Policiais que balearam manifestante em SP são de área administrativa da PM

Tiago Dantas

Do UOL, em São Paulo

Os policiais que balearam o estoquista Fabrício Proteus Chaves, de 22 anos, após o protesto contra a Copa do Mundo ocorrido no sábado, 25, fazem serviço administrativo na corporação e, portanto, não vão para a rua com frequência. A informação foi confirmada pelo ouvidor das polícias do Estado de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves.

"Não estou falando que esses policiais não são treinados para atuar em momentos como esse. Mas atualmente eles estavam fazendo serviços administrativos. Que isso compromete [a atuação deles], compromete", afirmou Neves, em entrevista ao UOL Esporte.

"O policiai que está na rua continua sendo treinado constantemente para não errar na hora da adrenalina. A PM trabalha com o método Giraldi, que prevê uma série de procedimentos antes de atirar. Todo policial faz esse treinamento. Mas quem não está na rua sempre, acaba ficando longe desse método", continuou. "O que acontece? Atira sem necessidade."

Neves pretende levar a informação para a Polícia Civil e para o Ministério Público, que apuram o caso. Segundo o ouvidor, embora estivessem escalados para fazer serviços burocráticos na PM, os policiais foram chamados para reforçar o efetivo policial durante os protestos de sábado. 

Procurada na tarde desta quinta-feira, a PM não respondeu até a publicação desta reportagem.

Remédios

Neves visitou o jovem atingido pelos policiais na manhã desta quinta-feira, 30. Chaves continua internado, mas já saiu da UTI (Unidade de Terapia Intensiva). O quadro clínico é estável, mas os médicos ainda não revelaram se a abordagem policial deixará alguma sequela.

Nesta manhã, o manifestante seria ouvido por policiais militares que apuram a conduta dos colegas na noite de sábado. O médico que acompanha Chaves desaconselhou o depoimento, alegando que o jovem está tomando muitos remédios para suportar a dor, entre eles um medicamento à base de cloridrato de tramadol, que podem causar alterações de memória e dificuldades cognitivas. 

Segundo o ouvidor das polícias, o jovem também estava tomando esses remédios na terça-feira, 28, quando foi ouvido pelo delegado responsável pelas investigações da Polícia Civil. "Pelo o que o médico falou, esse medicamento pode atrapalhar o depoimento. Tanto que após suspender a medicação, ele recomenda esperar 24 horas até que sejam tomadas as declarações do Fabrício."

Ao conversar com o jovem, o ouvidor das polícias ouviu uma versão diferente daquela mantida pela PM. Chaves contou que só fugiu dos policiais porque foi agredido. "Ele disse que, na fuga, tentou até ser atropelado, para não apanhar mais", relata Neves. Ainda de acordo com o ouvidor, o jovem alega que só tirou o canivete da bolsa depois que um dos policiais atirou. 

Já os policiais militares afirmam que só atiraram depois que o manifestante tentou agredi-los com o estilete. Além disso, a PM alega que o jovem portava materiais explosivos na bolsa.

 

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