Leandro esquece as 'dores da Copa' e mostra enredo superficial na avenida

Vinicius Mesquita

Do UOL, em São Paulo

A homenagem à Copa do Mundo, tão proclamada pela Leandro de Itaquera, passou à margem do primeiro dia de desfiles das escolas de samba de São Paulo. Mais preocupada em contar histórias sobre a evolução do futebol brasileiro, a Leandro confundiu o público com seu difuso enredo "Ginga Brasil, Futebol é Raça: Em 2014, a Copa do Mundo começa Aqui!"

Uma armadilha do destino? Talvez. A Leandro de Itaquera foi vítima da metamorfose que o tema "Copa do Mundo" sofreu para o brasileiro nos últimos oito meses. Desde o início do segundo semestre de 2013, a Copa brasileira não tem nada de engraçadinha e não consegue mais ser traduzida por bichos de pelúcia azul em formato de tatu-bola. A Copa do Mundo do Brasil, hoje, reflete a cara de um black bloc em polvorosa e o ardor de uma bomba de efeito moral.

Quando a ala "Grito de Gol" trouxe uma enorme réplica do mascote Fuleco em contínuo movimento mecânico para representar a alegria da torcida nas arquibancadas, a Copa da Leandro pareceu desfocada da realidade e distante dos olhos de quem já digeriu que esse evento não será simples até para quem gosta de futebol.

A questão essencial, porém, é que o tal Carnaval exige otimismo, samba no pé e sorriso no rosto dos foliões. Portanto, não deve ser fácil a uma escola de samba representar na avenida os aeroportos congestionados, os atrasos nas obras dos estádios, o constrangedor acesso à internet 4G ou o corre-corre do TCU (Tribunal de Contas da União) para avaliar riscos de inadimplência em financiamentos feitos por clubes de futebol. Aquela Copa que quase todo mundo vê pelas redes sociais, jornais e TV não se encaixa em quatro dias de farra.

Mas mesmo que a Leandro estivesse corretíssima em seu otimismo e esse anacronismo fizesse algum sentido, seu desfile também teria fracassado. Sobre a Copa, além do gigantesco Fuleco, a Leandro mostrou a bola Brazuca, a ala "Nações da Copa 2014" (representando cada um dos 31 países que visitarão o Brasil para a disputa do torneio) e o carro "Imagens de um Brasil Pentacampeão".  Entre as imagens reproduzidas, por exemplo, estava a célebre comemoração de Ronaldo Fenômeno balançando o dedo indicador em riste. Só isso, mais nada. Em outras alas e alegorias, a Leandro priorizou as marias-chuteiras, a força regional do futebol brasileiro, a garra dos atletas negros e o pai do futebol Charles Miller.

O mais curioso é que a escola negociou com a Fifa por cerca de seis meses para aplicar a marca "Copa do Mundo" em seu enredo.  Foi necessário que a Leandro convencesse a entidade máxima do futebol de que não usaria o nome "Copa" para "fins comerciais ou associasse a outras empresas/marcas". Algo me diz que a escola perdeu tempo. 

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