Cinco falhas da Copa das Confederações repetem-se na organização do Mundial
Vinicius Konchinski
Do UOL, no Rio de Janeiro
A Copa das Confederações é um torneio-teste para a Copa do Mundo. Por isso, as falhas que ocorrem no primeiro evento são razoavelmente aceitáveis e consideradas até educativas pelo COL (Comitê Organizador Local) e pelo governo. A Fifa esperava que o que deu errado no teste servisse de lição para o Mundial. No entanto, parece que nem tudo foi aprendido pelo Brasil.
A pouco mais de cem dias para o início da Copa do Mundo de 2014, estão se repetindo as falhas verificadas pelo próprio COL e governo durante a organização da Copa das Confederações. O UOL Esporte listou cinco desses problemas. Confira:
1. ATRASO NA ENTREGA DOS ESTÁDIOS
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O prazo para a conclusão das obras de estádios da Copa das Confederações era 31 de dezembro de 2012. No entanto, das seis sedes do torneio, só duas (Fortaleza e Belo Horizonte) respeitaram a data-limite. Brasília, Recife, Rio de Janeiro e Salvador atrasaram a entrega das obras. O Maracanã, por exemplo, foi oficialmente inaugurado faltando 13 dias para o início da Copa das Confederações, em 2 de junho de 2013.
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A Fifa apontou esse atraso nos estádios como um dos maiores problemas da organização Copa das Confederações. A entidade prometeu ser mais rígida com prazos para obras em arenas da Copa de 2014. Estabeleceu que os outros seis estádios que serão usados no torneio deveriam ser entregues impreterivelmente em 31 de dezembro de 2013.
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Isso não ocorreu. Estamos em fevereiro e, até agora, só a Arena das Dunas (Natal) e o Beira-Rio (Porto Alegre) já receberam um jogo de futebol após suas obras. Nos outros quatro estádios --Arena da Amazônia (Manaus), Arena da Baixada (Curitiba), Arena Pantanal (Cuiabá) e Itaquerão (São Paulo)— o trabalho de reforma ou construção segue.
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Procurado, o Ministério do Esporte informou em nota que a Copa das Confederações foi um evento bem-sucedido e afirmou que todos os 12 estádios escalados para receber o Mundial estarão prontos a tempo para o evento. Complementou dizendo que, atualmente, nove já estão prontos para receber partidas. "Além dos oito já entregues, a Arena da Amazônia tem seu primeiro jogo marcado para o dia 9 de março", declarou.
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Já o COL disse que informou que reconhece os esforços das sedes e que confia que os prazos apresentados por elas para a conclusão das obras serão cumpridos.
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Disse também que os "demais estádios serão entregues a tempo da realização de jogos-teste e estarão preparados para sediar os jogos da Copa do Mundo".
2. PROBLEMAS NA CONTRATAÇÃO DE ESTRUTURAS COMPLEMENTARES
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Logo após o fim da Copa das Confederações, o presidente do COL, José Maria Marin, enviou uma carta ao presidente do Internacional, Giovanni Luigi, cobrando definições para o final da preparação do Beira-Rio para a Copa do Mundo. Na correspondência, Marin reconheceu que "o processo de contratação de estruturas complementares [para os estádios da Copa das Confederações] não foi realizado de forma a atender adequadamente as necessidades do evento". Segundo ele, "grandes incertezas" na contratação das estruturas (tendas, barracões e outros equipamentos) geraram um "impacto negativo" na relação de sedes com a Fifa.
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Por tudo isso, Marin solicitou que providências fossem tomadas até o final de dezembro. Lembrou ainda que esse prazo valeria para todas as sedes da Copa de 2014.
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O prazo, porém, novamente foi ignorado. Somente no início da semana passada, Inter, Fifa e governos chegaram a uma acordo sobre como será feita a contratação das estruturas temporárias da Copa do Mundo, mas o governo estadual ainda aguarda a definição de uma nova lei para pagar por sua parte no acordo. Um levantamento feito pelo Blog do Rodrigo Mattos também na semana passada constatou que dois terços das sedes do Mundial ainda não definiram como as estruturas complementares de estádios serão instaladas para a Copa.
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O COL afirmou que a montagem das estruturas complementares está sendo planejada em todas as sedes e que, "até o momento, não há problemas com os cronogramas". Mesmo assim, informou que permanece "trabalhando de forma integrada com as sedes para garantir a célere contratação e montagem das estruturas, de modo a permitir a realização dos indispensáveis testes e ajustes".
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O Ministério do Esporte ratificou o discurso do COL e inforrmou que todas as estruturas temporárias serão instaladas no prazo previsto.
3. T.I. ATRASADA E "APAGÃO" NA INTERNET PELO CELULAR
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Um fato constrangedor ilustra bem os problemas de TI (tecnologia da informação) e de acesso à internet 3G e 4G verificados durante a Copa das Confederações. Enquanto o torneio ainda acontecia em cidades-sedes do país, o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Cezar Alvarez, resolveu ir ao do estádio do Maracanã para participar de uma entrevista coletiva. Sentado à frente de jornalistas de várias partes do mundo, Alvarez foi questionado sobre a qualidade dos serviços de internet e telefonia no Brasil. Frustrado, reconheceu em público que ele mesmo não havia conseguido acessar a rede mundial de computadores de seu celular em áreas do estádio.
