Passe livre triunfa em 5 sedes da Copa. Mas não é do jeito que você pensa
Tiago Dantas
Do UOL, em São Paulo
Ao menos cinco cidades que serão sede da Copa do Mundo vão oferecer transporte gratuito para os torcedores. O espectador só precisa apresentar o ingresso do jogo e estará autorizado a entrar de graça em ônibus ou trens.
Mas, como diz o ditado, não existe almoço grátis. A conta dos ônibus precisa ser paga e, mesmo que algumas prefeituras estejam negociando com as empresas de transporte, vai acabar sobrando para o contribuinte.
Terão direito ao transporte gratuito torcedores que forem assistir aos jogos em Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Cuiabá, Natal e Fortaleza. Em geral, a gratuidade cobre apenas os deslocamentos para os estádios.
Outros municípios ainda não se decidiram. Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Manaus informaram que estão trabalhando no detalhamento dos respectivos planos de transporte e que devem se posicionar sobre a tarifa em breve.
Apenas três sedes, até o momento, se negaram a oferecer o benefício pedido pela Fifa. São Paulo, Recife e Distrito Federal disseram não à gratuidade. Os voluntários, recrutados pelo governo federal, que trabalharão durante a Copa, no entanto, terão direito a se deslocar sem pagar.
Políticos ouvidos pelo UOL Esporte avaliam que oferecer transporte gratuito para os torcedores, ainda que seja em linhas especiais planejadas para o período, pode servir de combustível para os protestos contra a Copa do Mundo, que recomeçaram em 25 de janeiro.
Eles lembram que o aumento da tarifa do transporte público esteve no centro das manifestações de junho de 2013. Os protestos deste ano reclamam, entre outras coisas, dos benefícios concedidos pelo governo à Fifa e suas parceiras.
O contrato assinado entre a Fifa e as cidades-sede não fala em obrigação de transporte gratuito. A cláusula 22, que trata a questão, diz que a cidade deve "desenvolver e implementar, às suas próprias custas, um plano para gerenciamento de transportes durante a competição."
Por plano, entende-se o planejamento de ações para viabilizar os deslocamentos. As palavras "às próprias custas", inclusive, foram adicionadas em uma alteração do contrato assinada em março de 2011 – o texto original era de fevereiro de 2009.
Gratuidade é garantida pro lei no Rio
No Rio de Janeiro, a lei 6363, sancionada pelo governador Sérgio Cabral em 19 de dezembro de 2012, garante o transporte gratuito para torcedores com ingresso "quando necessitarem do transporte público intermunicipal ou do transporte no sistema de metrô, trens e barcas, para deslocamento para os jogos realizados no Estado do Rio de Janeiro". A Prefeitura não informou se vai colocar ônibus à disposição dos torcedores.
Em Fortaleza, o esquema já foi adotado na Copa das Confederações. A Prefeitura da cidade informou que o acesso ao estádio será feito "exclusivamente por transporte coletivo, sejam as linhas regulares, bem como fretes organizados pelos torcedores." Os coletivos devem passar por bolsões de estacionamento, zona hoteleira e aeroporto.
Belo Horizonte também deve repetir a experiência da Copa das Confederações. Os ônibus "sairão de terminais localizados em diferentes pontos da cidade, conhecidos como Terminais Copa, para levar os torcedores ao Mineirão e trazê-los de volta após os jogos", de acordo com a prefeitura.
A Prefeitura de Cuiabá informou que está negociando um acordo com empresários do setor para não arcar sozinha com os custos do transporte gratuito. Natal também confirmou que vai abrir mão da tarifa para os torcedores.
São Paulo comunicou à Fifa a decisão de não se responsabilizar pelo transporte gratuito de torcedores durante a visita do secretário-geral da entidade à cidade em 13 de janeiro. O prefeito Fernando Haddad (PT) disse que não via obrigação para conceder o benefício e se negou a colocar ônibus à disposição dos espectadores dos jogos.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB), responsável por trens e metrôs, também entendeu que a medida não seria interessante. Além disso, para que a gratuidade tivesse validade, seria necessário aprovar um projeto na Assembleia Legislativa e a avaliação do governo é que não há mais tempo suficiente para isso.