De olho no cofre

Arena da Baixada: como o estádio-modelo virou o pepino da Copa?

Tiago Dantas

Do UOL, em São Paulo

Os torcedores do Atlético Paranaense costumavam se gabar de ter o "melhor meio estádio do mundo", em referência ao formato da Arena da Baixada, que só tinha arquibancadas em volta de parte do gramado. Na hora de transformá-la num estádio inteiro, os problemas começaram a aparecer. Como o estádio já estava pronto e necessitaria apenas de uma reforma, Fifa e governo federal previam que a Arena da Baixada fosse inaugurada em dezembro de 2012. Não foi o que aconteceu.

Considerada um modelo de gestão e de gerenciamento financeiro, a diretoria do Atlético-PR agora se vê pressionada pela Fifa e pelo governo federal para entregar o estádio mais atrasado entre os doze que receberão os jogos do Mundial. 

O sinal amarelo acendeu nesta terça-feira, 21. Após visitar as obras, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, deu um ultimato ao Atlético Paranaense: se as obras não avançarem de forma significativa até 18 de fevereiro, Curitiba pode ser excluída da Copa do Mundo e perder quatro jogos da primeira fase.

O UOL Esporte levantou 6 fatos que ajudam a explicar o caminho percorrido pelo estádio nos últimos anos: a Arena da Baixada deixou de ser o modelo de conforto e estrutura que a diretoria do Atlético Paranaense divulgava e passou a ser um possível entrave para a realização do mundial no Brasil.

1– Custo do estádio dobrou e emperrou a busca por empréstimos

Quando a reforma na Arena da Baixada foi anunciada, o Atlético Paranaense informou que precisaria de R$ 184 milhões para transformar o antigo estádio no palco de um jogo de Copa do Mundo. Quatro anos depois, o orçamento dobrou e, agora, chegou a R$ 369 milhões.

Questionados nesta terça-feira, Atlético-PR, Prefeitura de Curitiba e governo do Estado do Paraná não divulgaram o valor final do projeto. Após reunião com funcionários da Fifa, o governo informou que contratará uma auditoria para rever os gastos e fechar a conta.

O UOL Esporte chegou ao valor de R$ 369 milhões cruzando dados fornecidos separadamente por cada esfera governamental. O BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) financiou R$ 131 milhões. A Fomento Paraná, do governo do Estado, emprestou mais R$ 95 milhões (em três parcelas). A prefeitura liberou R$ 143 milhões por meio de títulos de potencial construtivo. Na reta final para terminar a obra, o Atlético-PR agora tem encontrado dificuldades para obter novos empréstimos do poder público. 

2– Greves e infrações causaram o atraso da reforma

Se levarmos em conta apenas o percentual de cumprimento do cronograma de obras, a Arena da Baixada é o estádio em construção mais atrasado entre os cinco campos que ainda não ficaram prontos – e era só uma reforma. A CAP/SA, empresa criada para gerenciar a obra, estima que os serviços estão em torno de 90%.

Em dezembro, cerca de 250 operários que trabalham na reforma da Arena da Baixada cruzaram os braços, alegando que não haviam recebido o salário de novembro nem o vale-refeição. A dívida foi quitada dias depois.

No início de outubro, as obras ficaram paradas por quase uma semana. Uma vistoria do Ministério Público do Trabalho encontrou 204 infrações no local e concluiu que a reforma oferecia "grave risco aos trabalhadores". A Justiça determinou a suspensão dos trabalhos até que os problemas fossem resolvidos.

A reforma da Arena da Baixada atrasou tanto que ficou atrás até de estádios que tiveram que lidar com problemas muito mais graves. O Itaquerão, por exemplo, foi palco de um acidente grave em 27 de novembro, quando um guindaste caiu sobre parte da construção derrubando uma peça da cobertura, causando a morte de dois operários. Mesmo assim, a obra chegou a 97%.
 

A Arena Pantanal também tem índice de conclusão em 90%. O estádio começou a ser construído do zero e enfrentou uma série de contestações judiciais em torno da escolha de assentos mais caros do que o de outros estádios.

3– Atlético-PR já não tem mais como dar garantias para obter dinheiro

  • Divulgação

Para conseguir a liberação de R$ 65 milhões da Fomento Paraná (a estatal já havia emprestado R$ 30 milhões), o Atlético-PR teve que se virar para encontrar ativos que pudessem servir de garantia. Foram para a penhora o CT do Caju e os direitos de transmissão dos jogos na TV Globo até 2018. 

Além de ser frequentemente citado como exemplo da organização do clube, o CT do Caju deve ser a casa da seleção espanhola durante a Copa do Mundo.

 

4– Engenharia financeira usa dinheiro público como garantia

A reforma da Arena da Baixada usa dinheiro público como garantia para tomar empréstimos de mais dinheiro público. O Atlético utilizou parte dos R$ 143 milhões fornecidos pela Prefeitura de Curitiba por meio dos títulos de potencial construtivo para conseguir um dos empréstimos da Fomento Paraná.

O potencial construtivo é uma ferramenta de política urbana prevista no Estatuto das Cidades. Se um construtor quer fazer um prédio mais alto do que permite o zoneamento de determinado bairro, ele paga uma taxa extra à prefeitura. Curitiba aprovou uma lei que permite que o dinheiro arrecadado com parte desses títulos seja destinado à obra.

 

 

5– Falta de diálogo entre clube, governo e Fifa

Após a visita da comitiva da Fifa, nesta terça-feira, a diretoria do Atlético Paranaense não compareceu à coletiva de imprensa em que foram expostos os problemas na reforma. Coube aos representantes dos governos locais explicarem que medidas serão adotadas para evitar que Curitiba seja excluída da Copa do Mundo.

6– Clube não quis parceria com iniciativa privada

  • Reprodução

Em julho de 2011, os conselheiros do Atlético Paranaense poderiam escolher três propostas para a reforma do estádio. A construtora OAS e a empreiteira Triunfo apresentaram, cada uma, um modelo econômico em que fariam a obra e, em troca, teriam o direito de administrar o estádio por algumas décadas.

O conselho preferiu, porém, a proposta articulada pelo cartola Mário Celso Petraglia, que previa que o clube iria atrás do financiamento para tocar a reforma. Em contrapartida, não teria que dividir os rendimentos futuros.

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