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Segundo Alvarez, empresas de telefonia não puderam instalar todos os equipamentos necessários para uma boa transmissão de dados durante a Copa das Confederações justamente porque enfrentaram problemas na fase final das obras em estádios do torneio. O secretário do ministério então cobrou que, na Copa do Mundo, a instalação desses equipamentos recebesse certa prioridade.
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Na semana passada, contudo, representantes do Sinditelebrasil (Sindicato das operadoras de telefonia celular) informaram à Agência Reuters que companhias voltaram a ter problemas para providenciar a estrutura necessária para a conexão de internet via telefone. Segundo o sindicato, mesmo estádios já concluídos, como o Maracanã, só terão equipamentos em maio. Já no Itaquerão e na Arena da Baixada, a instalação ainda depende de negociações com o Corinthians e o Atlético-PR, donos dos espaços.
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O Ministério do Esporte informou que o governo avaliou como eficiente a cobertura de telefonia celular nos estádios, apesar de reconhecer "intermitências". O órgão disse que espera que esses problemas estejam superados na Copa do Mundo por dois motivos.
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Primeiro, porque o número de usuários da tecnologia 4G já chegou a 1,3 milhão (mais de 10 vezes superior à quantidade de usuários no início da Copa das Confederações). Essas pessoas já não devem mais usar as redes 3G nos estádios e vão reduzir a demanda por cobertura. O segundo motivo é que as operadoras de telefonia estão empenhadas em instalar redes de internet sem fio dos estádios (Wi-Fi). Conectados a essa rede, os torcedores acabam desafogando a rede de internet móvel.
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Procurados, Atlético-PR e Corinthians não responderam. COL também não se pronunciou sobre o assunto.
4. ACESSO A ESTÁDIOS ENTREGUES EM CIMA DA HORA
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A mobilidade de Recife foi apontada como um ponto negativo da Copa das Confederações em balanço feito pelo COL e governo após o torneio. A capital pernambucana chegou a elaborar um plano para que torcedores pudessem chegar e sair do estádio usando recém-concluídas melhorias no seu sistema de transporte público. O problema é que essas melhorias foram entregues tão perto do início do torneio que acabaram não sendo testadas. Resultado: muitas filas, reclamações e uma péssima impressão deixada pela cidade.
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Recife, então, passou a ser tratada como um exemplo. COL e governos concordaram que é necessário incluir nos testes operacionais dos estádios da Copa também o sistema de transporte para acesso às arenas. Acontece que, desde a Copa das Confederações, a entrega dessas obras já foi adiada muitas vezes.
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A reforma da estação do metrô ao lado do Maracanã, por exemplo, assim como as passarelas que farão a ligação do espaço com o estádio, só estará pronta em maio, um mês antes do início do Mundial. Já o novo projeto de acessibilidade para o entorno do Beira-Rio, em Porto Alegre, possivelmente só será concluído durante a Copa, levando-se em conta a licitação da obra.
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O Ministério do Esporte informou que os planos operacionais da Copa das Confederações, incluindo o de mobilidade urbana, funcionaram. Segundo o órgão, governo e organizadores já estão elaborando esses planos visando a Copa do Mundo. "O governo federal trabalha em conjunto com prefeituras, governos estaduais e COL para garantir a eficiência dos sistemas de transporte nas 12 cidades", declarou.
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O COL não se pronunciou. A Prefeitura de Porto Alegre não respondeu ao UOL Esporte.
5. AEROPORTOS RECEBEM TURISTAS EM OBRAS
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Torcedores que viajarão de avião durante a Copa das Confederações encontraram aeroportos em obras. Melhorias em terminais de passageiros prometidas por governantes ainda em 2010 acabaram não sendo concluídas a tempo e tapumes dividiram espaço com turistas. A Copa das Confederações atraiu cerca de 20 mil estrangeiros e os aeroportos, mesmo em obras, foram até bem avaliados.
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Acontece que, na Copa do Mundo, o próprio governo estima que 600 mil turistas de outros países virão ao Brasil. A maior parte deles chegará de avião, e boa parte dos aeroportos ainda estará em obras quando o evento começar.
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Segundo a Infraero, estatal que administra os aeroportos federais, todos os terminais aéreos terão condições de atender à demanda do Mundial. Contudo, ela mesmo reconheceu que sete aeroportos ainda estarão em obras quando no início da Copa: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador.
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A Infraero informou que uma parte das obras que estarão em execução durante a Copa já estava prevista para ser realizada durante o torneio desde o início. Contudo, o UOL Esporte já apurou que a maior parte das promessas feitas em 2010 relacionadas aos aeroportos não será cumprida. Isso em se tratando só dos aeroportos públicos. Os aeroportos cuja administração foi privatizada (Brasília, Guarulhos, Natal e Viracopos) também devem estar em obras. O contrato de concessão já previa prazos mais longos para reforma.
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O Ministério do Esporte ratificou o discurso da Infraero. Informou que a SAC (Secretaria de Aviação Civil) acompanha de perto os prazos e a qualidade de cada obra. Lembrou ainda que a modernização dos aeroportos "servirá não só para o Mundial, mas como importante legado para a população das cidades".
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O COL não se pronunciou.