De olho no cofre

Curitiba precisa do BNDES para terminar Arena. Mas não sabe o quanto pedir

Tiago Dantas e Vinicius Konchinski

Do UOL, em São Paulo e no Rio de Janeiro

O governo do Paraná vai pedir um novo financiamento ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) nesta sexta-feira, 7, para terminar a obra da Arena da Baixada, em Curitiba, estádio ameaçado de ser retirado da Copa do Mundo.

O valor do empréstimo ninguém sabe ao certo. Mas o financiamento do banco federal terá que ser pago pelo Atlético-PR, segundo o governo. Em 2011, o clube se comprometeu a bancar qualquer custo que ultrapassasse a estimativa inicial de gastos: R$ 185 milhões.

A incerteza sobre o valor do novo financiamento se deve à divulgação de preços diferentes para o término da obra. Sabe-se que o Atlético-PR tem dinheiro em caixa suficiente para pagar os trabalhos até 28 de fevereiro, estimado em R$ 265 milhões.

O último relatório apresentado pelo clube para o governo do Estado e a prefeitura de Curitiba revela que o valor necessário para finalizar a reforma do estádio é de R$ 319 milhões. Subtraindo-se o gasto previsto até o fim do mês, faltariam R$ 54 milhões.

Mas não há consenso de que este será o valor do novo financiamento do BNDES. Políticos ligados à organização da Copa em Curitiba ouvidos pelo UOL Esporte afirmam que o dinheiro necessário para terminar a obra pode ficar entre R$ 55 milhões e 70 milhões.

Em documento divulgado em novembro, com a atualização dos custos de todas as obras ligadas à Copa do Mundo, o Ministério do Esporte informou que a reforma da Arena custaria R$ 326 milhões – estariam faltando, portanto, R$ 61 milhões.

Na terça-feira, o presidente do Atlético-PR, Mário Celso Petraglia, deu um número diferente durante uma reunião da ACP (Associação Comercial do Paraná) e afirmou que o custo estava em torno de R$ 330 milhões, o que elevaria o empréstimo para R$ 65 milhões.

A Fomento Paraná, agência ligada ao governo do Estado, contratou a Price para fazer uma auditoria nas contas apresentadas pelo Atlético-PR e definir de uma vez o valor correto da obra. Só após a revisão dos dados é que o governo deve se pronunciar.

Falta de garantias pode ser problema

O novo financiamento será negociado na tarde desta sexta-feira, 6. O secretário estadual do Planejamento, Cássio Taniguchi, tem uma reunião marcada com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, às 14h em um escritório do banco em São Paulo.

O encontro deve servir para as partes acertarem detalhes da linha de crédito. O governo do Paraná espera encontrar condições semelhantes ao ProCopa Arenas, que oferecia mais tempo de carência e menores taxas de juros para os estádios do Mundial do que financiamentos normais. Essa condição, no entanto, já expirou.

Outro ponto que ainda precisa ser negociado é a garantia que o clube dará de que conseguirá pagar o banco. Para levantar outros R$ 226 milhões de financiamento ao longo dos últimos três anos, o Atlético-PR já penhorou o CT do Caju e os direitos de transmissão pagos pela TV Globo até 2018.

A possibilidade de vender o nome do estádio para uma empresa (a venda dos naming rights), terrenos vizinhos à construção ou a própria arena podem ser dados como garantia. Antes de aceita-los, o BNDES teria que fazer uma avaliação.

Políticos paranaenses acreditam que o dinheiro deve ser liberado de forma rápida, uma vez que a Presidência da República estaria preocupada com o possível desgaste gerado pela eliminação de uma das 12 sedes da Copa do Mundo.

O BNDES já financiou R$ 131 milhões para as obras da Arena da Baixada. Desse montante, R$ 6,5 milhões ainda não foram liberados, segundo o banco. O dinheiro cairia na conta do clube quando a obra atingisse 90%.

A fonte de outros R$ 95 milhões é a Fomento Paraná. A última parcela do empréstimo foi liberada no início de janeiro. Para completar os R$ 265 milhões, há R$ 39 milhões que teriam sido colocados na obra pelo próprio Atlético-PR.

Além disso, o clube tem à sua disposição R$ 143 milhões liberados pela Prefeitura de Curitiba por meio de títulos de potencial construtivo. Os títulos são comprados por empresas que querem construir imóveis mais altos do que permite o zoneamento de determinado bairro. Esse montante foi utilizado como garantia para o primeiro empréstimo do BNDES.

Acordo previa divisão em três

A reforma do estádio paranaense escalado para receber os jogos do Mundial tinha sido orçada em R$ 185 milhões em 2010, ainda antes de começar. Naquela época, Prefeitura de Curitiba, governo do Estado e Atlético-PR chegaram a um acordo sobre o pagamento da conta.

Apesar de a Arena da Baixada ser um estádio privado, propriedade do Atlético-PR, Estado e município concordaram em financiar um terço do custo da obra cada um. Cada uma das três partes desembolsaria R$ 61,6 milhões.

Ainda em 2013, o orçamento da reforma atingiu os R$ 265 milhões, o que começou a criar divergências entre os três pagadores da arena. Governos não queriam aumentar o valor da ajuda que prometeram ao Atlético-PR. O clube contra-atacava dizendo que o poder público demorou muito para ceder os empréstimos, o que causou a variação de preço.

Em janeiro, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, afirmou que a reforma não ficaria pronta a tempo se mantivesse seu andamento normal. Por isso, solicitou um plano de aceleração da reforma para que Curitiba não fosse retirada da lista de sedes do Mundial deste ano. Valcke espera ver melhoras na obra até 18 de fevereiro. 

Quatro meses em dois

Na manhã desta quinta-feira, 6, o consultor de estádios da Fifa, Charles Botta, visitou a Arena da Baixada. Após se reunir com o grupo que foi criado para acompanhar a obra e ver como está o andamento dos trabalhos no canteiro, Botta voltou a cobrar a aceleração dos trabalhos.

O consultor afirmou que os operários terão que terminar um trabalho que era previsto para quatro meses em apenas 60 dias. Botta voltou a pedir a contratação de mais funcionários, segundo o coordenador-geral da Copa em Curitiba, Mário Celso Cunha.

Botta quer que 1.500 pessoas trabalhem no canteiro de obras. O número deve ser alcançado apenas em março, segundo Cunha. Atualmente, 1.350 operários são responsáveis por terminar a tempo o estádio de Curitiba na Copa. 

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