Cuidado! Texto da France Football que circula no Facebook é falso
Do UOL, em São PauloUma reportagem da revista francesa France Football, edição de 28 de janeiro de 2014, virou febre para alguns usuários do Facebook. Há quase um mês, um post já foi compartilhado mais de 200 mil vezes com informações erradas sobre o conteúdo escrito pelos jornalistas Éric Champel, Éric Frosio e François Verdenet.
O UOL Esporte leu e já relatou a reportagem nas seguintes matérias O que a imprensa internacional faz para (tentar) entender o Brasil da Copa e Blatter diz que Copa no Brasil está mais atrasada que a da África do Sul.
No último dia 10 de fevereiro, o jornalista Juca Kfouri também citou a reportagem em sua coluna, ressaltando que as traduções que circulavam pela internet não eram totalmente fiéis ao texto francês. "Tanto bastou para a internet ser infestada com uma versão falsa e apimentada da reportagem, o que tornou ridículo o que é sério e revelou com clareza o esforço covarde, e eleitoral, dos que apostam no quanto pior melhor.O Brasil é pintado como o fim da picada, mas o fim mesmo, sem sentido figurado, agraciado com uma lista interminável de horrores, de meias verdades piores que mentiras inteiras".
Abaixo, você verá o confronto do que diz a matéria francesa e o post apócrifo divulgados por vários perfis do Facebook, alguns com centenas de milhares de compartilhamentos. Até o apresentador Fernando Vannucci o fez, gerando mais de 25 mil compartilhamentos.
A tradução começa com as seguintes frases "Revista francesa, resume o Brasil em todos os sentidos. 12 páginas de uma Revista Francesa (France Football) que resumem o Brasil em todos os sentidos". Não há a menção destas frases na revista. O tom da publicação é crítico, sim. Na primeira página da matéria, o texto diz "Brasil, o medo sobre o Mundial. Atraso nas obras dos estádios, aumento dos preços, riscos de novas manifestações nas ruas, grande diferenças de temperatura entre as sedes, o Mundial do Brasil suscita inquietudes a menos de 140 dias da partida de abertura, no dia 12 de junho em São Paulo". Mas não chega perto ao falado e escrito no texto que circula nas mídias sociais. É possível dizer que parte dos temas citados são exageros na tradução e outra parte é inventada e não encontra qualquer relação na reportagem da revista francesa.
OS EXAGEROS DA TRADUÇÃO
- "Todo o alto escalão do governo Lula está preso por corrupção, mas os artistas e grande parte da população acham que eles são honestos, e fazem campanhas para recolher dinheiro para eles". A France Football fala, sim, de corrupção. Mas de forma genérica e não cita artistas, nem qualquer colaboração com Lula. Diz também que a inércia política atrapalha as obras da Copa. E relata, como uma forma de comprovar essa corrupção, que as empreiteiras a cargo da construções dos estádios seriam financiadoras de campanhas eleitorais.
- "O Deputado mais votado do Brasil é um palhaço analfabeto e banguela, que faz uma dança ridícula, com roupas igualmente ridículas, e seu bordão é: "pior que está não fica". Será? A reportagem não usa o deputado Tiririca, nem cita as roupas do parlamentar, nem as músicas. Mas, para ilustrar o tom das manifestações, descreve um homem (Eron Morais de Melo, um dentista) que se fantasiou de Batman em uma manifestação popular no dia 9 de janeiro. Aliás, logo no primeiro parágrafo.
- "O que falta no Brasil é educação. Os números são assustadores, mesmo quando comparados com seus vizinhos sul-americanos". A revista não usa essa frase. Para comparar o uso de dinheiro público em obras da Copa com investido na educação afirma que, em 2013, o orçamento federal para a Educação foi de 12,8 bilhões de euros. Para construir e reformar 12 estádios, foram até agora 11 bilhões de euros.
- "O francês Jérome Valcke, secretário geral da Fifa criticou o Brasil pelos atrasos. O governo brasileiro disse que não conversaria mais com Jérome Valcke". A France Football não crava em qualquer momento esse rompimento de relação. Cita, sim, a crítica do secretário-geral da Fifa, mas afirma que, em março de 2012, ele foi "provisoriamente" declarado "persona non grata" por afirmar que os organizadores do Mundial deveriam levar um "chute no traseiro".