que a população está extravasando as suas pretensões por duas linhas: pela linha do crime e das manifestações para colocar o seu descontentamento.
 
UOL Esporte: A Polícia Militar tem sido muito questionada pela sua atuação nas manifestações desde o ano passado. Em alguns momentos, pelo uso desproporcional da força. Em outros pela avaliação de que deixou as coisas correrem soltas. Qual a autocrítica que o senhor faz do desempenho da PM?
 
Fernando Grella: Essa questão das violências em manifestações é uma questão que se colocou em junho. Nós nunca tínhamos tido isso. Ao contrário de outros países que tiveram no passado e passaram pela mesma experiência. A polícia se aperfeiçoou como acontece em todas as operações. Os resultados dessas operações são avaliados para o aperfeiçoamento da operação. Eu acredito que a própria experiência, a própria atuação, erros e acertos havidos, evidentemente orientaram e permitiram um aperfeiçoamento na estratégia, na forma de agir. E as últimas manifestações revelam isso. Que a polícia hoje conhece melhor, sabe melhor trabalhar esse assunto.
 
UOL Esporte: Em uma manifestação em fevereiro, a polícia deteve mais de uma centena de pessoas no centro de São Paulo, sem que elas tivessem cometido nenhum tipo de crime. Foi dito à época que foi uma medida preventiva, o que é considerado ilegal...
 
Fernando Grella: Pelos relatórios que recebemos, ali foi uma intervenção no momento certo, quando alguns atos de violência já se colocavam. Tanto foi exitosa a intervenção que não tivemos depredações, não tivemos pessoas feridas. O objetivo da polícia não foi de forma alguma cercear o direito de manifestação. 
 
UOL Esporte: Mas a ação foi alvo de muitas críticas, sobre sua legalidade...
 
Fernando Grella: O que eles fizeram foi uma ação pontual, quando os atos de violência já estavam se colocando. E foi nesse sentido, de evitar violações, depredações e agressões. Tanto que o resultado foi exitoso. Depois daquela, nós tivemos outras manifestações que transcorreram normalmente.
 
UOL Esporte: Mas esse tipo de ação não se repetiu...
 
Fernando Grella: Nas outras manifestações não foi necessária essa intervenção. Não houve um esboço, um início de atos de violência, de agressões, de atos criminosos. Então a polícia não teve de usar essa estratégia. Naquele caso se justificou. Nas demais manifestações, que nós tivemos na sequência, isso não aconteceu.
 
UOL Esporte: Então é uma estratégia que pode ser utilizada novamente?
 
Fernando Grella: Depende do momento. E o comandante da operação é que tem condições de avaliar qual é a estratégia. Eles têm várias estratégias. Mas é preciso que fique clara uma coisa. Que o objetivo da polícia, em primeiro lugar, é garantir o direito à manifestação. Como sempre foi feito. São Paulo teve mais de mil manifestações e nunca houve problema. E a polícia vai continuar trabalhando nesse sentido, de garantir o direito de manifestação.
 
UOL Esporte: Qual será o papel da polícia no entorno do estádio?
 
Fernando Grella: (O entorno) vai receber cerca de 700 policiais, só do trânsito. Mais 600 desse policiamento do Comando Copa. E como a Fifa é organizadora e executora, sabe que nós não vamos ter policiais lá dentro dos estádios. Eles vão ter os seguranças privados, contratados. No entanto, vamos ter uma sala, um local reservado, um contingente mínimo de um pelotão de Choque. Nas próprias revistas no estádio, que serão feitas pelos agentes privados, a PM não vai participar, mas vai estar à disposição. Por que razão? Se houver um incidente, alguém que tenha uma arma, um objeto, a polícia vai ser acionada, vai agir.
 
UOL Esporte: O Centro de Operações da Copa do Mundo fica como legado?
 
Fernando Grella: Posteriormente, acabada a Copa, queremos manter esse centro agregado ao centro de inteligência que nós temos. Hoje nós temos o Centro de Inteligência Integrada. Eventualmente, para algumas operações participam o Exército, a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), a Receita Federal, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Queremos manter aquele centro de atuação integrada, com alguns segmentos da área federal e estadual, também agências e setores. Exatamente para fomentar a área de inteligência e permitir essa integração. Também ficaremos com alguns equipamentos para a área de segurança. Imagiadores para helicópteros, robô para desarmamento de bombas. Bases móveis de comunicação perto do estádio. Alguns equipamentos vão ficar e serão úteis, como softwares e equipamentos. São um legado positivo: além de fomentar a cultura da integração, que acredito ser fundamental em qualquer área de inteligência e segurança pública do mundo. Hoje, quando você quer enfrentar quadrilhas que fraudam, que se dedicam a lavagem de dinheiro em qualquer lugar do mundo, isso é desenvolvido por um trabalho integrado das várias agências do País ou de países envolvidos. 
 
UOL Esporte: Ao contrário dos estádios, dá para dizer que está tudo pronto?
 
Fernando Grella: Estamos fazendo o melhor, o que é possível fazer. Há um perfeito entrosamento, todos os entendimentos. É lógico que há dificuldades. O Centro de Comando vai ficar pronto, para ser entregue, no dia 23. Em cima do prazo. Há um grande esforço que as coisas saiam da melhor maneira possível.
 
UOL Esporte: A possibilidade de uma greve da polícia ou de setores estratégicos, utilizando Copa como forma pressão, preocupa?
 
Fernando Grella: Estamos acompanhando. Isso não há como evitar. No caso da polícia é muito pouco provável que a gente tenha em São Paulo o que está acontecendo em outros Estados. Tivemos o último reajuste em novembro. Com algumas medidas extras para a PM e para a Civil. O reajuste dos últimos 3 anos foi quase o dobro da inflação no período.
 
UOL Esporte: Mas tem também o fator político...
 
Fernando Grella: O governante tem limites, a lei de Responsabilidade Fiscal... Qual governante que não gostaria de dar 20% de aumento agora? O governante tem de ser leal, sincero, explicar. Como demos um reajuste em novembro, estamos avaliando quanto será possível dar de reajuste agora. Faremos a avaliação. O governo tem condições de decidir qual será o reajuste. Que governo dá no primeiro ano 15% de aumento? No segundo, 11%? E que governo não gostaria de dar em um ano de eleição o maior percentual possível?
 
UOL Esporte: O crime organizado está sendo monitorado por conta de uma possível atuação durante a Copa?
 
Fernando Grella: Sempre se falou nisso, são cogitações genéricas... Mas não tem nada da existência de um plano estruturado. Nós temos a responsabilidade de acompanhar. Com a SAP (Secretaria de Assuntos Penitenciários), o movimento nos presídios, com a inteligência da Civil, da Militar. Estamo acompanhando. Não descartamos nada, porém hoje eu posso dizer que não há nenhum elemento que permita afirmar a existência de um plano para isso. O que não nos dispensa do trabalho de acompanhamento.
 

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